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RELATÓRIO - Reunião 26/09/2019 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 363-374)

Relatório – Reunião 26/09/2019

Para uma ontologia do ser social (p. 363-374)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.



PRESENTES: Andreia, Daniel, Daniel Ferrer, Deise, Flávio Henrique, Irene, Isadora, Marcus, Odara, Pablo, Pedro, Rodrigo, Thamiris, Thiago.


Iniciamos na página 363.


1º Bloco (p. 363).


Retomando a problemática envolvendo o exemplo/metáfora de Einstein.


Refletiu-se se Lukács não estaria sendo “injusto” com Einstein, pois ao que parece o exemplo de Einstein (a finalidade do exemplo) estaria descolada do debate que Lukács está fazendo.


Porém, Lukács não está criticando a teoria de Einstein (o próprio autor diz isso literalmente), utilizou-se de parte do exemplo (ou a forma dele) para a sua crítica no texto.


Questiona-se se Einstein estaria sendo influenciado pelo neopositivismo.


Hegel critica o formalismo do saber matemático, físico, algo que é retomado pelo neopositivismo, isso considerando a forma como Lukacs está tratando. A teoria da relatividade é o oposto disso, não serve para o que o autor está tratando como manipulação neopositivista, que é o que se faz hoje na física com Newton (não obstante Einstein provar que Newton está errado, mas utiliza sua teoria para a criação/realização de coisas – ex. carro).


A primeira formulação de Einstein sobre relatividade era objetiva (teoria objetiva da relatividade). Ou seja, trazer a objetividade dos fenômenos. Não seria, portanto, um fenômeno da cabeça.


Ocorre que Lukacs extraiu um trecho de Einstein, de como as pessoas não conseguem entender uma realidade tridimensional ou quadridimensional fora do molde bidimensional e a dificuldade de fazer ciência fora disso, porém, não estaria criticando a teoria.


Uma interpretação sobre isso seria a seguinte. Os fatos estão sendo observados, enquanto cientista, mas há um limite dos observadores pela limitação material da possibilidade de verificação. Busca-se a verdade, mas temos limites materiais de verificação. O que se relacionaria com o exemplo bidimensional / tridimensional. Assim, o cientista tem um limite de conseguir observar as coisas, pela limitação material sobre aquilo. Limitação material da ciência diante do ser.


Obs. Erro na tradução, página 365, trecho: “Todos os eventos nele são partes de uma mesma espécie? (...) parece duvidoso que em tais questões filosóficas, que são discutidas como monismo, dualismo e pluralismo sejam discutidas possamos encontrar em geral um conteúdo teórico” (sugerir suprimir a parte que grifamos).



2º Bloco (pág. 366)


Qual é a unidade dialética a que se refere o autor?


Uma interpretação possível é que está relacionado ao argumento central do livro: a historicidade da ontologia. Lukács parte de uma percepção empírica, de que o mundo nasce de uma natureza inorgânica e em algum momento da história surge a vida, que demanda uma nova compreensão ontológica (pois os elementos da natureza, tal como a pedra, é diferente do elemento vida) e a partir da vida surge a sociedade (entre os animais estão os seres humanos – tem condição de der social). Assim, seriam três realidades ontológicas distintas? Lukács estaria debatendo se seria uma ontologia solo ou três ontologias e como a ciência lida com esses seres em si.


Sobre unidade e diversidade. A unidade está desde o ser inorgânico. Uma interpretação possível seria que o autor estaria negando a possibilidade de uma ciência unitária.


Em “Historia e Consciência de Classe” (HCC) o autor não estaria fazendo debate de método. Segundo o autor, em HCC, o que distingue a abordagem do método marxista não é a predominância da economia, mas a predominância da totalidade.


Os neopositivistas tentam juntar as ciências, harmonizar os princípios. Mas para Lukács o primeiro critério de harmonizar uma unidade é o próprio ser (o elemento comum).


Problema do uno e do múltiplo, esse á um debate que o autor está colocando.


Se algo é uno não deve se basear na ciência, mas no ser – início da história (que pode ser qualquer coisa – não significa necessariamente o ser).


Ele quer construir o unitário, mas com outro procedimento, o do próprio ser (unidade na diversidade).


Há o ser que é total, que parte do inorgânico, que seria o ser primário. O ser orgânico e o social são outros, mas ainda se remetem à condição do ser.


Dissemos que em HCC está se fazendo epsteomologia, não ontologia. Aqui ele realiza uma ruptura, mas que tem relação com o debate anterior, com a procura de uma totalidade. A epsteomologia deve ser deduzida pelo real.


Embora tenha debatido muito com Kant, tratava no HCC de forma crítica a teoria burguesa.


Foi pontuado que essa passagem reforça que critica imanente e ontologia devem ser vistas como independentes, apesar de ser possível aproximá-las. Em Ontologia ele estaria fazendo um debate no plano da abstração. Na crítica imanente deve-se partir do concreto. Assim, a tese de Lukács não faz isso, está trabalhando em plano de abstração. Divergência: essa contradição não está no fenômeno natural em si, mas na unidade da diversidade, na diferenciação nas esferas do ser em si (contradição no sentido dialético – ser inorgânico formado a partir do orgânico, ser social formado a partir do ser inorgânico). Lukács postula a partir de constatação puramente empírica – a partir de dados da realidade: surgem pedras, depois bactérias, depois seres humanos, etc., que são dados empíricos – e a partir disso o autor tenta construir essa ontologia, a partir da contrariedade, contradição historicisada (não existia antes, passou a existir depois).


Essa reflexão está aberta (abstração ou não).


3º Bloco (pág. 369)


Questão colocada: é possível aproximar o debate de Lukács no trecho (sobre manipulação) com o que Marx debatia sobre a questão do trabalho intelectual, como uma forma de dominação da burguesia frente ao proletariado, como uma categorização de dominação (ciência criando categóricas unificadas, necessárias para a dominação).


Uma interpretação possível sobre o debate é que os neopositivistas querem uma noção de ciência que busca controlar os fatos empíricos e tudo aquilo que for diferente disso (como, por exemplo, ontologia.) seria metafísico. No fundo os neopositivistas estão incorrendo na metafísica que tanto rejeitam, desprezando a realizada em nome de uma lógica “pura”.


A questão da manipulação está presente (ter finalidades manipuladoras).


Sobre Schröedinger, o autor é kantiano, busca entender a biologia a partir da parte matemática da física, com a biologia se reportando, em última instância à matemática (abstrata).


Lukács não toma posição sobre Schröedinger, mas elogia a tentativa (apesar de existirem tentativas melhores). O autor estaria criticando os demais (neopositivistas).


Interessante a separação que o autor faz entre a definição do problema e a tentativa de entendê-lo.


Ainda sobre Schröedinger e o experimento sobre a imprevisibilidade das partículas subatômicas (experimento com o gato). Schröedinger quer especular a possibilidade da imprevisibilidade real subatômica impactar na vida macro. Supõe um dispositivo que libera um veneno em um gato, preso numa caixa. O observador não sabe, a priori, se o dispositivo foi ativado ou não, somente saberá com a observação/abertura da caixa/medição, antes disso, o gato estaria vivo e morto (supõe-se vivo e morto). Questão relevante refere-se à concepção de que todo o fundamento se baseia no fato de que qualquer interferência colocaria em colapso o equilíbrio das partículas subatômicas (assim, se olhar o gato já interferiria, com a observação empírica se obteria a constatação – gato vivo ou gato morto –, mas com o sistema fechado – sem a observação empírica – o gato estaria vivo e morto).


Questão do ser – gato vivo ou morto – há um ser – e há uma matemática – gato vivo e morto ao mesmo tempo. Com a nossa percepção (observarão ao abrir a caixa) o gato estará vivo ou morto, assim, quando a percepção chega ao gato, já interferiu no mundo quântico, eliminando a multiplicidade de possibilidades. Antes da percepção, então, estará morto e vivo ao mesmo tempo (isso demonstra um caráter hegeliano).



4º Bloco (pág. 374)


Wittgenstein chegou a flertar com o neopositivismo, circulo de Viena.


No fundo, como Lukács critica o neopositivismo (neopositivistas iludidos pelo acaso, com leis que não regem o real, o real é sempre casual). Lukács coloca que Wittgenstein chega a um limite que, a partir de certo ponto, estaria numa metafísica. Afirma-se que nada é possível ser dito (isso já é uma afirmação), ontologia irracionalista – um materialismo aleatório de Althusser.


A negação da ontologia tem um componente ontológico, que pode não estar revelado, mas revela outra compreensão da ontologia.


Lukács vai falar, no decorrer do texto, sobre o lugar do acaso na ontologia. A concepção de ciência, para dizer o que o mundo é, rege-se por leis que não admitem, em tese, o acaso. Como então pode o mundo ser regido por leis e ao mesmo tempo essas leis permitirem o acaso?


O nexo causal, nos positivismos de matriz kantiana, é o elo que sobra de ontológico e Wittgenstein leva a questão às últimas consequências. Casual e causal, Wittgenstein substitui causal (causa e efeito) por casual (aleatório). Seria “idealismo aleatório”.


Pensando a partir de Hegel, a física quântica tem uma relevância, aborda a aleatoriedade dos movimentos das partículas, etc. Há aleatoriedade, mas há uma causalidade (as partículas subatômicas estão aleatórias, mas os átomos estão em seus lugares e a vida se reproduz). Apesar do movimento, os átomos estão causais, funcionando.


Obs. Erro na tradução, página 373, trecho: “A ideia dos antigos era mais clara uma vez que reconheciam um imite claro (...)” (a parte que grifamos seria “limite”).



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