RELATÓRIO - Reunião 03/10/2019 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 373-382)
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Relatório – Reunião 03/10/2019
Para uma ontologia do ser social (p. 373-382)
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
PRESENTES: Marcus Orione, Thiago Calheiros, Pedro Pinto, Helena Duarte, Andréa Lacevicius, Pablo Biondi, Thiago Barison, Thamiris Evaristo, Ivan de Palma, Alexandre De Chiara, Isadora Brandão.
PRIMEIRO BLOCO - Início da leitura e debate na página 373, na frase “É, todavia, peculiar e interessante que, em Wittgenstein o estilo...”.
Para Lukács, a ontologia irracionalista - encarnada pelo pensamento do filósofo Wittgenstein – representa uma confissão de falência do seu próprio método. E, posteriormente a confissão da ausência de neutralidade desse pensamento. Para o autor seria a bancarrota do método irracionalista.
Wittgenstein se localizaria na constatação de que não há saída com o neopositivismo. Porém seu pensamento encontra limites ao se conformar com o silêncio sobre o mundo.
Opondo-se ao neopositivismo, o irracionalismo admite o casual como resposta para as indagações sem repostas. Esse é o ponto que leva a falência do seu método. Se admitirmos que a realidade possa ser explicada de modo lógico e causal, e o real se torna totalmente desconhecido, o resta para esse método irracionalista é às vezes coincidir com o real.
O casual seria a prova de que esse método encontrou sua falência. Não é que o real seja totalmente casual, é que sobre o real não se fala nada, fica-se no silêncio.
Para Lukács isso seria o prenúncio de uma ontologia. Porque quando se chega nessa irracionalidade você se torna ontológico, porque você chega ao ser, ou pelo menos, na necessidade do ser.
Nesse sentido, o ser estaria preponderando sobre o conhecimento puro. Porque o conhecimento puro apenas acidentalmente vai coincidir com o seu objeto. Seria uma ontologia implícita.
Para Lukács todos os pensadores teriam uma ontologia?
SEGUNDO BLOCO – Início na página 376, com a frase “Existencialismo – Aqui a estreita ligação entre Wittgenstein e o Existencialismo é claramente visível”.
Lukács começa por sustentar uma proximidade entre Wittgenstein e o Existencialismo.
“‘Pode-se, por exemplo’, explicou Scheler, ‘fazer investigações fenomenológicas sobre o diabo, deve-se primeiro apenas colocar entre parênteses a questão da existência do diabo’. — ‘Claro’, respondi, ‘e quando estiver pronto a imagem fenomenológica do diabo, abre-se então o parêntese — e o diabo em carne e osso estará diante de nós.’ Scheler riu, deu de ombros e nada respondeu”.
O exemplo do Diabo sintetizaria o pensamento existencialista na sua crítica à fenomenologia, pois, pode-se explica o Diabo fenomelogicamente, deixando de lado o debate sobre sua existência – colocar entre parênteses. Para o existencialismo primeiro é necessário dizer se ele existe, logo o problema seria ontológico e não de representação.
A grande dificuldade desse texto decorre de localizar precisamente o que o autor está criticando. Porque nesse trecho ele está criticando a obra base do Existencialismo que é uma obra fenomenológica do Russel.
“Colocar entre parênteses” seria suspender as coisas. Porque a fenomenologia do Russel Se da conta de que ao investigar um objeto, na verdade, se estaria investigando seus fenômenos. Esse objeto teria uma essência dada previamente. É um debate sobre a existência dos objetos em análise, e que essa existência se da previamente.
No direito é muito comum esse tipo de abordagem existencialista ou fenomenológica. A essência já está dada, e vamos debatendo os seus fenômenos. A essência pertence a ontologia do ser humano, já está posto, não nos cabe investiga-la.
TERCEIRO BLOCO – página 378, iniciando na frase “Contudo, já na interpretação do objeto e método da fenomenologia”.
Lukács desfila os filósofos progressivamente para chegar até o seu entendimento da ontologia, passando pelo que ele classifica de ontologia casual, ontologia existencial e ontologia com a presença do homem.
Para o autor, a filosofia de Heidegger localizaria o homem no centro do debate. Pois a natureza se apresentaria sem uma ontologia própria, sem uma investigação ou autonomia, nesse sentido ela se torna um objeto de manipulação do Ser social.
QUARTO BLOCO – Página 379 começa na página “Esta é, visivelmente, a maior oposição possível para com o neopositivismo”.
Para o autor, Heidegger tomou uma certa gnosiologia, que não consegue apreender o ser, em uma ontologia. Tornou o princípio da inapreensão do ser o princípio de uma ontologia.
A ontologia de Heidegger aparece como uma complementação orgânica do neopositivismo. Porque sua ontologia é orientada exclusivamente aos seres humanos em sociedade.Não seria uma ontologia real, mas um “elevar ao ontológico da situação geral da sociedade” manipulada no momento do capitalismo desenvolvido.
A filosofia de Heidegger não constituiria uma oposição ao neopositivismo, mas uma complementação, apenas deixa-se soar um desconforto wittgensteiniano em Heidegger.
A condição humana alienada: quando Lukács se refere a essa teoria do capitalismo manipulado ele quer se referir ao momento em que o capitalismo dominou todas as esferas da vida, mas ele também está tratando da ciência burguesa mais diretamente.
Quando Ricardo ou Adam Smith estudam a economia política eles estavam preocupados com as categorias da economia política,em certo sentido, também se preocupavam em aperfeiçoar essa economia. Porém, a teoria burguesa decadente não faz mais essas perguntas basilares sobre os conceitos, eles querem vender mais mercadorias, tão somente. Seria a teoria preocupada apenas com essa manipulação imediata, para aperfeiçoá-la.
Heiddeger teria tomado essa condição de capitalismo manipulável e transformou essa condição empírica imediata e algo ontológico.
“Disto decorre, como veremos imediatamente, que a determinação do fenômeno, desde o início, tem em vista a fundação fenomenológica do inteiro mundo manipulado do cotidiano capitalista, como Günther Anders notou sagazmente (...)”.
O fenômeno e a essência: Heiddeger fazendo um processo de identidade imediata com esse mundo manipulado dentro da teoria filosófica. Lukács vai mostrando como isso se dá. O fenômeno para Heiddeger é o que é imediatamente dado tão somente, é o mostrar e não mostrar.
Fenômeno não é só o que aparece para Lukács, mas também aquilo que demonstra a essência. Nesse sentido, não é tudo o que aparece que é o fenômeno de alguma essência. O fenômeno pode inclusive não aparecer.
O aparecer é um não mostrar-se, o fenômeno não mostra a essência. Assim, levando-se ao limite, é uma contradição insuperável. Com isso ele da uma nova base para o arbítrio na intuição das essências. Vai ficar dependente do sujeito que pode intuir a essência arbitrariamente, se o fenômeno não trouxer nada da essência, fica tudo na arbitrariedade do sujeito. Isso expressa duas tendências contraditórias: a generalidade da vida manipulada, esses fenômenos que ocultam a essência e o Protesto, porque o sujeito intui uma outra essência daqueles fenômenos, ficando puramente na interioridade do sujeito.
Em termos da filosofia existencialista de Kierkegaard: o ser humano é como uma cebola, cada casca é uma esfera da vida. O sujeito participante da família, do trabalho, em cada uma dessas esferas ele exerce um papel que o contexto e as condição o coloca. Se você for tirando todas essas cascas não sobra nada lá dentro. O existencialismo nessa linha vai para a ação teleológica em situações limites. Lukács vai dizer que isso está puramente no interior do sujeito.
Existira a possibilidade de se expressar na aparência algo que não esteja absolutamente autorizado pela essência, segundo Heiddeger? Sim, essa seria uma das críticas de Lukács, já que isso seria totalmente arbitrário. Nesse sentido, ele se torna muito próximo da questão casual aleatória do neopositivismo.
Paramos na página 382 na frase:“Veremos a seguir essa tendência à abstratividade hipostasiada brota necessariamente do cerne da posição heideggeriana...”.
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