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RELATÓRIO - Reunião 19/09/2019 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 356-361)

Relatório – Reunião 19/09/2019

Para uma ontologia do ser social (p. 356-361)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.



PRESENTES: Marcus Orione, Thiago Barison, Thiago Calheiros, Pablo Biondi, Helena Duarte, Deise Martins, Irene Maestro, Ivan Palma, Regiane Macedo, Thamiris Molitor e Rodrigo Maluf.


1º Bloco –De “Trata-se, até agora, da forma mais pura de gnosiologia posta sobre si mesma” (p. 355). Até “Com isso o elemento matemático impulsiona sempre mais intensamente para que o peso, em modo crescentemente exclusivo, se translade à formal contraditoriedade nos objetos e métodos da transformação, e os próprios objetos como mera matéria-prima usados para as possibilidades de transformação.” (p. 356).

Relatório do bloco

A gnoseologia foi, por muito tempo, um complemento e uma adição à ontologia. Como o conhecimento era a finalidade, o critério do “acerto” era a correspondência entre o conceito e o objeto. A teoria do conhecimento somente se tornou independente quando o em-si foi tido como inapreensível (Kant) e as proposições passaram ser classificadas como verdadeiras ou falsas independentemente da concordância com o objeto. A teoria se torna um “ser-dirigido unilateral” (p. 356), como é o caso do neopositivismo. Gnosiologia como técnica de regulamentação da linguagem e de signos.


Questões de debate

I – Para o positivismo o real é incognoscível e a validade de um conhecimento se dá pela conformidade com as regras de linguagem.


2º Bloco – De“Todavia, tal linha não possibilita que seja implementada com toda consequência” (p. 356) até “mostra-se como o neopositivismo descuidadamente passa ao largo de todas as autênticas questões do conhecimento para tornar plausível uma manipulação prática imediata do problema.” (p. 358).

Relatório do bloco

Como sustenta o autor, “O autoengano do neopositivismo e, com ele, de muitas outras tendências, é o de se entregar a uma atitude exclusivamente gnosiológica, que se baseia em ignorar completamente a neutralidade ontológica do ser-em-si ante as outras categorias diferentemente dimensionadas do geral, do particular e do singular.” (p. 357). O geral não é um produto do ser que conhece, mas uma categoria da realidade em si existente. Há uma objetividade existente na própria realidade, que o neopositivismo, por outro lado, acredita ser resultado de uma manipulação subjetiva.

Os neopositivistas, ignorando a história da filosofia, não compreendem que “o singular, embora tão existente em si quanto o geral, não é menos mediado; que, por isso, para se conhecer o singular, é necessária uma atividade pensante do sujeito tal como quando do universal” (p. 357). Além disso, o neopositivismo cai na ilusão de acreditar que a dadidade empírica de um objeto, ou seja, o fato de um objeto se dar empiricamente para nós, não levanta nenhuma questão ontológica.

Questões de debate

II – Foi destacado pelo grupo o seguinte trecho:


“Sem dúvida, a parte do sujeito cognoscente no reflexo intelectual do geral é considerável; ele aparece na realidade em si existente apenas imediatamente ou isolado, independentemente de objetos ou relações singulares; deve-se, por isso, com a ajuda da análise, buscar obter tais objetos, relações etc.” (p. 358).


III – Herança hegeliana na questão da relação entre o geral e o particular. Ambos existem como abstração, mas não são “dados” da cabeça de alguém. O próprio singular é mediado por outras categorias abstratas. Geral e abstrato estão no real, na realidade posta


3º Bloco – De “Deixando de lado tais inevitáveis pequenas imperfeições, deve-se conceder ao neopositivismo (...)” (p. 358). Até “Em que pesem todos esses brilhantes resultados, não se pode esquecer a simples verdade de que esses tipos de reflexo apenas podem refletir determinados momentos da realidade, enquanto que, todavia, a realidade em si existente é feita de uma infinidade de outros componentes. (p. 363).


Relatório do bloco


Neopositivismo foi responsável pela implementação da unilateralidade da postura exclusivamente gnosiológica e lógica da realidade, esforçando-se, assim, para acabar com a diferença entre a realidade e sua própria imagem. Além disso, acrescenta o autor, o caráter reacionário do neopositivismo se expressa no fato dessa corrente fundamentar filosoficamente a manipulação formalista.

A partir daqui (p. 359) Lukács introduz como exemplo uma experiência intelectual conhecida de Einstein. Diante dos debates gerados, reproduzimos aqui parte do excerto. Nas palavras do autor:

“Einstein queria tornar popular, compreensível em geral, o enlace da geometria com a teoria geral da relatividade. Sua explicativa experiência intelectual é assim posta: »Comecemos pela descrição de um mundo no qual vivem apenas criaturas bidimensionais, e não tridimensionais como no nosso. O cinema nos acostumou com criaturas bidimensionais representando em uma tela bidemensional. Imaginemos agora que essa figuras-sobras, isto é, os atores na tela, realmente existem, que têm o poder do pensamento, que podem criar sua própria ciência, e que, para elas, uma tela bidimensional representa o espaço geométrico. Essas criaturas são incapazes de imaginar um mundo de quatro dimensões. Pode desviar uma linha reta; sabem o que é um círculo, mas são incapazes de construir uma esfera, pois significaria abandonar sua tela bidimensional.«a Como vimos, Einstein quer usar essa experiência intelectual como ilustração da relação entre a geometria e a física, para tornar compreensível o fato de que o espaço da física não é euclidiano. Por isso prossegue em seu comentário: »Estamos em situação semelhante. Estamos capacitados a desviar e curvar linha e superfícies, mas dificilmente podemos imaginar um espaço tridimensional desviado e curvo.« (...).Os seres bidimensionais de Einstein, portanto, não vivem e tampouco pensam sobre um mundo bidimensional. Pensamentos e sentimentos etc. são representados em filme, mas são pensamentos e sentimentos de seres humanos tridimensionais em uma realidade tridimensional. (O filme é apenas puramente, tecnicamente, manipulado como bidimensional,” (p. 359-360).


A geometria, por exemplo, não consegue comprovar seus teoremas por meio da experiência prática. A geometria, além de não ser descoberta na realidade física, reflete uma realidade reduzida à pura espacialidade e, enquanto tal, homogeneizada. (p. 361).


Questões de debate


IV – O exemplo que Lukács deu sobre Einstein gerou bastante debate no grupo.

Por um lado, parte do grupo argumentou que Lukács estaria criticando Einstein =, pois já vivemos a multidimensionalidade embora não a percebamos. Por outro lado, parte do grupo sustentou que o exemplo de Einstein seria apenas uma metáfora explicativa. Seria uma matematização da física e, justamente em razão da desconexão com a experiência, sua compreensão seria difícil.


V – Não podemos pensar as categorias lógicas em si mesmas. Linha do arame é uma representação. A regularidade sempre traz irregularidades, enquanto o modelo lógico as abstrai. A pureza categoria não existe, é tão somente uma tentativa categorial de reprodução da realidade.


VI – Se tentarmos explicar o mundo a partir de categorias lógicas, nunca se chegara ao mundo tal como ele realmente é, por isso a necessidade, para o autor, de uma ontologia. O tridimensional também é bidimensional. Assim, o bidimensional seria uma “meia verdade”.


VII – 40 seres humanos ou 50 árvores. Olha-se o aspecto quantitativo da perspectiva da comparação. 40 seres vivos + 50 seres vivos. Qualquer que seja o conteúdo da forma, 40 + 50 = 90. Matemática possui suas limitações formais.

VIII- Parece que Lukács critica o exemplo de Einstein e não sua teoria.Seres bidimensionais possuem dificuldades para entender os tridimensionais. Contudo, os seres são meros reflexos parciais de um mundo real. Os reflexos não podem ter ideações próprias. [Venus = tridimensional; Monalisa = bidimensional].


IX – O mundo já é multidimensional e, embora os reflexos possam ser bidimensionais, eles não alteram a multidimensionalidade do mundo. Einstein mostrou que vivemos numa bidimensionalidade, sem fazer uma relação teórica dessa bidimensionalidade. Vivemos bidimensionalidade em razão da representação que nos foi dada, mesmo o mundo sendo multidimensional. Não é porque as pessoas erram acerca da bidimensionalidade ou acertam que a teoria, como tal, está certa ou errada.


X – Relação entre realidade e abstração da realidade. Arame, por mais que represente uma linha, é bidimensional. Trata-se da insuficiência da representação ante a realidade. Centro da crítica ao Einstein: não percebe que o ser bidimensional não existe e é apenas uma representação do autêntico ser.


XI – Realidade é tridimensional antes da representação euclidiana. O problema não está no objeto, no mundo, mas na forma de representação. Por isso o problema é que as pessoas bidimensionais não existem, mas são apenas representações parciais.


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