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RELATÓRIO - Reunião 11/04/2019 - "História e Consciência de Classe", Georg Lukács (Consciê

Relatório – Reunião 11/04/2019

Tema: A reificação e a consciência do proletariado


Final do item 2 do texto (p. 280/282)


Voltando ao problema inicial “fica evidente que a virada da filosofia crítica em direção à prática fracassou ao tentar resolver as antinomias constatadas na teoria e acabou tornando-as eternas” (p. 280).


Do mesmo modo que “a necessidade objetiva persiste numa contingencia insuperável”, a liberdade do sujeito “não pode escapar, por ser uma liberdade vazia, do abismo do fatalismo” (281). De acordo com Kant na introdução à Lógica transcendental: “Pensamentos sem conteúdo são vazios” e “instituições sem conceitos são cegas”.


A crítica só pode ser feita a partir da interpenetração entre forma e conteúdo sob a forma de programa metodológico. “Ou seja, ela só pode mostrar, para cada uma das esferas separadas, o ponto em que a penetração real da forma e do conteúdo deveria começar, em que ela começaria se sua racionalidade formal pudesse permitir-lhe mais do que uma previsão de cálculo formal das possibilidades formais”.


A compreensão da conexão entre forma e conteúdo como um suporte de um cálculo formal e não como uma conexão direta “leva ao insolúvel dilema da liberdade e da necessidade, do voluntarismo e do fatalismo”.


Observação Orione: Os textos são difíceis, porque está debatendo com a filosofia clássica. Qual a extensão do que seria esta filosofia clássica, esta indo até o instante anterior a Hegel. Conceito de crítica é um conceito diferente, conceitos que se aplicam aos três livros de Kant. Não é o conceito de criticar. Crítica – submeter a razão. Ele está debatendo a filosofia burguesa no seu ápice. O momento dessas antinomias que a filosofia crítica que ele está revelando é o debate entre razão e natureza. Uma “chave” de leitura do texto é o dilema insolúvel da liberdade e da necessidade, do voluntarismo e do fatalismo (razão X natureza). Lúckacs afirma que este dilema é mal resolvido por Kant e será resolvido por Hegel. O grande debate até onde vai a razão e onde vai na natureza.


Dúvidas de limitação da filosofia clássica, para Engels a filosofia clássica acaba em Feuerbach. O texto nos leva a entender que para Luckács denomina “filosofia clássica” aquela que vai até Kant, que submete a filosofia ao juízo universal/ao crivo da razão e critica a filosofia clássica e vai até Hegel.


Observação: O autor vê na Grécia antiga o liberalismo burguês. Em Hegel não dá para dizer que a sociedade é fundamentada em um pacto. Hegel pensa toda uma ética que pode ir além da moral individual do Kant. Hegel critica o atomismo dos liberais, o contratualismo, retomando os gregos que já falavam que não era possível pensar a sociedade como a vontade individual dos sujeitos. A polis gregacomo uma alternativa ao individualismo, tentativa de retorno que preserva ao algo do liberalismo mas tem um sentido coletivo, por encontrar nela um certo sujeito coletivo. É impossível debater o mundo do capitalismo sem Kant, Hegel e Marx. Surge o debate de quando começa a modernidade – o mais correto colocar Kant do início. Os Iluministas surgiram em negação do próprio Descartes para afirmar uma nova filosofia.


No final da Crítica da razão prática, Kant coloca a regularidade “eterna e inflexível” do devir do processo natural e a liberdade puramente interior da práxis moral e individual como conceitos “separados e inconciliáveis da existência humana, ao mesmo tempo dados irregovelmente em sua separação”. De acordo com Lukács a grandeza da filosofia de Kant está justamente em não ter ocultado o caráter insolúvel deste problema com uma decisão arbitrariamente dogmática:


“A grandeza da filosofia de Kant consiste em não ter ocultado, em ambos os casos, o caráter insolúvel do problema com uma decisão arbitrariamente dogmática em qualquer sentido que seja, mas salientando abrupta e asperamente esse caráter insolúvel” (p. 282).


Item 3 do texto


Plekhanov ressalta que o materialismo burguês do século XVIII se defrontou com uma concepção de mundo limitada intelectualmente, a partir da seguinte antinomia: “por um lado, o homem aparece como um produto do meio social, de outro, “o meio social é produzido pela ´opinião pública´, isto é, pelo homem” (p. 283). De acordo com Lúkacs: “a antinomia que reencontramos no problema aparentemente gnosiológico da produção, na questão sistemática do sujeito da “ação”, do “produtor” da realidade apreendida unilateralmente, manifesta agora seu fundamento social”.


As explicações de Plekhanov mostram que a dualidade dos princípios contemplativo e prático conduzem a essa antinomia. “A problemática mais ingênua e mais primitiva de Holbach e de Helvécio permite, porém, uma visão ainda mais clara do fundamento vital que constitui o suporte real dessa antinomia” (p. 283). De acordo com a nota de rodapé 86: “Holbach e Helvécio chegam bem perto do problema da coisa em si, mas igualmente de forma mais ingênua”.


A partir desta antinomia observa-se que: (i) com o desenvolvimento da sociedade burguesa, todos os problemas do ser social deixam de transcender o homem e se manifestam como produtos da atividade humana; (ii) esse homem é o burguês, egoísta, individual e artificialmente isolado pelo capitalismo, assim, sua consciência apresenta-se como isolada e individual (Robinson Crusoé); (iii) “é justamente assim que se suprime o caráter de atividade da ação social” (p. 284).


A primeira vista parece uma repercussão da teoria sensualista de conhecimento (materialistas franceses Locke e etc), mas mais de perto mostra-se que essa suposta repercussão “é um simples consequência da posição do homem burguês no processo de produção capitalista” (p. 284). O fundamental já foi evidenciado por Lukacs algumas vezes: “o homem da sociedade capitalista encontra-se diante da realidade “feita” – por si mesmo (enquanto classe) -, como se estivesse em frente a uma “natureza”, cuja essência lhe é estranha; está entregue sem resistência às suas “leis”, e sua atividade consiste apenas na utilização para seu projeto (egoísta) do cumprimento forçado das leis individuais” (p. 284). Mesmo nessa atividade o homem permanece o objeto e não sujeito dos acontecimentos e o campo de ação é totalmente impelido para o interior: “por um lado, consiste na consciência relativa às leis que o homem utiliza, por outro, na consciência relativa a suas reações interiores diante do desdobramento dos acontecimentos” (p. 284).


Comentário: o termo “materialistas” franceses refersir-se-ia ao fato de que se baseavam muito no empirismo.


Observação: este trecho casa com a ideia de materialidade da ideologia. É estranho repercutir o livro do Plekanov, já que o debate que ele está fazendo ultrapassa muito o debate do Plekanov. Ele retoma isso na antologia do individuo ser um resultado histórico das condições do modo de produção capitalista, estruturado na questão contratual, que se expressa como uma “segunda natureza”, que o “comprime” em suas relações individuais. Expressão ruim para falar de um fato que a gente defende a existência, a necessidade da mediação. Pode até ter a consciência de classe mas você precisa viver por meio do valor, contrato, alguma coisa que te suprime nas relações individuais. Porque isso vira um dilema porque você cria as condições de existência enquanto classe, mas não consegue superar aquilo que você mesmo criou.


Observação: - No trecho da página 284 “O aspecto fundamental dessa situação já foi realçado várias vezes por nós; o homem da sociedade capitalista encontra-se diante da realidade ‘feita’ - por si mesmo (enquanto classe) -, como se estivesse em frente a uma ‘natureza’, cuja essência lhe é estranha; está entregue sem resistência às suas ‘leis’, e sua atividade consiste apenas na utilização para seu proveito (egoísta) do cumprimento forçado das leis individuais”, segue aparecendo o debate entre ser e representação (vontade e necessidade). Existe um debate entre ser e representação. Portanto entre natureza e razão. Debate que permeia o texto inteiro e dá o problema da crítica kantiana. Como não se propõe a debater o ser não está debatendo a natureza, a essência do ser, a natureza. Está sempre no processo representativo. Insolúvel dilema na liberdade e da necessidade. A intervenção da natureza com esse produtor que age, ele age sobre o que? Intervenção da natureza. Vai até o final do debate do ser e natureza, só que no plano da representação. Debater a liberdade sem a natureza é errado.


Lukács coloca que desta situação resultam diversos problemas nos conceitos decisivos na compreensão que o homem burguês tem de si mesmo e de sua posição no mundo. Um deles é o conceito de natureza que adquire um sentido ambíguo.


Kant define a natureza como “conjunto do sistema de leis” que rege os acontecimentos. Ao lado deste conceito desenvolve-se outro que é completamente diferente do primeiro e que abarca sentidos diversos: o conceito-valor. A partir da história do direito natural é possível compreender a extensão do entrelaçamento destes conceitos, já que a natureza apresenta um aspecto de luta revolucionária burguesa: “o caráter “conforme a lei”, calculável, formal e abstrato da sociedade burguesa que se aproxima aparece como natureza ao lado do artifício, da arbitrariedade, da ausência de regras do feudalismo e do absolutismo” (p. 285). Ao mesmo tempo que se olharmos para Rousseau há um conceito totalmente oposto do conceito da natureza: “cresce o sentimento de que as formas sociais (a reificação) despojam o homem de sua essência humana, de que quanto mais a cultura e a civilização (isto é, o capitalismo e a reificação) apossam-se dele, menos ele está em condições de ser homem” (p. 285).


Comentário Flavio: trecho interessante porque ele mostra a imposição que existe na filosofia entre o “elogia da natureza” e o “elogia da sociedade”. Rousseau nega a organização social em prol da volta à natureza, e Kant nega a natureza em prol da razão.

A natureza torna-se, então o receptáculo em que se reúne todas as tendências interiores que agem contra mecanização, a privação da alma e a reificação crescentes. A natureza adquire o significado de que houve um crescimento orgânico nas formações da civilização que não foi criada pelo homem. E também é entendida como aspecto da interioridade humana que permaneceu como natureza ou que tem o anseio de tornar-se novamente natureza.


Daí surge um terceiro conceito de natureza que tem uma ligação indissolúvel com os outros dois. Neste terceiro conceito, o caráter de valor, a tendência a transpor a problemática da existência retificada, destaca-se. “A natureza é, então, o ser humano autêntico, a essência verdadeira do homem, liberada das formas sociais falsas e mecanizantes, o homem enquanto totalidade acabada, que superou ou supera interiormente a cisão entre teoria e práxis, entre razão e sensibilidade, entre forma e matéria” (p. 286). Para esse homem, a liberdade e a necessidade coincidem, a tendência a criar a própria forma não é uma racionalidade abstrata que deixa de lado os conteúdos concretos.


Observação: Ele adere alguns desses conceitos de natureza?Não adere o primeiro conceito de natureza que é kantiano (“conjunto de sistemas de leis”), que é bastante epistemológico e não busca a essência. É Kant que pega Newton e as leis da natureza mecânica da natureza. Não temos domínio nenhum... São leis inexoráveis... o que intensifica o problema da liberdade, que tem que se afirmar como negação dessas leis; a liberdade é interditada por essas leis. O segundo conceito aparece como princípio (passado “natural”), é mais axiológico, valorativo. Lukács também não adere esta segunda.O terceiro conceito que é mais hegeliano (compromisso/dialética entre natureza e cultura/razão). Coincidência da liberdade e necessidade. É a este terceiro conceito que Luckács adere.


Com isso, Lukács diz chegar ao que estava procurando: o fundamento da dualidade insuperável da razão pura e da razão prática, o fundamento do sujeito da “ação” e da “produção” da realidade como totalidade. Essa atitude (se compreendermos como necessária a multiplicidade variável de sentido desse conceito esclarecedor, sem avançar em sua análise) não deve ser procurada de maneira mitológica, mas possui um campo concreto e real de realização: a arte.


Comentário: Para Luckács, a contradição entre os contrários não foi escondida por Kant, ele apenas entende que ela é insolúvel. A superação da contradição será resolvida pela estrutura Hegeliana, através da arte enquanto princípio.


Observação: Necessidade e liberdade são um problema insolúvel. Não entram numa relação dialética. Acaba sendo uma aparência que determina o pensamento.


Pergunta: arte e estética é a mesma coisa? Não ficou claro se arte e estética são ou não a mesma coisa no texto.


Não se trata de examinar a teoria da arte e da estética na história dos problemas a partir do século XVIII, mas sim “de fazer aparecer o fundamento histórico e social que deu à estética e à consciência relativa à arte uma importância filosoficamente global, que a arte nunca foi capaz de possuir em seu desenvolvimento anterior”. Isso não quer dizer que no período em questão havia um florescimento objetivo e artístico, trata-se da importância teórica, sistemática e ideológica que o princípio da arte assume nesta época.


Para o autor, o princípio da arte é “a criação de uma totalidade concreta em virtude de uma concepção da forma orientada justamente para o conteúdo concreto do seu substrato material, capaz, por conseguinte, de dissolver a relação “contingente” dos elementos com o todo, de superar a contingência e a necessidade como contrários simplesmente aparentes” (p. 288).


Comentário: Aqui Luckács retoma a preocupação com a totalidade e encontra na arte essa capacidade de restituir a totalidade.


Kant atribui ao princípio da arte o papel de mediação entre os contrários de outra forma inconciliáveis, portanto, a função de acabamento do sistema. No entanto, para Lukács “essa tentativa de solução não pode ater-se à explicação e à interpretação do fenômeno da arte” (p. 288). Isso porque este princípio está desde a sua origem ligado aos diversos conceitos de natureza, “de modo que seu destino mais iminente parecia ser o de agir como princípio de solução para todos os problemas insolúveis (contemplativa e teoricamente ou ética e praticamente)” (p. 288).


Observação: A arte entra em Kant na perspectiva formal, espitemológica e por isso não dá conta de explicar. A arte volta a forma sob o crivo da razão, e não consegue resolver o problema da liberdade e necessidade. Não tem compromisso com o ser, não tem compromisso com a natureza e vai ser sempre formal.


Fichte atribuiu a função metódica que deve ser atribuída a este princípio: a arte “transforma o ponto de vista transcendental em ponto de vista comum”. O que para a filosofia transcendental pareceria um postulado da explicação do mundo, na arte encontra-se totalmente concluído. “A arte é a prova de que essa exigência da filosofia transcendental resulta necessariamente da estrutura da consciência humana e nela está ancorada de maneira essencial e necessária” (p. 289).


Comentário: Recupera o Fitche para dizer que ele dá um avanço no debate. A arte devolve o sentido prático, nos permite perceber mais as coisas (arte como prática), consegue promover a conciliação, superar o conflito, porque transforma o ponto de vista transcendental (muito elevado, inacessível a todos) em ponto de vista comum. Saiu da forma, do processo de explicação da razão. A arte vira uma coisa que consegue promover essa superação, que não existia no Kant. O que era transcendental fica acessível a todos, a filosofia tem que aprender com a arte, saiu do contemplativo e ficou algo da prática. Desperta alguma coisa em relação aquilo. A arte consegue despertar.

A arte educa não pela razão em si, mas pelo sentimento. Pode ser popularizada. – simplificação boa, mas esconde o sentimento como reitor desse instante e fica parecendo que é só a natureza. É um compromisso entre a natureza e razão que vai aparecer no plano intuitivo. Não estão sentindo, estão intuindo que é lembrar o sentimento de história, cultura e etc. A Arte parece significar a ideia de artifício (não coincide apenas com estética). Possui o aspecto técnico, mas também o intuitivo (exemplos dados: mística do MST ou “experiência pela prática”).


A filosofia clássica deveria estabelecer como tarefa mostrar esse sujeito da “ação”, que pode ser compreendido como um produto da realidade em sua totalidade. “Pois somente se puderem ser efetivamente provada a possibilidade de encontrar tal subjetividade na consciência e a de existir um principio formal, que não seja mais marcado pela indiferença em relação ao conteúdo (...) é que se torna possível para o método superar concretamente o racionalismo formal e (...) propor o mundo pensado como sistema acabado, concreto, pleno de sentido, “produzido” por nós, e que alcança em nós o estágio da autoconsciência” (p. 289).


A descoberta do princípio da arte trás à tona o problema do “entendimento intuitivo”, para qual o conteúdo não é mais dado, mas “produzido”. “Se, para o próprio Kant, isso mostra apenas o ponto a partir do qual o sistema poderia ser fechado e acabado, esse princípio e a exigência de um entendimento intuitivo dele resultante e de sua intuição intelectual tornam-se em seus sucessores a pedra fundamental da sistemática filosófica” (p. 290).


A necessidade que conduziu esta problemática e a função atribuída como solução de seus problemas aparece nos escritos da teoria da estética de Schiller. Quando o autor coloca o princípio estético como instituto de jogo: “Pois é preciso dizê-lo de uma vez, o homem joga apenas quando é homem pleno sentido da palavra e só é totalmente homem quando joga”. (p. 290). Quando Schiller entende o princípio estético para além da estética busca nele a chave para a solução da questão relativa ao sentido da existência social do homem, revelando o ponto fundamental da filosofia clássica. Por um lado, reconhece-se que o ser social aniquilou o homem enquanto homem, por outro, reconhece-se que o princípio segundo o qual o homem socialmente aniquilado, fragmentado e dividido em sistemas parciais deve ser recriado intelectualmente.

Se pudermos ver aí o problema fundamental da filosofia clássica, veremos também “o aspecto grandioso de sua empresa e a perspectiva fecunda que seu método projeta no futuro, a necessidade do seu fracasso”. (...) a problemática do ser social do homem capitalista entra agora vigorosamente na consciência” (p. 291).


Observação: Aponta a falta de materialidade na filosofia clássica alemã. A “necessidade de seu fracasso” se dá porque pretende recriar a problemática do ser social na intelectualidade e não na realidade. É o dogma da racionalidade, da forma, que os iluministas queriam superar de Descartes (Espinosa e Leibnitz se aproximam dele). Kant propõe unir razão e experiência, com predomínio da razão. Luckács diz que eles não conseguiram superar essa racionalidade.


“Quando o poder de unificação desaparece da vida do homem, e os contrários perdem sua relação e sua interação vivas e adquirem autonomia, nasce a necessidade da filosofia” diz Hegel. Simultaneamente aparece o limite para essa tentativa, já que pergunta e resposta estão limitadas ao plano do pensamento. “Ainda que essa filosofia tenha sido conduzida metodicamente para além dos limites do entendimento formal, racional e discursivo e, portanto, tenha se tornado críticas a pensadores como Espinosa e Leibniz, sua atitude fundamental e metódica permanece racionalista” (p. 291). O dogma da racionalidade permanece.


O limite é subjetivo porque o princípio descoberto à medida que se torna consciente desvenda as fronteiras de sua própria validade. “Se o homem só é totalmente homem “quando joga”, a partir disso, pode-se compreender todos os conteúdos da vida e, na forma estética, concebida tão largamente quanto possível, subtraí-los à ação mortal do mecanismo reificante. Todavia, só serão subtraídos a essa ação mortal na medida em que se tornam estéticos”. Em resumo, o mundo deve ser estetizado, o que além de se furtar do problema faz com que o sujeito seja apenas um sujeito contemplativo, reduzindo a “ação” a nada.


Comentário: A diferença de estética e arte estaria em que a primeira é entendida como forma, mundo da representação.


Outra possibilidade é elevar o princípio estético à categoria de princípio moderador da realidade objetiva, mas para isso é necessário transformar em mito a descoberta do entendimento.


Comentário: porque é preciso “transformar em mito a descoberta do entendimento”? Não é possível pegar esse princípio da estética (da realidade prática) e criar “teorias” (conjunção de lies/formas para explicar como isso aconteceu) porque perco a arte (estética é a arte enquanto categoria contemplativa. Se você não contempla a arte enquanto ciência você vai viver a arte, o jogo). Estética: forma conduzida (explicação ideologizada do mundo). Arte: forma vivida (seria essencialmente revolucionária – Espírito de Hegel).


“A arte mostra, como vimos, as duas faces de Janus, e com a descoberta da arte torna-se possível tanto acrescentar um novo domínio à fragmentação do sujeito, quanto abandonar o terreno seguro da demonstração concreta da totalidade e (...) atacar o problema da “produção” do lado do sujeito” (p. 293). Não se trata de produzir coesão objetiva da realidade segundo os moldes da geometria, “trata-se de deduzir a unidade – não dada – dessa forma de produção que se desintegra e de provar que ela é o produto de um sujeito produtor. Em última análise, portanto, trata-se de produzir o sujeito do “produtor”” (p. 293).


Comentário: Aparente contradição no argumento desenvolvido por Luckács. Faz uma crítica intensa à espistemologia, mas é por esse caminho que ele propõe a solução (por meio de um caminho que é epistemológico). “A solução é o que ele apontou como problema”. Parece se inspirar no Marx da Questão Judaica, que diz que formular um problema é resolvê-lo, e existe todo um método para isso, uma técnica (Luckács se preocupa com isso).


Comentários finais:


A ideia de “jogar” poderia estar na conjugação da técnica e da arte (prática) exclusivamente humana e relacional.O que é jogo? Verbo que junta sensibilidade, arte e práxis. Ideologia no campo da estética – arte X estética. A estética seria a contemplação a arte, se você não contemplar a arte e viver a arte era vai virar o jogo. Estética é a forma conduzida, a arte é a forma vivida. Estética já uma explicação ideologizada do mundo, a arte não. Se você fosse pela arte seria diferente.


Althusser é tido como pecador pelo pecado da epistemologia, mas o texto de Luckács também faz isso.


O sujeito produtor é o capital (materialismo) ou o indivíduo que compreende a totalidade do capital (idealismo) ou a classe trabalhadora (sujeito com sentido positivo, agente. O que se aproxima mais dos seus primeiros textos, que apontam a limitação científica da classe burguesa para ser sujeito produtor. Isso é ciência/verdade/epistemologia. A classe trabalhadora teria essa capacidade de alcançar a verdade) ou as classes em luta, mas não é o indivíduo!


A Realidade que nos coloca egoístas, uma realidade pré-fabricada. A solução contém algo de epistemológico.Tem a preocupação de sair do transcendental e ser mais popular.


Transformação da natureza na perspectiva materialista. Sujeito no sentido positivo. Interferência na natureza. A produção submete a natureza.


A arte seria então essencialmente revolucionária? No texto ela se apresenta desse jeito, até porque se ela é o espírito absoluto do Hegel.


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