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RELATÓRIO - Reunião 02/09/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 509-518)

Relatório – Reunião 02/09/2021

Para uma ontologia do ser social (p.509-518)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.



1) Discrepância entre o lugar da teleologia no percurso determinado para o sujeito-objeto idêntico e entre sua determinação como categoria que expressa a diferença e a oposição entre natureza e sociedade. Antinomia que revela uma problemática central da totalidade da filosofia de Hegel: a contradição entre sistema e método (p. 509).


COMENTÁRIO: razão que se coloca por si mesmo; lógica como um problema por conta da hierarquia no sistema hegeliano; inconsciência/consciência e ampliação da razão; problemas em elementos de representação que compõem a explicação ontológica do ser. Razão no ápice desse sistema, de representações a partir da razão.

Almiro: relação entre sistema e método; como um problema uma Hegel.


2) Em Hegel, a lógica precede a natureza e a filosofia do espírito adquire um significado ontológico: categorias ontológicas como categorias do pensamento (p. 510). A Lógica de Hegel como o sistema da razão pura, do pensamento puro. Natureza e ser social como um único processo teleológico unitário: “tudo o que foi categoricamente elaborado no processo de desdobramento da ideia torna-se realidade e, enquanto realidade, enriquecida pela realidade própria da ideia (…) renovado autoenriquecer-se da ideia, não apenas como ideia, mas como a própria realidade.” (p. 510).


COMENTÁRIO: a ideia assume essa categoria de ser.


COMENTÁRIO: ao criar o mundo, cria-se uma lógica desse mundo; tema que aparece com a questão de Deus. Juntar isso com o ser social, Deus estará de novo na perspectiva hegeliana, posto que se parte da noção da criação.


COMENTÁRIO: parte que é do “esterco” que Lukács tenta retirar; razão assumindo papel místico de Deus; fracasso ontológico das posições anteriores. Tentar depurar disso (da filosofia hegeliana) para a ontologia do ser social de Lukács.


COMENTÁRIO: debate filosófico entre deísmo e teísmo; dificuldade de se pensar a ontologia a partir disso.


3) Sistema de pensamento lógico de Hegel o conduz a uma visão de mundo tradicional. Em sistemas teológico-teleológicos precedentes, o trabalho, com frequência, adotado em um modo inconsciente-espontâneo. Hegel reconheceu e tomou consciência da essência do trabalho em realista terrenidade; mas teve de colocar de lado o seu conhecimento, sua lógica com novas visões ontológicas. Defeitos básicos, que decorrem de sua ontologia fundada na lógica; lógica plena de explicações isoladas, mas incapaz de superar esses defeitos. Influência de Hegel nos pensamentos de seu tempo e até os dias atuais, cuja influência inibiu o desenvolvimento do pensamento (p. 511).


4) Posição da lógica que aponta para um acento religioso do sistema hegeliano. Ambiguidade na concepção hegeliana da religião, que não tem relação com o anterior dilema belarminiano (versão da dupla verdade – ciências naturais representarem a realidade objetiva ou apenas possibilitarem a manipulação prática; debate que, para Lukács, domina a filosofia burguesa, vide, por exemplo, pp. 337-338). Curiosamente, Hegel “quase não se preocupa com a necessidade religiosa enquanto tal”, como se a tratasse ironicamente e com desdém. Contudo, há uma posição ambígua. Prossegue as tradições iluministas de uma religião da razão, ainda que de forma modificada ante as circunstâncias também modificadas; nesse caso, diferente de iluministas alemães, Hegel não se apresenta contra os conteúdos da religião, pois seriam realidades históricas, etapas do percurso do espírito a si próprio. O racional da religião e filosofia conteriam as mesmas categorias e conexões dialéticas, não ao nível do conceito, mas apenas ao nível da representação (p. 512). Visão hegeliana de religião influenciada pela posição de Napoleão para com a religião, mesmo após a sua queda. Essa ambiguidade estaria no reconhecimento histórico da religião como operante da realidade do espírito, mas sem uma relação mais profunda com o seu conteúdo (p. 513).


COMENTÁRIO: racional da religião é inferior (patamar da representação), porque a filosofia conduz ao conceito.


COMENTÁRIO: estruturalmente religião e filosofia veriam o mundo em um mesmo modo, mas em patamares diferentes; visão religiosa de Hegel. Deus pôs o espírito no mundo, tornado absoluto pelo desenvolvimento histórico. Religião vê isso de um modo superficial, mas acredita na mesma coisa: “Deus pôs o mundo”. O tom da vontade de Deus para o desenvolvimento ulterior é a diferença.


COMENTÁRIO: novidade de Hegel em relação a outros pensadores no que tange ao conceito de Deus. Para Hegel, ao contrário da tradição filosófica teológica, sequer Deus é perfeito, também passará pelo caminho da dialética, é algo que se desenvolve na comparação entre religião e filosofia, a religião trabalha com imagem (representação) que a filosofia vai querer entender. No prefácio à Fenomenologia do Espírito, Hegel trata o papel rebaixado da ciência do tempo dele, que não se contenta em saber efetivamente; quer fazer da filosofia algo que não seja apenas um amor ao saber, mas ser um saber efetivo. Religião dá o ardor, o “zelo em chamas”, mas só oferece imagens do mundo (parábolas, passagens); dá inspiração, mas o conceito trabalha a força que essa inspiração tem e em direção ao universal e à transformação. É o conceito que vai fazer entender.


COMENTÁRIO: a religião oferece a representação, com essa força imagética; e o conceito é mais que a representação, é o processo dialético de extrair o ser-em-si nessa relação com a representação. Representação é um “start” da dialética, mas não é a dialética.


COMENTÁRIO: Napoleão invade os Estados Germânicos e “moderniza” a administração dos lugares; foi a promessa de modernização para muita gente. Ideia de “fim da história” com Napoleão; essa percepção do presente não muda, mesmo quando há a Restauração.


COMENTÁRIO: tentativa de se alcançar o “em si e para si” de forma absoluta; papel da representação no “em si e para si” nesse momento absoluto.


COMENTÁRIO: espírito absoluto sendo essente em si e para si é o fim da história.


COMENTÁRIO: valor que Hegel reconhece na religião, que é o de identificar momentos determinados do absoluto, que seria um aspecto positivo da religião, ainda que seja representação.


COMENTÁRIO: a religião é a imagem adequada do absoluto, o conceito quem dá é a filosofia


COMENTÁRIO: dois níveis de problemas que Lukács identifica em Hegel: visão de mundo religiosa e uma leitura da história em termos lógicos. Nem o Hegel tardio estava vivendo o presente que acreditava ter visto antes, mas continuava fiel, em certa medida, àquilo que ele mesmo desenvolveu (ontologia baseada na lógica). Religião como algo histórico, mas que não alterava a ontologia religiosa.


COMENTÁRIO: diferença entre matriz judaico-cristã e outra (citação de livro de Joãosinho Beckenkamp); visível reconciliação de Hegel com o protestantismo oficial. A própria religião vai se adequando a uma certa racionalidade decorrente da realidade.


5) Contraste entre o teleológico além no sistema lógico e uma terrenidade no método dialético apreendido ontologicamente (p. 514). Filosofia hegeliana não possui nenhum papel nas “lutas espirituais acerca da fundamentação filosófica da necessidade religiosa”. Confronto crítico ininterrupto com Hegel: questão vital para o marxismo e duplo e, ainda assim unitário, sentido de crítica dos elementos retrógados e prossecução crítica dos elementos progressistas (p. 514). Análise das “profundas antinomias no sistema de Hegel” apenas como trabalho preparatório para o esclarecimento de uma ontologia do ser social, uma necessária renovação do marxismo numa ontologia fundada e fundante, que encontre na realidade objetiva da natureza uma base real do ser social e seja, ao mesmo tempo, capaz de descrevê-lo em sua simultânea identidade e diversidade para com a ontologia da natureza (p. 515). Lukács passa a demonstrar os fundamentos e princípios ontológicos fundamentais da dialética de Hegel em suas conexões essenciais, não apenas em casos isolados que contradizem as falsas construções do sistema fundado na lógica.


COMENTÁRIO: “re-cordação”, o que se passa é necessário para chegar ao conhecimento.


COMENTÁRIO: síntese de críticas do marxismo a Hegel; Lukács cita as críticas de Marx e Lênin.


COMENTÁRIO: relatório da reunião anterior destaca os pontos identificados por Lukács como antinomias em sistema Hegel: lógica homogênea e realidade heterogênea (hierarquização), ontologia natural e ontologia social, sistema e método e religião (representação) e filosofia (conceito).


COMENTÁRIO: no início desse capítulo, por “esterco das contradições” entende como o reconhecimento da contraditoriedade do presente, como problema não apenas do pensamento, da realidade enquanto tal, como problema ontológico primário, mas para além do presente. Expressão do Marx em relação a Ricardo. Quem fez essa tarefa mais próxima teria sido Lênin; mas Althusser também partiria daí em relação a Marx


COMENTÁRIO: Althusser faz debate indireto com Lukács, ainda que não o cite também.


6) A ontologia dialética de Hegel e as determinações de reflexão (p. 515). Distorções causadas pelo domínio metodológico dos princípios lógicos. Originalidade de Hegel, sua atualidade para questões que a ontologia do ser social tem de resolver. Distorções que não alteram sua importância; “efeito deformante da prioridade metodológica da lógica em seu sistema”. Na história do pensamento humano, Hegel aparentava ocupar a posição de uma via definitiva, mas, em realidade, tratou de temas inexplorados, ainda que não seja o único na história da filosofia; semelhante, neste aspecto, a Aristóteles, que foi combatido como obstáculo ao desenvolvimento posterior, mas foi inovador, abriu caminho a novas visões (mesmo que não raramente falsas, confusas).


7) Após uma onda anti-hegeliana do período pós-revolucionário, emergiu o interesse na visão de realidade concreta de Hegel, o que levou a um movimento filosófico que tinha por fim sua reabilitação (p. 516). Trata-se de identificar a influência de Hegel no surgimento e desenvolvimento do marxismo, e não sua conversão (“por uma segunda vez”) em um filósofo do conservadorismo. Engels e Lênin tentaram, o primeiro não teria conseguido em razão da substituição da dialética na consciência dos socialistas de então pelo kantismo e pelo neopositivismo; o segundo, por conta do “enrijecimento e deformação do marxismo no período stalinista”.


8) Retomada das grandes tradições filosóficas de Marx nos últimos anos; Lukács aponta que as observações seguintes acerca de Hegel seguem as sinalizações de Marx – iluminar a conexão e a diferença qualitativa, “até mesmo legalidade oposta”, entre os dois pensadores (p. 516).

9) Processualidade como categoria central de uma nova ontologia (p. 516). Descobertas das ciências naturais retiraram o domínio de uma substancialidade eterna, estacionária, imóvel. Desde Heráclito, Hegel como o primeiro grande pensador em que o devir ocupa posição objetivamente ontológica sobre o ser, mas que esse devir não possui caráter simples e direto, mas engendra um método universal-multifacético (p. 517). Principal valor metodológico de Hegel é a investigação dessa nova tendência ontológica (devir, processualidade) desde o seu início, a própria histórica do pensamento humano enquanto história, domínio da realidade objetiva.


COMENTÁRIO: Lukács traz o que seria aproveitável de Hegel para essa nova leitura marxista que ele sugere. O primeiro desses elementos seria a processualidade.


COMENTÁRIO: em termos de história da filosofia, é a mudança entre idealismo e empirismo. Lukács aponta como um nível diferente apresentado por Hegel; até então, a explicação do mundo se dava em nível diferente (de Platão a Kant); em Hegel, é uma processualidade que envolve tudo o que acontece, o mundo empírico também tem importância.


10) Sujeito-objeto idêntico, conversão da substância em sujeito: rigidez hierárquico-lógico deforma sua nova ontologia e também a exigência que o ser humano deva viver em um mundo que possa ser concebido da forma mais adequada possível (embora esse compreender possa surgir quando o pensamento apreende a estranheza, a indiferença e a despreocupação dos processos compreendidos para com o sujeito) (p. 517).


COMENTÁRIO: possibilidade de Hegel, ao ver essa mobilidade em Héraclito e nos eleatas, apontar uma convergência, uma síntese da convergência desses pensamentos antagônicos. Móvel e imóvel fazem parte do processo; contradição que não fosse tão excludente.


COMENTÁRIO: Marx em sua dissertação mostra esse problema em Hegel, é por onde começa.


11) Mera processualidade: forma abstrata dessa nova compreensão do mundo. Apresenta resultado frutíferos, mas implica paradoxos: a processualidade da realidade é contraditória, dialética, desigualdade como seu modo de manifestação objetivamente determinado (citação ao paradoxo de Zenão, “a flecha que voa está parada”). Insuficiência das conexões dialéticas singulares, incapazes de alterar a imagem de mundo dos seres humanos. A falta de uma universalidade concretamente abrangente impactou os inícios do pensamento dialético na Antiguidade e as tentativas posteriores de iluminar contradições singulares ou descrever a processualidade do real à luz de uma contradição fundamental. Mera terrenidade, mera finitude que retornam a estática. Hegel rompe com isso já no início de sua carreira (p. 518).


COMENTÁRIO: o limite de uma explicação lógica da realidade que aparece em Hegel já aparece em Zenão; explicar o mundo de forma lógica traz problemas da lógica.


COMENTÁRIO: paradoxo de Zenão aponta uma oposição entre lógica e ontologia; o movimento ser impossível tem uma explicação lógica, mas, ainda assim, a “flecha voa”.


COMENTÁRIO: a fixidez não é um elemento desprezível, não é o contrário do processual, é um elemento do processual.


COMENTÁRIO: o que Lukács tenta propor é que Hegel, diferente de pensadores anteriores, não absolutiza algo que esteja fora da processualidade. Nos sistemas anteriores (Nicolau, Schelling), há a superação das contradições; em Hegel, o absoluto também está envolvido na contraditoriedade processual, o absoluto está em unidade com o não-absoluto; rompimento de Hegel para levar a processualidade a um nível ontológico.


COMENTÁRIO: com a superação das contradições, o presente se tornaria absoluto?


COMENTÁRIO: absoluto é contraditório. Passagem de Hegel: “Pela própria lógica do método, esse método tem que ser superado, mas ao mesmo tempo é o único método verídico”. A absolutização do presente é dada pelo fato que Hegel está no presente, mas sabe que o presente é finito. A dinâmica que Lukács trata é da processualidade como absoluto ou um absoluto fora da processualidade que resolve suas contradições. Em Hegel, o absoluto é o processo (presente eterno), mas sabendo que isso é um momento do processo e que será superado, por isso contraditório (presente absoluto que está fadado à superação pelo devir).


COMENTÁRIO: quando Hegel fala que o Estado Moderno realiza a razão, não estaria interrompendo o processo contraditório? Término da história com o espírito encontrando o povo e materializado em um Estado. O que há depois do Estado Moderno?


COMENTÁRIO: não se compatibiliza a teoria do estado de Hegel com a lógica de Hegel. Algo que talvez falte no texto do Lukács. Nesse ponto, ele trata da lógica hegeliana, mas não do Estado em Hegel. Contraditoriedade entre lógica e política.


COMENTÁRIO: questão do momento do Hegel; daqui parte o pensamento de Heidegger – fenomenologia e existencialismo. Mesmo debate que Sartre faz a partir do marxismo. Hegel estava abrindo um universo de questões novas.



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