RELATÓRIO - Reunião 17/10/2019 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 392-401)
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Relatório – Reunião 17/10/2019
Para uma ontologia do ser social (p. 392-401)
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
PRESENTES: Flávio Batista, Marcus Orione, Thiago Barison, Ivan Palma, Rodrigo Maluf, Odara, Thiago Arcanjo, Henrique, Thamíris Evaristo.
Parte que se inicia na p. 392 (“aqui se mostra...”) até final 393 (“... sendo-sido”).
- texto: debate sobre Heidegger, neopositivistas e o conceito de tempo.
- debate: Impressão de que passado, presente, futuro seriam a mesma coisa para Heiddeger.
Parece que ele toma o tempo como ser. Se se pensa o passado como ser, “atualiza-se” o passado (sendo que propriamente ele não existe mais). Quando se pensa no passado se reconstrói e o atualiza no presente; ao mesmo tempo quando se pensa no futuro também e está no presente; futuro e passado, nesse sentido, não existiriam. Por isso, segundo essa linha de pensamento, é possível pensar na reconstrução desses tempos (um ser que continua sendo ou já é reproduzido no presente): “futuro-presencizante-sendo-sido”.
Importância desse debate para o capital: sempre trabalha o futuro no presente (ex: crédito), eterno presente, fim da história.
Questão: por que tempo e não história?
Possibilidade: individualismo. O tempo é “seu”, individual, e não história da coletividade.
Outra possibilidade: diferenças entre o tempo no capitalismo e o tempo em outros modos de produção.
O capitalismo como tempo em progressão, ciência descobrindo coisas, marcha para o “futuro”, enquanto o tempo medieval, por exemplo, seria circular, sempre voltando para bíblia.
Início da p. 394 (“como futuro-presencizante-sendo-sido...”) até início p. 396 (“... e da sociedade.”).
- texto: continua discussão sobre tempo e Heidegger, inclui o elemento da historicidade em Heidegger, existencialismo, Sartre e sua aproximação do marxismo.
- debate: Ele está debatendo ontologia não materializante no existencialismo (conceito de existencialismo bem amplo: Russel a Sartre), recuperando uma tradição de pensamento, agora ele vai fazer uma disputa com o Sartre.
Sugestão de inclusão de passagem importante para o debate na ata: “Referindo-se à essencial questão ontológica, todavia, ambos os pontos de vista estão bastante próximos; pois se o tempo é substituído pela medida do tempo ou pela vivência do tempo, ontologicamente não faz, mesmo, nenhuma diferença decisiva: em ambos os casos, por último, um reflexo subjetivo entra no lugar da realidade em-si existente.” 394
Porque a vivência é o passado que você vive e atualiza então tudo é presente. Vivência é o centro da questão. Lukács fala que não faz nenhuma diferença, um reflexo subjetivo que percebe essa realidade, não é o que o tempo de fato é, é o que o indivíduo percebe enquanto passado e futuro. Parece com a discussão da linguagem.
Nota de rodapé interessante na p. 396: “Sinto-me obrigado a esclarecer, também aqui, que meu livro publicado em 1923, »História e Consciência de Classe«, contribuiu para suscitar ilusões que se poderia – em sentido filosófico – ser seguidor do marxismo e, ao mesmo tempo, negar a dialética na natureza.”
Outra passagem importante: “O propósito dessa observação, que introdutoriamente trata da situação atual da ontologia e deságua na investigação das concepções de Marx sobre ontologia do ser social, é apenas o de fornecer um quadro crítico do estado atual do problema, para teoricamente poder fundamentar a conexão indissolúvel, mas dialeticamente plena de contradições, entre a ontologia geral (ontologia do ser natural) e a ontologia do ser social.” p. 395
Ele recupera um quadro para mostrar que há um problema identificado. Defende a existência de uma dialética da natureza. Isso muda a ontologia, não é mais subjetiva, tem outro elemento que independe do “meu” olhar. Mesmo antes de se descobrir a dialética a realidade já era dialética. Mesmo se eu não estiver olhando a natureza está lá se comportando da mesma forma.
Crítica da possibilidade da superação da alienação, sem materialidade (?).
Interessante o fato de que identificamos existencialismo com Sartre e Beauvoir mas essa é uma corrente maior com vários outros autores que não identificamos como fazendo parte. Lukács faz questão de identificar a crítica e também o “elogio” ao Sartre.
Lukacs faz um recorte da história do conhecimento a partir do que ele vai criticar em seguida. Método interessante de recuperar e criticar mas não o todo do autor, e sim o que ele quer debater, bom foco, um fio específico, precisamos aprender com isso.
Início no parágrafo da p. 396 (“a última obra...”) até começo da p. 398 (“... ontologicamente objetivo”).
- texto: segue criticando Sartre e o que ele entende enquanto dialética e seus preconceitos neopositivistas, debate sobre empirismo e ciências humanas (?).
Representação interditando o ontológico. Uma coisa é a vivência do tempo, outra coisa é o tempo em si.
Não é porque a gente pode atualizar o passado pelo que a gente vive no presente que necessariamente o passado só existe nessa representação: ele existe objetivamente.
Inclusive através de determinações que desconhecemos, podendo influir no presente de diversas maneiras. O que não significa que não possamos refletir o que ficou do passado em nosso presente, não se utilizando de representações, mas de conseqüências reais (ex: ditadura). O que também não significa que possamos “reviver”, rexaminar, o passado de qualquer maneira, sem método, conforme nossa vivência, pois sequer o passado é inteiramente compreendido por nós.
Antologia anterior ao homem que pode distinguir, como isso pode tirar a representação do homem? Você precisa da antologia anterior ao homem? Mas como fazer isso sem as representações? O ser fica interditado, o olhar do pesquisador está observando no presente.
Dúvida: frase do Sartre “»A única teoria do conhecimento que poderia hoje estar em vigor é a que está fundada sobre a seguinte verdade da microfísica: ‹o experimentador é parte integrante do sistema experimental›. Ela é a única que permite o afastamento de toda e qualquer ilusão idealista, a única que evidencia o ser humano real no mundo real.”. (p. 397) Por que está errado?
Na história isso ocorre mesmo, o pesquisador faz parte do experimento. O que não significa que não existe objetividade fora do experimento. Parece uma ponta solta no texto, o autor não argumenta o porquê de essa frase do Sartre ser entendida por ele como preconceito neopositivista, fica injustificado.
Problemas kantianos, hegelianos ou empiristas? Como ele vai resolver essa questão da ciência? O ser tem que ter uma auto existência. Talvez resolva pela ontologia da natureza, por isso a crítica à possibilidade da representação do real? A natureza independente da nossa observação. O real é ideal.
Tem a coisa em si e a representação da coisa. O desafio é fazer a representação coincidir com a coisa em si. Nesse sentido, Lukács parece kantiano, volta à representação, qual é o teste da verdade? Representação se distanciando da realidade, como faz?
Kant entende que a correspondência pode ser adequada a partir da apreensão pela razão das categorias do ser.
São Tomas de Aquino também pensa sobre essa correspondência. Parece que se aproxima do que Lukács está falando (polêmica no debate).
Mas e Deus? Não dá para tirar a importância da religião no pensamento de Tomas de Aquino, teria um “imperativo categórico” acima de toda a teoria de Tomas para emprestar validade a todo esse sistema de pensamento, não sendo possível essa correspondência. Não é desimportante a presença de Deus nesse filósofo.
Discordância: pode ter problemáticas filosóficas fora da discussão da religião, seria aproveitável para esse debate.
Empirismo (na consideração do sujeito conhecedor) versus tentativa da correspondência entre o ser objetivo e a representação do ser. Lukács perde alguns debates, algumas mediações marxistas (quem é o sujeito do conhecimento, movimento da abstração real etc).
A chave é Hegel, sair do campo da concepção representacional do conhecimento.
Desafio: a coisa em si do Hegel é ideal, não material. Como recuperar essa concepção no real?
Ir para Marx sem renunciar ao ganho alcançado pela epistemologia do Hegel.
Lukács acredita que é necessário primeiramente construir sua ontologia para após pensar na epistemologia, não negando a epistemologia.
Começo do tópico “A filosofia do presente e a necessidade religiosa” até começo da p. 399 (“... continuamente consciente”).
- texto: neopositivismo versus existencialismo e construção de uma ontologia, ontologia e religião.
- debate: “Já que seu tratamento pressupõe uma abordagem mais profunda do problema da ética (...)” p. 398. O que ele quer dizer com isso? Exclui ou inclui a ética? Na perspectiva da própria elaboração teórica dele, do ponto de vista prático.
Parece que Lukács diz que “o que eu estou pensando agora não inclui isso, depois penso”.
A ética em Lukács seria diferente de moral.
Indicação de livro do Sergio Lessa sobre ética em Lukács em que recupera trechos que o autor trata sobre o assunto.
Parágrafo da p. 399 (“Todavia ...”) até acabar a p. 401 (“... científico-naturais.”).
- texto: segue debate sobre religião, religião e representação; religião e ontologia, Planck e Kant (materialismo em Kant?).
-debate: A falta de uma ontologia no neopositivismo abre espaço para a religião. Por enquanto o autor está anunciando que irá tratar dos problemas, ainda não tratou.
Observação do Lênin interessante: “Não sem motivo viu Lenin na visão kantiana da coisa em si um oscilar entre materialismo e idealismo.” p. 401.
Esse materialismo não é histórico dialético, é mais tendente ao empirismo.
Visão diferente: haveria um confrontamento com a visão do empirismo. Faz conciliação entre Kant e materialismo? Está criticando ou fazendo um aprofundamento da razão pura? Será que tem esse compromisso com empirismo? Parece diferente da proposição do Kant.
Kant criticava muito o Hume, não era o que ele estava fazendo. Por isso Lukács fala em ocilação?
Nunca vimos aproximação de Kant ao materialismo, fora do idealismo. Foucault seria kantiano e materialista, contribuição materialista à teoria kantiana. Seria possível essa leitura materialista de Kant?
Está tentando tirar a metafísica religiosa, tenta dar racionalidade à metafísica. Proposta de Kant de razão de todos os seres humanos não dependendo da fé é uma afronta à igreja. Persiste a dúvida de se isso chega a ser materialista.
Terminamos a página 401, começamos semana que vem na 402.
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