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RELATÓRIO - Reunião 01/08/2019 - "A reificação e a consciência do proletariado", Georg Luk

Relatório – Reunião 01/08/2019

Tema: A reificação e a consciência do proletariado


Presentes: Daniel Ferreira, Débora Araújo, Deise Martins, Helena Duarte, Henrique Oliveira, Isadora Brandão, Ivan Palma, Marcus Orione, Odara Andrade, Pablo Biondi, Pedro Luiz, Regiane Moura, Rodrigo Maluf, Thamiris Molitor,


Comentários Iniciais:


- Foi destacado que Lukács realiza uma crítica à Hegel, ao falar do espírito do povo, bem acabada, isso se deve às medições que realiza ao decorrer da obra.


- Foi destacada uma tentativa do autor de emprestar materialidade à consciência.


- Foi discutido o ponto 13 deste relatório. Nesse sentido, chegamos a conclusão de que no pensamento burguês o processo de análise do espácio temporalmente está mais distante para incluí-lo no processo de previsibilidade . Nesse sentido, o cálculo do espaço e tempo devolve sempre para a análise naturalização (e esta naturalização envolve um processo de repetição). Há uma dupla característica: por um lado uma coisificação da natureza e , por outro, uma humanização desta.


- Foi destacado ainda que o modo de produção capitalista é o único que se pretende universal (até agora. Diante disso, submete todos os domínios à uma pretensão universal.


Debates do texto:


[if !supportLists]1. [endif]Partindo da ideia de que é preciso abolir as falsas formas de existência para que “a própria existência surja como classe para o proletariado”, Lukács inicia o item “3” trazendo nuances sobre como se daria o desenvolvimento do proletariado em classe.


[if !supportLists]2. [endif]Sendo assim, o autor traz que o processo de desenvolvimento do proletariado em classe poderia aparecer apenas como uma consequência “legítima” da concentração de muitos trabalhadores em grandes empresas, da mecanização e da uniformização do processo de trabalho, do nivelamento das condições de vida.


2.1 E, de fato, sem estes pressupostos evidentemente o proletariado nunca teria se tornado uma classe e se eles não tivessem sido constantemente intensificados - pelo capitalismo- o proletariado nunca teria alcançado a importância que hoje o torna fator decisivo para o desenvolvimento da humanidade.


[if !supportLists]3. [endif]Mas, é preciso reconhecer que não se trata de uma relação imediata, ainda que seja indispensável para o desenvolvimento do proletariado em classe. Isso acontece tendo em vista a aparência ilusória que se esconde na ênfase unilateral dada a esse aspecto das coisas.


3.1 E, aqui não há nenhuma contradição.


[if !supportLists]4. [endif] Dessa maneira, citando o Manifesto Comunista traz que o que é imediato “é o fato de esses trabalhadores, que precisam se vender por peça, serem uma mercadoria como qualquer outro artigo de comércio” (p. 348).


[if !supportLists]5. [endif]Nesse sentido, por mais que esta mercadoria possa se tornar consciente de si mesma como mercadoria isto não é suficiente para resolver o problema da consciência de classe, pois a consciência não mediada da mercadoria (em sua simples forma de manifestação) é o isolamento abstrato e relação, abstrata e externa à consciência, com aqueles fatores que as tornam sociais (p. 349).


[if !supportLists]6. [endif]Isto posto, ao se tentarmos atribuir a consciência de classe uma forma imediata de existência repousamos na mitologia de uma “enigmática consciência genérica”[if !supportFootnotes][1][endif], cuja a relação com o indivíduo é incompreensível.


[if !supportLists]7. [endif]E, “por outro lado, se considerada abstratamente, a consciência de classe, que desperta e cresce aqui por meio do conhecimento da situação e dos interesses comuns, não é específica do proletariado” (p.349).


[if !supportLists]8. [endif]A especificidade, então, baseia-se no fato de que a superação do imediatismo tem uma intenção voltada para a totalidade da sociedade (grifos do autor). Assim, a consciência de classe não deve deter-se num estágio relativamente superior do imediatismo que se retorna, mas encontrar-se num movimento ininterrupto em direção a sua totalidade, portanto, no processo dialético do imediatismo que se supera constantemente (p. 350).


[if !supportLists]9. [endif]À visto disso, Lukács vai trazer Marx em suas observações sobre o levante dos tecelões da Silésia para afirmar que o autor alemão reconheceu como aspecto da consciência do proletariado seu caráter teórico e consciente.


9.1 Em suas observações, Marx encontra na canções dos tecelões um ousado lema de luta em que o proletariado exprime sua oposição à sociedade da propriedade privada de maneira contundente, ajuda, irreverente e violenta, porque “enquanto todos os outros movimentos se voltam inicialmente apenas contra os industriais, o inimigo visível, este movimento ataca também o banqueiro, inimigo oculto” (p. 350, grifos meu).


[if !supportLists]10. [endif]Lukács, além disso, destaca que “ subestimaríamos a importância teórica dessa concepção , se no comportamento que Marx - com razão ou não- atribui aos tecelões da Silésia percebêssemos somente sua capacidade de integrar às considerações baseadas nas ações não apenas os motivos mais próximos, mas também os espaciotemporais ou conceitualmente mais distantes” (p. 350-351).


[if !supportLists]11. [endif] O que importa, para Lukács, é o exame sobre o que significa este distanciamento em relação ao dado imediato para a estrutura dos objetos apresentados como motivos e objetivos da ação. E, o que este distanciamento significa para a consciência que dirige a ação e sua relação com o ser.


[if !supportLists]12. [endif] É a partir disso que se percebe a diferença entre o ponto de vista burguês e o proletário.


[if !supportLists]13. [endif] O distanciamento para o pensamento burguês - quando se trata do problema da ação- significa essencialmente a inclusão de objetos espaciotemporalmente (grifos meu) mais distantes do cálculo racional.


13.1 Ressalta o autor, que de acordo com Marx a apreensão dos fenômenos enquanto “leis naturais” sociais designa o ponto culminante e a barreira intransponível do pensamento burguês.


13.1.1 O pensamento burguês se aprisiona em categorias fetichistas solidificando os efeitos destas relações recíprocas dos homens. Nessa acepção, as categorias abstratas e racionais da reflexão aparecem para o pensamento burguês como algo último e insuperável - motivo pelo qual o pensamento burguês está numa relação imediata com elas.


[if !supportLists]14. [endif]Do ponto de vista do proletariado, o “distanciamento” significa a metamorfose da objetivação dos objetos da ação (grifos do autor). A essência da transformação consiste, por um lado, na integração prática da consciência que desperta com os objetos dos quais ela surge e dos quais ela é consciência. E, por outro, na fluidificação e no processamento daqueles objetos que aqui são concebidos como aspectos do desenvolvimento social, portanto, simples aspectos da totalidade dialética.


15.1 “E esta metamorfose do trabalho em mercadoria elimina, por um lado, o que é “humano” da existência imediata do proletariado e, por outro, o mesmo desenvolvimento anula em medida crescente tudo o que é natural, toda relação direta com a natureza partindo de formas sociais, de tal modo que, justamente em sua objetividade distante da humanidade e mesmo inumana, o homem socializado pode revelar-se como seu núcleo.. E é nessa objetivação, nessa racionalização e coisificação de todas as formas sociais que aparece claramente, pela primeira vez, a estrutura da sociedade constituída a partidas das relações dos homens entre si” (p.354)


[if !supportLists]15. [endif] O efeito da totalidade se manifesta antes mesmo que a multiplicidade completa dos objetos possa ser esclarecida por ela.


15.1 Neste sentido, a essência do desenvolvimento histórico é dialeticamente objetiva. E esse tipo de compressão da transformação da realidade pode ser observado em todas as transições decisivas.


[if !supportLists]16. [endif] “ A peculiaridade do capitalismo consiste exatamente no fato de ele superar todas as barreiras naturais e transformar o conjunto das relações entre os homens numa relação puramente social” (p.354).


[if !supportLists]17. [endif] Assim, Lukács ressalta que tudo isso só poderá ser percebido se não esquecermos que essas relações humanas não são relações imediatas entre um indivíduo e outro, mas relações típicas, mediadas pelas leis objetivas do processo de produção, de modo que essas leis tornam-se necessariamente formas imediatas em que as relações humanas se manifestam.


[if !supportLists]18. [endif] Como resultado desse processo, temos:


[if !supportLists]a. [endif](1) homem só pode ser encontrado como núcleo e base das relações coisificadas na supressão de seu imediatismo e por meio dele - Mostrando a necessidade,aqui, de sempre partir do imediatismo e das leis reificadas;

[if !supportLists]b. [endif] (2) Essas formas de manifestação são formas de objetividade da sociedade burguesa atual e não somente formas de pensamentos. E, por isso sua supressão tem que elevar-se à supressão prática enquanto formas de vida da sociedade (grifos do autor);

[if !supportLists]c. [endif](3) Essa práxis não pode ser separada do conhecimento. Uma práxis - no sentido de verdadeira transformação- pode suceder apenas se ela quiser pensar o movimento que constitui a tendência imanente dessas formas até sua conclusão lógica , tornando-se consciente e dele conscientizando-o;

[if !supportLists]d. [endif](4) O portador desse processo de consciência é o proletariado: quando sua consciência se manifesta como consequência imanente da dialética histórica, ela se manifesta dialeticamente. Isto é, “ o ato de tornar-se consciente modifica a forma de objetificação do seu objeto” (p.357, grifos do autor).


i. Aqui, Lukács comenta que o grande passo que o marxismo dá em relação a Hegel - quanto às interpretações sobre a dialética- é descobrir a dialética na própria história. Ou seja, compreender as determinações da reflexão não como uma etapa “eterna” da compreensão da realidade em geral, mas como uma a forma de existência e pensamento necessária da sociedade burguesa, da reificação do ser e do pensamento. (p. 356).


[if !supportLists]19. [endif]Logo após a exposição dos quatro resultados, Lukács vai trazer que “pois somente nessa consciência - do proletariado- apresenta-se claramente a irracionalidade profunda que se espreita por trás dos sistemas racionalistas parciais da sociedade burguesa e que normalmente aparece como uma erupção, uma catástrofe, mas justamente por isso sem alterar a forma e a combinação dos objetos na superfície” (p.357).


[if !supportLists]20. [endif]E, essa situação pode ser reconhecida nos acontecimentos cotidianos mais simples (p. 357).


20.1 Para exemplificar, o autor traz o problema do período de trabalho como o problema que “mostra a questão fundamental da luta de classes no instante em que essa consciência aflora e ultrapassa o mero imediatismo da situação dada, num ponto condensado: o problema da violência como o ponto em que as “leis eternas” da economia capitalista falham e se tornam dialéticas, obrigando a entregar à ação consciente dos homens a decisão sobre o destino do desenvolvimento” (p 357-358).


20.1.1 Sendo importante ressaltar, aqui, que a violência significa para a burguesia algo totalmente daquilo que é para o proletariado:


[if !supportLists]a. [endif]Para Burguesia - a violência é o prosseguimento imediato de sua vida cotidiana (grifos meu). De um lado não é um problema propriamente novo. Por outro, é exatamente por não ser um problema novo que ela - a violência- não é capaz de resolver nenhuma das contradições sociais auto produzidas.

[if !supportLists]b. [endif]Para o proletariado - o uso da violência e sua eficácia dependem do grau em que o imediatismo da existência dada é superado (grifos meu). E, esse nível historicamente não reside num prosseguimento retilíneo do que é dado imediatamente. A consciência, por sua vez, é alcançada por diversas mediações sobre o todo da sociedade e a clara intenção de realização das tendências dialéticas do movimento. Tem que ser um movimento mediador do presente para o futuro (p.359).


[if !supportLists]21. [endif]Explica, o autor, que “o processo dialético em Marx metamorfoseia as próprias formas de objetivação dos objetos, num processo, num fluxo. No processo de reprodução simples do capital, esse modo de ser do processo que transforma as formas de objetivação aparece muito claramente . (...) Pois com ‘exceção de toda acumulação, a mera continuidade do processo de produção, ou a simples reprodução mais cedo ou mais tarde acaba transformando todo capital em capital acumulado ou em mais valia capitalizada. Ainda que ao entrar no processo de produção, esse capital tenha sido obtido com o trabalho pessoal de quem o realizou, mais cedo ou mais tarde ele acaba se tornando , sem equivalente, valor adquirido ou materialização, seja na forma dinheiro ou em outra do trabalho pago de outrem’” (p.361).


[if !supportLists]22. [endif] Levando tudo isso em conta , Lukács, abandonando a realidade imediata e encontrada pronta, traduz o processo dialético em Marx a partir da seguinte indagação: ‘um trabalhador numa fábrica de algodão produz apenas algodão? Não, produz capital. Produz os valores que servem novamente para comandar seu trabalho, para criar por meio deste novos valores’ (p.362).


[if !supportLists]23. [endif]Constata, portanto, que na sociedade capitalista o passador reina sobre o presente. E isso significa que o processo antagônico, conduzido não por uma consciência, mas apenas impulsionado por sua própria dinâmica imanente e cega, revela- se em todas as suas formas imediatas de manifestação como o domínio do passado sobre o presente, como domínio do capital sobre o trabalho. Significa que o pensamento que persiste nesse terreno imediatista se prende às respectivas formas solidificadas das etapas particulares e se confronta desarmado com as tendências ainda assim atuantes enquanto poderes enigmáticos (p.363).


[if !supportLists]24. [endif]A estrutura acima para Lukács, bebendo de Hegel, é a estrutura da “astúcia da razão” que, resumidamente, trata da constatação que há um antagonismo dialético que domina todos os fenômenos da sociedade capitalista.


[if !supportLists]25. [endif] A dialética permite, portanto, compreender a impossibilidade de uma sociedade puramente capitalista ser uma tendência do desenvolvimento.


25.1 Essa impossibilidade econômica da acumulação numa sociedade puramente não se expressa com “término” do capitalismo, mas com as ações que a aproximação impõe à classe dos capitalistas (...). As tendências de desenvolvimento da sociedade expressam-se numa transformação qualitativa (grifos meu) ininterrupta da estrutura da sociedade (p.365).


[if !supportLists]26. [endif]Doutro lado, no abandono da dialética e na veemência de dominar as transformações da estrutura da sociedade, a classe dominante acaba acelerando a efetivação daquelas tendências cujo o sentido é o seu próprio declínio.


[if !supportLists]27. [endif] Em termos de método, há uma distinção entre os “fatos” e as tendências ( ressaltando Lukács ao citar Marx).


[if !supportLists]28. [endif] “Nessa doutrina da realidade , que considera as tendências prevalecentes de todos o desenvolvimento como “mais reais” do que os fatos da empiria, aquela oposição ressaltada por nós no estudo das questões particulares do marxismo (...) adquire sua forma verdadeira, concreta e científica. Pois somente essa análise permite examinar o conceito de “fato” de maneira concreta, isto é, no fundamento social do seu nascimento e da sua existência ” (p. 367).


[if !supportLists]29. [endif]O desenvolvimento social e sua expressão em pensamento que dão forma ao “fato” - a partir de uma realidade por inteiro- ofereceram a possibilidade de submeter a natureza ao homem. Mas, serviram para encobrir o caráter histórico e social e a natureza desses fatos, que se baseia na relação entre homens, a fim de gerar poderes fantasmagóricos e estranhos opostos a ele.


[if !supportLists]30. [endif]Portanto, os fatos nada mais são do que partes, aspectos do processo como um todos, destacados, isolados artificialmente e cristalizados.


[if !supportLists]31. [endif]“Desse modo, a reificação sob essas formas é levada às últimas consequências: ela deixa de apontar dialeticamente para além de si mesma; sua dialética passa a ser mediada apenas pela dialética das formas imediatas de produção” (p.369).


[if !supportLists]32. [endif] Conclui, Lukács que o pensamento burguês permanece nessas formas como se elas fossem imediatas e originais. Procurando, a partir delas, compreender a economia sem saber que com isso exprime sua incapacidade de compreender seus próprios fundamentos sociais. E, para o proletariado, abre-se aqui a perspectiva de uma visão completa das formas de reificação que partindo de uma forma dialeticamente mais clara , refere a esta as formas mais distantes do processo de produção, incluindo-as na totalidade dialética e compreendendo-as (p.370).



Comentários Finais


- Foi percebido um erro de tradução na edição do livro usada. O erro está na página 358, na frase “entre direitos iguais quem decide é a violência”. A citação é do Livro Capital I e a tradução correta é “entre direitos iguais quem decide é a força”.


- Chegou-se a conclusão que o trecho estudado é um ótimo trecho para explicar porque o pensamento burguês deu erro. Mas, faltam elementos de análise sobre o pensamento do proletariado.




[if !supportFootnotes]

[endif]

[1] Tão enigmática como o espírito do povo de Hegel.

[if !supportFootnotes]



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