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RELATÓRIO - Reunião 22/03/2018 - Textos do “Jovem Gramsci” - Tema: a questão meridional.


Relatório – Reunião 23/03/2018

Tema: a questão meridional


  • TEXTO – GRAMSCI, A. “Alguns temas da questão meridional”. In: Escritos Políticos V.3. Lisboa: Seara Nova, p.171-197.


1. Trata-se de um texto de polêmica. Gramsci enfrenta aqui os autores de um periódico chamado Quarto Stato, que rechaçam a política do PCI para a Itália meridional rural como uma “solução mágica. Gramsci trata aqui de apontar que a opinião em tese rechaçada apresentada pelos “jovens” do Quarto Stato é uma simplificação - ou mesmo um espantalho - da posição do PCI. É interessante notar aqui que existe uma visão na linha do Partido que a revolução acontecerá apenas onde existe indústria, ou seja, no norte da Itália, e que a partir da conformação do Estado operário no Norte, os operários estarão em condição de realizar ações de solidariedade para com a situação do campesinato. Fica expressa assim uma proposta de aliança operária e camponesa.


2. Nesse sentido, Gramsci aponta para a questão da Hegemonia Proletária, ou seja, aclasse operária não só como sujeito da revolução mas como ator histórico apto a enfrentar todas as questões pertinentes à superação das contradições do capitalismo na sociedade italiana. Nesse momento, ele estabelece que a expressão histórica dos conflitos rurais da Itália possuem duas formas: a questão meridional e a questão vaticana.


3. Gramsci discute então o enunciado da ideologia burguesa que é oferecida como explicação para a questão da desnível regional entre o norte e sul da Itália. Os pontos principais desse discurso seriam questões biológicas e culturais, de cunho lombrosiano e racista, estabelecendo que os sulistas não estariam aptos nem seriam propensos ao desenvolvimento econômico ou à lógica industrial.


4. Candidatura de Geatano Salvameni se manifesta como uma primeira experiência da política de aliança entre o proletariado e o campesinato, apesar de não ter se concretizado. A presença de Mussolini no quadro também levanta uma aparência de falta de clareza política do que se entendia enquanto a linha política de Gaetano tanto frente aos comunistas quanto ao próprio Mussolini, porquanto tivessem críticas comuns aos mesmos grupos.


5. O feito na plenária da Associação de Jovens da Sardenha, indicando o êxito dos comunistas ao propor como contra-relatório a aliança operária e camponesa em relação a um compromisso de caráter regional, parece apontar não só para a correção da política na visão de Gramsci mas também para a validade da análise que enseja a referida política.


6. Gramsci indica que qualquer incorporação da gestão operária a uma unidade produtiva que permaneça sob controle da burguesia é uma forma de incorporar direções da classe trabalhadora ao projeto burguês de sociedade. Comenta também que essa nova forma de operar da burguesia se deve à resistência das classes proletária e campesina contra uma forma mais violenta de controle. Assim, a burguesia opta por propor uma aliança ao proletariado, organizando uma pacto social que proporcionasse esse acordo. Esse movimento desembocará na crise do movimento operário italiano e no surgimento de lideranças reformistas.


7. O exemplo do conflito em Reggio Emilia é dado - a meu ver- como exemplo da maturidade política alcançada pelo operariado setentrional em relação ao seu papel de direção na luta de classes dentro do ringue da Itália. Essa maturidade seria aquilo que promoveria a aceitação da linha comunista em detrimento do reformismo propagado no local.


8. O autor identifica 3 estratos sociais na sociedade do mezzogiorno: o campesinato amorfo, os intelectuais e os grandes proprietários de terra. Estabelece o domínio inequívoco do terceiro grupo sobre os dois primeiros.Observa que o tipo de intelectual proveniente da região sul é próprio das sociedades rurais, no qual o intelectual cumpre a função de funcionário estatal. É uma observação que, isolada,agradaria em muito setores do liberalismo brasileiro.


9. A dificuldade de Gramsci em explicar as especificidades da Sicília é muito chamativa. Ele identifica a ilha como uma região mais avançada no cenário meridional, mas não aponta para os motivos ou mesmo implicações do fato.


10. Aponta que um determinado setor da intelectualidade italiana como organizador da classe rural proprietária. Enumera iniciativas políticas destes intelectuais e aponta que a principal função destes é manter a coesão do bloco. Benedetto Croce é apontado como responsável por barrar a identificação dos intelectuais meridionais com o campesinato.


11. Encerra por propor que a solução da questão meridional passa pela capacidade do operariado de organizar setores camponeses não só para sua política, mas também para suas organizações, ações e táticas revolucionárias.






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