RELATÓRIO - Reunião 28/03/2019 - "História e Consciência de Classe", Georg Lukács (Consciê
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Relatório – Reunião 28/03/2019
Tema: Consciência de Classe
LUKÁCS, Georg. Prefácio (1967). História e Consciência de Classe: estudos sobre a dialética marxista. Trad. Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (p. 156-191)
Início no Item 3 do texto (p. 156)
A consciência de classe da pequena burguesia
1. A burguesia e o proletariado são as únicas classes puras da sociedade, pois sua existência e evolução baseiam-se exclusivamente no desenvolvimento do processo capitalista de produção. As demais classes (pequena burguesia, campesinato) estão ligadas a vestígios de sociedades anteriores. Assim, não procuram “promover a evolução capitalista ou superar a si mesmas, mas em geral, reverter essa situação ou, pelo menos, impedi-la de chegar ao seu pleno florescimento. (p. 156)
2. Isso significa que apenas burguesia e proletariado orientam-se em função da evolução da sociedade, da construção da sociedade como um todo. E apontam direções opostas para tanto na luta de classes. A pequena burguesia tanta atenuar essa oposição e só desempenha papel ativo na história quando seus objetivos coincidem com os interesses econômicos das classes reais do capitalismo (p. 157)
3. Não existe entre os pequenos proprietários camponeses um elo no plano nacional ou uma organização política, por isso eles não forma uma classe. Assim, não tomam uma direção positiva conforme seus próprios interesses, mas dependem da situação de outras classes em luta e do nível de consciência dos partidos que os dirigem para que seus movimentos tenham um sentido progressista (p. 158-159)
4. Assim, não se pode falar propriamente de consciência de classe para esses setores, pois “uma plena consciência de sua situação lhes revelaria a ausência de perspectivas de suas tentativas particularistas diante da necessidade de evolução. Consciência e interesse se encontram, portanto, numa relação recíproca de oposição contraditória”(p. 160).
Observação 1:a sensação que dá ao ler o texto é que a consciência das classes é fruto natural da “evolução” social propiciada (ou “adjudicada”) pelo capitalismo e que ela é sinônimo de “compreensão da totalidade da sociedade”.
Observação 2: as classes “intermediárias” seriam resquícios de sociedades anteriores e não fruto das contradições do próprio capitalismo.
Observação 3: ele trata classes intermediárias como resquícios, como se elas não fossem criadas e recriadas pela divisão social do trabalho, pelo modo de produção capitalistas. Se elas fossem resquícios desapareceriam, mas estão sempre se repondo.
Observação 4: pensar o campesinato como um “resquício” pode até fazer sentido. Mas em relação à pequena burguesia, uma construção pensada a partir das determinações do modo de produção anterior não faz sentido. Não é um “legado”, é uma contradição desse modo de produção.
Observação 5: nesse capítulo ficou mais manifesta a posição do Luckács sobre o que é consciência: é tratada como percepção e não como uma prática. Para o autor, a prática ideológica tem como consequência a percepção. Marx em A Ideologia Alemã ressalta, ao falar do trabalho intelectual, que ideologia não é pensar, mas é uma prática política superestrutural, que tenta dar conta de determinadas contradições da realidade. Para Luckács a percepção como consciência é um ponto de vista individual, do indivíduo inserido nessas estruturas. Levando esse ponto de vista adiante é como se sua leitura estivesse influenciada pela leitura de um sujeito individual, como se a ideologia fosse a própria“lente” do autor. De um lado a matéria, de outro a consciência (aspecto subjetivo). Isso fica bem evidente nesse capitulo. Ter consciência de classe parece ser saber fazer corretamente a leitura da totalidade da sociedade e ter consciência de suas contradições. É ter essa percepção estendida a uma classe.
Observação 6: o esforço do autor é de afastar o debate da psicologia. Isso não seria retirar a percepção de cena? Talvez ele saia da psicologia individual pra uma espécie de psicologia social.
Observação 7: de fato ele tenta fazer isso ao falar de interesse de classe como algo objetivo, produzido pelas contradições do modo de produção. Mas em determinados (ou todos) momentos, ao falar da consciência como mera percepção ele acaba optando por conceito ruim de ideologia – como interesse de classe. Assim, ele não consegue sair desse problema.
Observação 8: ele criou uma armadilha da qual não consegue sair. Mas nesse texto ele parece ir mais longe do que foi em outros textos, ele flerta com questões que o levam mais longe, embora não as desenvolva até o final. Talvez por influencia do“pecado” hegeliano.
Observação 9: ele desenvolve o debate proposto de forma muito melhor que os lukacsianos que vieram depois dele e buscaram desenvolvê-lo. Mesmo os problemas que vão ser exacerbados nos seus seguidores posteriormente, são reconhecidos pelo autor, que tenta escapar deles. Mas depois essa consciência dos problemas é abandonada. Esse fim de capítulo mostra que ele não tem uma clara ideia do que é consciência. Sabe que não é uma coisa psicológica individual mas também não sabe o que é.
A consciência de classe da burguesia
5. Na burguesia a consciência de classe e o interesse de classe também se encontram numa relação de oposição, porém dialética (não contraditória). Posteriormente Luckács afirma que, no caso da burguesia, a consciência que nasce da situação que ocupa no processo de produção e dos interesses dela decorrentes, a leva a uma contradição insolúvel consigo mesma, que é de suprimir a si mesma no auge de seu desenvolvimento, pois sua libertação do feudalismo converteu-se numa nova opressão. Por isso, a burguesia tenta fazer desaparecer da consciência social a luta de classes, embora sua “forma social tenha feito aparecer pela primeira vez a luta de classes de maneira pura e embora ela tenha pela primeira vez estabelecido historicamente essa luta. (p. 160)
Observação 10: o autor faz uma diferença entre contradição e dialética. Seu conceito de dialética não abrange os efeitos das determinações específicas. Como considera essas classes um resquício do modo anterior, ele entende que não possuem determinação histórica, não têm influência porque não têm base material. Ou seja, tenta fazer uma leitura a partir do materialismo histórico. Mas fez mal, pois o conceito de “contradição” vira banal para o leitor (embora para ele não seja). Existe um problema conceitual. Além disso está fora da análise a luta de classes.
Observação 11: o 18 de Brumárioao falar do resultado do campesinato e das classes intermediárias desdiz o Luckács. Outro ponto é que o que ele chama de contraditório é igual a incongruente, que não faz sentido, que não deveria existir. E isso não cabe dentro da investigação da dialética. Isso parece com o tipo kantiano, que trabalha com antinomias, com questões que são congruentes, incongruentes e se excluem. Na dialética as coisas podem ser opostas e se terem origem comum, se moverem em relação. Do jeito que está posto parece que existe uma dialética sem contradição. Entendemos do texto que “esse antagonismo não é contraditório, mas dialético”. Ou seja, algo que é dialético não é contraditório (mas antagônico).
Observação 12: temos que separar a interpretação sobre se a consciência das classes intermediarias é contraditória do fato de ser possível existir contradições dialéticas e não dialéticas. Para Marx e Hegel existem esses dois tipos de contradição. O problema está em observarmos se essas classes intermediarias estão fora da dialética capital x trabalho ou se são resquícios. Má compreensão da situação do camponês.
Observação 13: é uma compreensão de que tem elementos dessa sociedade presente que estão fora das determinações do capitalismo. E as classes“puras” são dialéticas porque levam à evolução (concepção bastante bem hegeliana e idealista) do desenvolvimento histórico.
Observação 14: Marx, nas Teorias da Mais Valiatrata como certa anomalia o trabalhador que emprega a si mesmo (pequena burguesia; “empreendedor”), face à grande polarização capital x trabalho. A pequena propriedade tem sim um certo deslocamento da sociedade, mas não quer dizer que está fora das contradições que a sociedade produz. Mas se em algum momento esse debate de resquíciosfez sentido, hoje não faz.
Observação 15: num momento em que o capitalismo não alcançou seu pleno desenvolvimento podia fazer sentido a possibilidade de se supor o fim da pequena burguesia e restar apenas o proletariado e a burguesia. Hoje é absurdo falar nisso.
6. As contradições da sociedade capitalista se refletem sobre a consciência da classe burguesa. Se por um lado, tendo a organização produtiva capitalista se imposto sobre toda a sociedade, a posição da burguesa na produção permitiria que ela estivesse capacitada a possuir uma consciência da totalidade do processo de produção, por outro, “a posição que a classe dos capitalistas ocupa na produção e os interesses que determinam sua ação fazem com que lhe seja impossível dominar, mesmo teoricamente, sua própria organização produtiva”. (p. 161)
Observação 16: isso lembra a leitura d´O Capital, em que pensamos “se eu fosse um capitalista eu leria O Capital para entender como organizar melhor a exploração da produção”!Mas a questão é, o capitalista pode entender, mas é incapaz de produzir O Capital.
Observação 17: Mas o capitalista não acha que está explorando, então ele não vai achar que a obra é útil para ele.
Observação 18: sobre o ponto 6, o estado burguês não seria a tentativa da burguesia de organização da sua forma produtiva? Esse ponto é muito preciso nesse sentido de compreensão da consciência não psicologizante.
Observação 19: Mas temos que entender o que é “dominar a organização produtiva”. O burguês não pode resolver as contradições. O estado é a tentativa permanente e reinventada de dominação da produção. Sempre jogando para a frente e potencializando essas contradições, e até quando isso será possível não se sabe. É uma espécie de não solução de longo prazo que aparece sempre como provisória.
Observação 20: o problema é que, na posição que eles estão, toda vez que tentarem resolver é insolúvel. Se alcançarem a totalidade vão ver que não tem solução.
Observação 21: essa tentativa de solução (errada) é posta num nível nacional, e haveria a necessidade de um estado mundial por conta da mundialização das relações capitalistas.
Observação 22: afirmação do proletariado enquanto classe envolve sua negação enquanto classe pranegação de todas as classes.
7. O motivo disso encontra-se no fato de o capital ser um poder social, “cujos movimentos são dirigidos pelos interesses individuais dos proprietários de capital, que não visualizam a função social da sua atividade e não se preocupam com ela, de modo que o princípio e a função social do capital só podem ser realizados de maneira inconsciente, sem a sua decisão e contra sua vontade”. (p. 162)
Observação 23: este trecho destoa da sensação de uma concepção evolucionista da história verificada anteriormente em outros trechos.
8. Assim, embora aja como classe no desenvolvimento econômico objetivo da sociedade, só pode tomar consciência do processo de desenvolvimento que ela efetua “como um processo exterior, submetido a leis e que ela só pode experimentar de modo passivo”. (p. 163)
9. O “mistério impenetrável” das relações capitalistas é que elas se encontram limitadas objetivamente pelo próprio capital. E reconhecer isso significaria a autonegação da consciência de classe da burguesia. (p. 164)
10. Os limites econômicos do sistema, expressos nas crises, são inapreensíveis pela burguesia que vive a contradição interna e dialética em sua consciência entre o indivíduo capitalista e o processo ‘natural’ e inevitável de desenvolvimento. (p. 165)
11. Mas, quando se passa ao plano da prática, essa incapacidade de enxergar as “forças motrizes” por trás da superfície dos fenômenos, não pode ignorar a existência do proletariado e a luta de classes. Isso faz com que a burguesia seja impelida a uma posição defensiva. (p. 166)
12. Como a burguesa aspira à dominação, a organizar toda a sociedade conforme seus interesses, ela criou uma doutrina para tornar consciente em si a crença de sua vocação para essa dominação e organização. Assim, em cada questão particular ela precisa adquirir absoluta consciência de seus interesses de classe, mas sem deixar que a consciência se estenda para a questão da totalidade, pois seus interesses são interesses de uma minoria que se funda na ilusão de que se tratem de interesses gerais. (p. 167)
Observação 24: Luckács aponta exemploscomo o Estado acima das classes, a justiça imparcial, etc. Assim, traz elementos interessantes mas não os desenvolve. Outra questão: sobre a falsa consciência da burguesia, ela não “lê” a totalidade para não se denunciar.Observação 25: apesar de ser hegeliano ele se inspira muito em Lenin, e mostra algumas influencias de seu pensamento.
Observação 26: interpretar essa questão como “a classe burguesa não pode entender a totalidade” significa que isso pode acontecer individualmente mas não pode se tornar uma prática social. Mas Luckács deixa uma “margem”pra cairmos na ideia de se tratar de algo psicologizante. O interesse individual do proprietário do capital é o interesse do capital, e não pessoal. O capitalismo, enquanto prática social, é a incorporação do capital. Deveria ter ressaltado isso.
Observação 26: esse “problema” posto acima (sobre a incorporação no indivíduo dos interesses do capital) persegue O Capital. E isso inclusive aparece emMarx ao tratar de concorrência. O capitalista individual é incorporação do capital, mas na vida real as coisas se movem pelo que cada um vai fazendo. E o sentido de “prática social” vem dessa “soma”. O que faz essa multiplicidade de atuações virarem um sentido de prática social?
13. A existência da burguesia vive uma crise. “De um lado, a esterilidade sem fim de uma ideologia apartada da vida, de uma tentativa mais ou menos consciente de falsificação; do outro, o ermo igualmente assustador de um cinismo que defende apenas seu puro interesse egoísta”. Por isso, sentencia Luckacs que ela se encontra acuada numa posição defensiva e que perdeu irremediavelmente a força de condução. (p. 170)
Observação 27: podemos perceber que Luckácsestá realizando uma disputaprafazer do materialismo histórico uma ciência de leitura da realidade.
Item 4 do texto
Missão histórica do proletariado e o materialismo histórico
14. A burguesia e proletariado são classes necessariamente correlatas e no combate pela consciência o materialismo histórico tem um papel decisivo pois nos permite compreender que “a mesma compreensão crescente da essência da sociedade (...) se reflete na lenta agonia da burguesia” enquanto “tem para o proletariado o sentido de um crescimento contínuo de poder”. “Para o proletariado, e somente para o proletariado, uma noção correta da essência da sociedade é (...) a arma decisiva”, pois ele constituia “essência das forças motrizes” e pode “influenciar o centro do processo social de desenvolvimento” (p. 170-171)
Observação 27: toda ciência seria supérflua se essência e aparência coincidissem. E só a leitura científica do proletariado nos permite ver que só o proletariado é capaz de revelar a essência.
15. Os marxistas vulgares, ao se distanciarem desse ponto de vista central - que representa a superioridade do proletariado face à burguesia - assumem a consciência da burguesia e obstruem a ação decisiva do proletariado para o desenvolvimento social. (p. 172)
16. “Desde que a crise econômica final do capitalismo entrou em cena, o destino da revolução (e com ela o da humanidade) depende da maturidade ideológica do proletariado, da sua consciência de classe”. (p. 174)
17. “Assim é definida a função única da consciência de classe para o proletariado, em oposição à sua missão para outras classes. Justamente porque é impossível para o proletariado libertar-se como classe sem suprimir a sociedade de classes em geral, sua consciência, que é a última consciência de classe na história da humanidade, deve coincidir, de um lado, com o desvendamento da essência da sociedade e, de outro, tornar-se uma unidade cada vez mais íntima da teoria e da práxis. Para o proletariado, sua ideologia (...) é a finalidade (...) por excelência” (p. 174-175).
Observação 28: Aqui consciência é igual a ideologia, e é esse o objetivo do proletariado e sua “força motriz”.
Observação 29: essa supressão geral das classes é o espírito de Hegel. Você sai do “nada”, chega à consciência dos interesses, chega à verdade. Quando dissipar a consciência você chega ao nada (final) novamente; um “nada” esclarecido. Percurso histórico da consciência é o espírito absoluto.
Observação 30: mas novamente dá a entender que esse percurso é ideológico (no sentido de no plano das ideias) e não uma prática social.
Observação 31: ideologia aparece como um conjunto de ideias. É como se existisse a da burguesia e a do proletariado, cujo objetivo é desenvolvê-la.
Observação 32: esse trecho traz a ideia messiânica de uma crise terminal do capitalismo. Talvez por excesso de entusiasmo com a revolução russa.
Observação 32: talvez o conceito de ideologia utilizado tenha um sentido leninista. De ideologia burguesa ou proletária.
Observação 33: ele não coloca a questão da prática e organização, mas como ele não coloca parece só uma questão no plano das ideias.
Observação 34: ideologia é um dos termos mais problemáticos da literatura marxista. No trecho “toda tática proletária sem princípios rebaixa o materialismo histórico a mera ‘ideologia’” (p. 174) não fica claro sua definição. É como se a ideologia do proletariado não fosse uma ideologia. Qual a relação da ideologia com a consciência? Enfim, usa conceitos de formas diferentes ao longo do texto.
Observação 35: “mera ideologia” é conjunto de ideias sem finalidade. Inclusive ele usa aspas em ideologia.
Observação 36: ao falar do economicismo (das lutas econômicas) ele parece fazer um debate entre a questão do espontaneísmo versus necessidade de uma consciência (leninista).
Item 5 do texto
A consciência de classe do proletariado
18. A reificação capitalista faz com que a “unidade rigorosa” da sociedade e “seu processo de desenvolvimento” não sejam “dados à consciência do homem como unidade”. Essa cisão tem impactos na consciência de classe do proletariado na divisão da luta política e econômica. (p. 175)
19. Nas sociedades anteriores havia uma inadequação da consciência das classes “chamadas a dominar” com a estrutura econômica objetiva. Assim, bastava que lutassem para impor seus interesses imediatos para exercerem sua função no processo de desenvolvimento social. Mas o proletariado tem a tarefa de transformar conscientemente a sociedade, o que faz surgir a “contradição entre seu interesse imediato e o fim último, entre o fator individual e a totalidade”. Suas exigências imediatas e concretas são imanentes ao capitalismo, e é somente quanto apontam para além do capitalismo é que se tornam revolucionários. (p. 176)
Observação 37: ideia de “inadequação” que remonta à noção da contradição entre forças produtivas e relações de produção como motor da história. Mas, contudo, ainda, ao se chegar ao capitalismo essa contradição sai da “concretude” e se inscreve na consciência, dando a entender que a tomada de consciência da totalidade social por parte do proletariado é o elemento para “sanar” essa contradição. Ou seja, a superação do capitalismo não é entendida como uma transformação “concreta” dirigida pelo proletariado, mas uma adequação deste à situação concreta existente, passando a dominá-la (e não necessariamente transformá-la estruturalmente).
Observação 38: existe essa tensão permanente no texto entre a ideia de contradições concretas e contradições no plano da consciência.
Observação 39: o autor parece trazer a ideia de que as “condições objetivas estão dadas, só faltam as subjetivas”. Parece desenvolver uma tentativa de explicar filosoficamente o Lenin (sua teoria da ação política), mas é hegeliano (e a torna idealista). Talvez o problema é que ele pega o Lênin(teoria da práxis) e tenta criar uma espécie de norma geral para o proletariado. Pega a política e tenta tirar uma teoria da filosofia políticageral.
Observação 40: mas não podemos deixar de ter clareza de que a consciência tem desdobramentos concretos.
Observação 41: se no prefácio não falasse da disputa com o Bela Kun não seria possível entendermos que existe um debate sobre o qual Luckács se posiciona, pois o faz de forma bem abstrata. As obras de Lênin e Rosa, por exemplo são hierarquizadas pelas polêmicas. Talvez fosse necessário entender a dinâmica do partido húngaro, porque sabemos o bolchevique (ao menos até a burocratização) era marcado por muitos debates e disputas políticas. Talvez trate-se de um partido mais fraco, com ausência de dinâmica de debate político constante. E isso permitiria a Luckács não se prender a polêmicas mais concretas e permanecer no plano da abstração.
Observação 42:essa parte do texto nos remete ao prefácio, quando Luckács fala de seu messianismo. Do ponto de vista hegeliano a filosofia não indica o que fazer, mas o que foi. O que vai ser feito não cabe a ela. Para Marx, quando ela se realiza, ela deixa de ser filosofia. Se a pretensão do autor é dar uma “normatividade” de como agir, necessariamente ele vai cair no idealismo. Enquanto Lênin, ao fazer isso tratando do caso concreto fica muito mais próximo do marxismo.
Observação 43: a filosofia do marxista é do plano do ser/fático e não dever ser/normativo.
20. Assim, essa oposição dialética – que antes encontrava-se externa à consciência – “é transferida para a própria consciência do proletariado”. Assim, “a vitória revolucionária do proletariado não é, portanto, como para as classes anteriores, a realização imediata do ser socialmente dado da classe, mas, como já reconhecera (...) Marx, é seu auto-aniquilamento”. (p. 177)
21. Luckács traz uma tese defendida por Engels de que “na ‘falsa’ consciência do proletariado e nos seus erros reais há uma intenção orientada para o verdadeiro”, ou que, na sua inexatidão econômica pode ocultar-se um conteúdo econômico verdadeiro. É intensificando o caráter consciente do proletariado, pela autocrítica, que surge o conhecimento efetivamente verdadeiro. (p. 178)
22. Opera-se uma “cisão dialética” na estrutura da consciência quando a solução apontada pelo proletariado, por meio de sua ação consciente, aponta para além do capitalismo. É a “superação interna dessa cisão dialética que possibilita a vitória exterior do proletariado na luta de classes” pois permite compreender “o sentido, que se tornou consciente, da situação histórica da classe”. (p. 179)
23. O avanço da crise econômica capitalista permite que a unidade do processo econômico se manifeste de forma cada vez mais palpável e torna “objetivamente possível” que o proletariado dê “o passo” que seu destino lhe impele. Trata-se de uma necessidade sentida cada vez mais instintivamente por amplas camadas do proletariado. (p 182)
24. A “consciência de classe ‘autêntica’” seria esse “passo”, de assumir nas mãos a condução da história e mostrra a saída para a crise do capitalismo. Para isso, o proletariado tem de se tornar uma classe não apenas “em relação ao capital”, mas “para si mesmo”. “Isto é, elevar a necessidade econômica de sua luta de classe ao nível de uma vontade consciente, de uma consciência de classe ativa” (p. 183-184)
Observação 43: é preciso questionaro rótulo“idealista” da perspectiva do autor. Aqui ele mostra a consciência como algo que não é algo tão espontâneo, mas como processo. Não é algo que “brota”, mas fruto da teoria, do esforço para conhecer, da “autocrítica”, etc. Aqui ele parece estar mais próximo de Lênin do que de uma “lei geral”.
Observação 44: talvez essa ideia de “vontade” que nos dê essa impressão.
25. Contudo, “como produto do capitalismo”, o proletariado está necessariamente submetido às formas de existência do seu produtor. Essa forma de existência é a inumanidade, a reificação. Decerto, por sua simples existência, o proletariado é a crítica, a negação dessas formas de existência. No entanto, até que a crise objetiva do capitalismo se complete, até que o próprio proletariado tenha adquirido uma visão completa dessa crise e a verdadeira consciência de classe (...) não é capaz de (...) aspirar à totalidade” e, portanto, “não consegue de modo algum ultrapassar o que nega, como o demonstra, por exemplo, o caráter pequeno-burguês da maior parte dos sindicalistas” (p. 184-185)
Observação 45: Fala do “poder não superado das formas de vida capitalistas sobre o próprio proletariado” - aqui parece se aproximar da noção de formas sociais como elementos que determinam a consciência do proletariado e, portanto, não lhe permite “ultrapassar o que nega” (p. 185).
Observação 46: a nossa oscilação na leitura é esclarecida por Luckcs no prefácio ao tratar de o proletariado (que é objeto) se tornar sujeito (alcança consciência sobre si mesmo). Sua posição messiânica se esclarece pela ideia de consciência adjudicada (que parece Lênin – teoria do partido), mas de onde vem essa consciência ele não sabe. Ora ele está num certo idealismo, ora ele está sendo bem materialista.
Observação 47: ao questionar o marxismo vulgar ele está tentando empregar cientificidade ao marxismo.
26. Assim, o sentido da tomada de consciência de classe está em suprimir a distância entre a “consciência de classe psicológica e o conhecimento adequado do conjunto da situação” (p. 189)
27. Por fim, Luckás afirma que “a teoria objetiva da consciência de classe é a teoria de sua possibilidade objetiva”, e que, portando “a questão da transformação interna do proletariado, do seu desenvolvimento em direção ao nível de sua própria missão histórica e objetiva” – que caracteriza como uma “crise ideológica” – só será resolvida “com a solução prática da crise econômica mundial”. (p. 189-190).
28. Aponta que a existência de conselhos operários revolucionários nos processos revolucionários existentes demonstra que “a consciência de classe do proletariado está prestes a superar vitoriosamente o caráter burguês de sua camada dirigente”. (p. 190).
29. Conclui o texto afirmando que “O proletariado se realiza somente ao negar a si mesmo, ao criar a sociedade sem classes levando até o fim a luta de classes. A luta por essa sociedade, em que a ditadura do proletariado não passa de uma fase, não é uma luta somente contra o inimigo exterior, a burguesia; é também, ao mesmo tempo, a luta do proletariado consigo mesmo: contra os efeitos devastadores e aviltantes do sistema capitalista sobre sua consciência de classe”. (p. 191)
Observação 48: em que pese trazer um aspecto muito importante da luta de classes, segue circunscrevendo-a ao plano da consciência, desconsiderando a materialidade que a determina.Observação 49: o autor parece pegar a ideia de vanguarda do Lênin como se fosse algo extensível para o proletariado como um todo; pela forma como ele coloca peso na consciência sem necessariamente estar no processo de luta. Esse avanço da vanguarda possível à vanguarda em luta, masextendida para todo o proletariado.
Observação 50: nesse item 28 Luckács se afasta do Lêninporque, quanto aponta que os conselhos operários vão levar à superação da consciência burguesa, não era dessa forma que o Lênin entendia, nem a revolução russa indicava (sovietes foram dirigidos pelos mencheviques, por exemplo). Ou seja, não é “automático”, não bastaria a existência dos conselhos. Seria necessário uma luta política, por uma direção autenticamente revolucionária.
Observação 51: muitas vezes a noção de consciência de classe do proletariado parece se assemelhar à ideia de direção revolucionária.
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