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RELATÓRIO - Reunião 25/04/2019 - "Rosa Luxemburgo como marxista", Georg Lukács (História e

Relatório – Reunião 25/04/2019

Tema: Rosa Luxemburgo como marxista


É o ponto de vista da totalidade que distingue o marxismo da ciência burguesa e não a centralidade de motivos econômicos. Esse método é revolucionário por, além de contrapor conteúdos revolucionários à sociedade burguesa, utilizar a totalidade para mostrar como as ciências separam processos que devem ser vistos como um todo (exemplo: separação entre produtor e processo global da produção).


Comentários:

Destaque para trecho da página 106 que trata da questão do conteúdo e forma em Hegel. Luckács parece fazer uma leitura positivista da relação entre esses conceitos.

Apenas Marx tornou possível uma leitura revolucionária da dialética hegeliana. É possível uma separação dos elementos desde que seja um meio para se entender o todo, e não que a separação seja um fim em si mesmo. Assim, o direito não existe como ciência “em si mesma”, “mas somente uma ciência histórico-dialética, única e unitária, do desenvolvimento da sociedade como totalidade” (p. 107).


Comentários:

- Marx diz na sua Introdução que a dialética de Hegel tem um núcleo revolucionário, envolto por uma névoa mística, cujo invólucro é preciso romper. Mas essa frase de Marx é questionável (é dúbia), não resolve o problema. - Em Hegel o procedimento (diferentemente da lógica formal que o antecede) é a forma e o conteúdo é o “eu” (indivíduo). - Há formulações que sugerem depor contra sua própria ideia de forma e conteúdo imbricados.


A ciência burguesa também não chega à totalidade porque o sujeito do conhecimento é um indivíduo, quando no marxismo o sujeito são as . Assim, por uma questão de método, Marx “considera os problemas de toda a sociedade capitalista como problemas das classes que a constituem, sendo a dos capitalistas e a dos proletários apreendidas ” (p. 108).


Comentários:

Debate sobre a leitura que Luckács faz sobre a relação Marx e Hegel

- O que Marx reivindicaria no Hegel (formas gerais do movimento) seria a forma. Hegel tratava a forma (assim como Marx) como contraditória em si mesmo, sem resolução. Mas se em Hegel a dialética estava “invertida”, bastaria invertê-la? Não. Esse movimento por si só já é constituinte de algo, não é só “colocar de cabeça pra baixo”, é perceber o ser constituído na produção, e Marx perceber como a dialética surge. A dialética funciona no Hegel, mas não se explica porque existe.

- Para Marx, o conteúdo da forma é a classe, supera o conservadorismo individual de Hegel.

- O ponto de vista da totalidade não é Hegel que possibilitou, mas a realidade e Hegel é expressão dessa realidade e não algo que criou. O percurso não se dá na consciência do autor.

- A diferença entre Marx e Hegel é a totalidade. Hegel enxerga o fenômeno social da totalidade do ponto de vista do indivíduo e Marx da classe.


Após décadas de vulgarização do marxismo, a obra de Rosa Luxemburgo retoma a banalização do método. A primeira obra a fazer uma análise errônea (e oportunista) é a , de Bernstein, que, segundo Lukács, abandona o princípio da totalidade e historicidade. Essa análise “científica” fora feita de maneira a isolar os fenômenos. É nesse contexto que devem ser analisados os conflitos teóricos da obra citada de Rosa.


O debate acerca da acumulação de capital conduzido por Bauer e Eckstein girava em torno de se de fato existia um problema, e não nos moldes propostos por Rosa. Esses críticos formularam a dúvida de se Marx estaria sendo reducionista ao produzir sua teoria a partir de uma sociedade composta apenas por capitalistas e proletários, ignorando que em Marx continuaria refletindo sobre a questão, sendo desse ponto que Rosa começou a produzir suas reflexões.


Os oportunistas agiram de maneira coerente para “resolver” a questão da acumulação visto que “do ponto de vista do capitalista individual, a realidade econômica aparece como governada por leis eternas da natureza (...)” (p. 112), ou seja, a questão da acumulação seria resolvida a partir das transformações das fórmulas D-M-D e M-D-M, sendo um “detalhe isolado” não relacionado ao conjunto do capitalismo (sem considerar, portanto, a totalidade).


A seria, segundo Lukács, a primeira obra completa, acabada e madura de Marx. Nessa obra ele refuta Proudhon remontando às fontes de suas concepções que adviriam de Ricardo e Hegel. “ e as são, pela essência do seu objeto, obras cuja estrutura interna significa, no fundo, uma solução do problema que a colocava e esboçava brilhantemente e de modo abrangente.” (p. 116). Assim, o problema central do método dialético é a posição da categoria da totalidade e, de acordo com o autor, a posição da filosofia hegeliana.


Comentários: - Curioso Luckács escolher a Miséria da Filosofia. Ele não conhecia a Ideologia Alemã, nem os Manuscritos (no prefácio de História e consciência de classe ele menciona isso). Trata-se de um recorte estruturante, de uma leitura da economia.

Imprecisão do uso do conceito de ideologia pelo autor - Dúvida sobre conceito de ideologia (até então era tratada pelo autor como falsa consciência ou conjunto de ideias pertencentes a uma classe), e aqui aparece como forma ideológica.


O método hegeliano jamais teria sido abandonado por Marx em relação ao ponto da totalidade, pois a concepção da unidade como unidade e totalidade de um processo também seria a essência da filosofia hegeliana (como também da filosofia da história do materialismo histórico). Segundo Lukács, os hegelianos, e não o próprio Hegel, que chegaram em um idealismo “absoluto” que dissolveria a totalidade e separaria a dialética da história viva (o que provaria a aproximação do marxismo com o “hegelianismo do próprio Hegel”). O autor, então, critica os marxistas os aproximando dos hegelianos: “Se os primeiros [hegelianos] acabaram perdendo a capacidade de combinar os acontecimentos históricos com suas construções puramente ideológicas, os segundos [marxistas] se mostram igualmente incapazes de compreender tanto o elo das formas ditas ‘ideológicas’ da sociedade com seu fundamento econômico, como a própria economia como totalidade, como realidade social” (p. 117). O método dialético de forma geral trataria do conhecimento da totalidade do processo histórico, tornando-se filosofia da história.


Comentários:

Debate sobre a questão da totalidade

- O que distingue o marxismo é o ponto de vista da totalidade e não o fundamento econômico da sociedade? Como arranjamos a ideia de que “economia determina em última instância”? E o que quer dizer economia?

- “A economia determina em última instância” seria partir da perspectiva do modo de produção, então o que predomina não é a totalidade.

- Marx: método que parte do abstrato para a totalidade concreta, então a totalidade é parte da engrenagem

- Totalidade não deve ser considerada como uma filosofia holística, um todo composto de partes que se juntam (não podemos fazer isso). A crítica da totalidade de Marx é que você tem um “ser social”, uma produção que quando surge traz uma determinada contradição inicial (forças produtivas e relações de produção) e tudo que vem depois parte disso. A totalidade é mais um resultado do que um ponto de partida, não é o que predomina.

- A abordagem de totalidade dentro do marxismo é feita de várias maneiras.


Por essas razões, A acumulação do capital e O estado e a revolução (Lenin), obras fundamentais para o “renascimento teórico” do marxismo, usaram o método do jovem Marx. O próprio processo histórico é colocado como forma de abordagem, ao contrário da ciência burguesa que apenas toma “em consideração os predecessores” (“a ciência burguesa faz da história do problema um peso morto na exposição e no estudo do próprio problema” p. 118).


A questão das crises do capitalismo é analisada a partir de um ceticismo reacionário por Sismondi e por outro lado é analisado com otimismo por “porta-vozes da nova ordem de produção” que negam que as crises são inevitáveis. É Marx que desempenha no plano teórico papel decisivo sobre o estudo da acumulação ilimitada de capital. Nesse contexto a investida de Otto Bauer contra Rosa Luxemburgo faz com que o “otimismo social” se altere, assumindo um caráter pequeno-burguês e cético (“lado bom” versus “lado ruim” do capitalismo). Em Rosa a questão da acumulação “se transforma na questão das da acumulação e, assim, na certeza de que uma acumulação ilimitada é impossível (...) a acumulação torna-se dialética.” (p. 120).


“Fatalismo econômico e nova fundamentação ética do socialismo estão estreitamente ligados” (p. 122). Nesse item o autor critica os reformistas que perderam a categoria da totalidade ao adotar o individualismo metodológico, assumindo um ponto de vista econômico-vulgar. Para esses teóricos “vulgares” o mundo só poderia ser compreendido a partir de uma racionalidade estranha à humanidade, que não poderia influenciar nesse destino regido por “leis eternas da natureza” em que o homem apenas pode “adotar a seu respeito uma atitude puramente contemplativa e fatalista” (p. 123). A partir disso, apenas seria possível dois caminhos para a ação humana: (1) utilização dessas leis imutáveis para fins humanos ou (2) ação dirigida para o interior, para mudança da própria humanidade através da . Mas como o mundo fica mecanizado, assim também permanece essa “ética”, retornando à teoria abstrata da escola kantiana (a-histórica e sem consideração pela totalidade).


Comentário: O trecho “Em segundo, a ação dirigida apenas para o interior, a tentativa de realizar a transformação do mundo no único ponto do mundo que permaneceu livre, o homem (ética)” traz uma compreensão a-histórica, de mudança/solução individual e nos remete ao fim da história.


Como conseqüência do “(...) rompimento com a consideração da totalidade rompe também a ”. A práxis implica necessariamente em transformação da realidade. O jovem Hegel teria feito avanços nessa formulação, da teorização acerca do sujeito, que Marx teria descoberto concretamente para estabelecer a unidade entre teoria e práxis, ao discutir a superioridade da classe enquanto lugar de transformação: “somente a classe, por sua ação, pode penetrar a realidade social e transformá-la em sua totalidade. (...) ” (p. 125). Para o marxismo essa é, então, uma questão central para análise do caráter historicamente limitado do capitalismo. É nesse contexto que Rosa demonstra o caráter economicamente insustentável desse modo de produção.


Comentário: “Prática”, “práxis”, etc. aparecem mas não conseguimos extrair disso nenhuma teoria da práxis.


O proletariado é, então, ao mesmo tempo produto das crises do capitalismo e executor de tendências que impelem o capitalismo de volta à crise. No entanto, a consciência de classe não avança de maneira estável e mecânica. O partido é essencial para transformar em realidade essa consciência. Rosa reconheceu o caráter espontâneo das ações da massa revolucionária e também o papel do partido nesse processo: “a organização é, antes, uma conseqüência do que uma condição prévia do processo revolucionário, do mesmo modo como o proletariado só pode se constituir em classe no processo e por ele” (p. 128) e “(...) no momento agudo da revolução, o partido transformará seu caráter de exigência em realidade ativa, pois fará penetrar no movimento de massa espontâneo a verdade que lhe é imanente, elevar-se-á da necessidade econômica de sua origem à liberdade da ação consciente” (p. 129).


Comentários:

- Texto meio poético/messiânico. Entende o partido como algo messiânico, que vai trazer a verdade, como se não houvesse disputa.

- Ou então, parece que esse é o único ponto material do texto; a consciência de classe ter algum apego com a materialidade histórica.

- O partido não se torna um grande homem (tal como Napoleão no cavalo branco; o “espírito do povo” daquele momento), e retorna-se à dialética abstrata, ao “herói da vez”?

- Contudo, se alguma materialidade pode existir na consciência de classe é no partido.

- Quando se fala em partido tem que se entender do que se fala. Entendê-lo como sigla eleitoral dá no messianismo. Devemos entender o partido como função, como uma parte da classe em condições de exercer essa função. Mas mesmo em Napoleão, esse poder que ele representa não é individual, é uma força material que vem da classe.

- Partido no século XX tem outra conotação que hoje.

- A força do partido é moral, é a ética emprestada da burguesia? (referente ao trecho “o partido como forma histórica e portador ativo da consciência de classe, ele se torna, ao mesmo tempo, o portador da ética do proletariado em luta”, da pág. 129).


A consciência de classe deve ser a “ética” do proletariado. Nem sempre a política do partido estará em acordo com a realidade empírica mas a “força moral dos trabalhadores” trará frutos no plano da política real “pois a força do partido é uma força moral: ela é alimentada pela confiança das massas espontaneamente revolucionárias” (p. 130).


A unidade entre teoria e prática na obra de Rosa mostra a unidade entre vitórias e derrotas nesse processo histórico, entre destino individual e processo total. “Teoricamente, ela previu a derrota da insurreição de janeiro muitos anos antes de seu acontecimento; taticamente, ela a previu no instante da ação. O fato de ter apoiado as massas e partilhado de sua sorte nessas condições é uma conseqüência totalmente lógica da unidade da teoria e da práxis na sua ação, tanto quanto o ódio que lhe haviam declarado a justo titulo seus assassinos, os oportunistas da socialdemocracia.” (p. 132).



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