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RELATÓRIO - Reunião 06/05/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 450-458)

  • dhctem
  • 6 de mai. de 2021
  • 8 min de leitura

Relatório – Reunião 06/05/2021

Para uma ontologia do ser social (p. 450-458)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.



- Ponto 1 - “Mesmo em seus erros...” (p. 450) até “na totalidade do ser social” (p. 450)


Comentários do trecho:


Recuperação de um comentário sobre o ‘espaço’ em Lukács - de que temporalidade e espacialidades são experiências expandidas do corpo, esse corpo tido como sinônimo de individualidade.

Relação entre tempo e espaço à qual se acrescenta a relação homem e natureza, inclusive com o uso da expressão “metabolismo”. Inorgânico, orgânico e ser social, todos seriam colocados em relação.

Hartmann teria sido criticado por separar o ser psíquico/espírito e o corpo, gerando, consequentemente, uma espacialidade de um ser “espacial não espacial”, por essa separação.

Debate com a fenomenologia, da busca do sentido da vida.

Essa poderia ser uma espécie de busca pela totalidade de Lukács, central na construção de seu pensamento; o que nesse texto está sendo feito de forma consideravelmente hegeliana.



- Ponto 2 - “Com isso podemos encerrar...” (p. 450) até “...visão de um novo território” (p. 451)


Comentários do trecho:


Utilização da expressão espírito: parece recuperar o conceito de espírito hegeliano. Na recusa de Hegel e Marx, Hartmann não seria capaz de criar na esfera do espírito objetivo uma ordenação categorial.



- Ponto 3 - “Apesar da correção geral...” (p. 451) até “...que não necessita de nenhuma prova” (p. 452)


Comentários do trecho:


Questão da impossibilidade de chegar à ontologia, no debate do ser ideal que Hartmann tenta ultrapassar, mas com limitações.


Lukács chama atenção para o excesso de importância que Hartmann dá à matemática. O que faz lembrar o desprezo de Hegel pela matemática, na introdução de sua ciência da lógica, como um tipo de representação que pressupõe um ser muito mais representado do que efetivo. Lukács se aproximaria de Hegel, no sentido de que esse excesso de importância poderia inviabilizar a ontologia.


Foi adicionada uma reflexão sobre historicidade, que estaria ausente no pensamento matemático.


A perspectiva da crítica do dogmatismo matemático aparece em uma Carta ao Pai em Trier, de Marx. Trecho que se inicia em “No meu estudo, tudo assumia a forma não científica do dogmatismo matemático”, até “... a razão mesma da coisa siga seu curso contraditório e encontre em si mesma a sua própria unidade”.


Hegel faria uma crítica à matemática mais relacionada ao formalismo, uma espécie de restrição à verdade sintática. É incapaz de comunicar diversas outras dimensões, por exemplo a substância, com o que a relação entre individual e universal acaba se perdendo.


Sobre a mimese, poderia ser uma crítica da completa imitação da realidade pela ciência, que nesse caso seria superficial.


Conflito entre Platão e Aristóteles e suas concepções da imitação: como algo negativo (em Platão), ou algo construtivo (em Aristóteles), capaz de representar a natureza e a realidade para fins de conhecimento.

Parece tentar demarcar uma diferença entre como a ciência do séc. XIX trata a questão da mimese. Em certo sentido Kant seria “neoplatônico”, com a coisa em si inacessível e a busca de uma mimese universal, dentro de seus parâmetros de razão.


Mas em Hartmann haveria algo mais como um materialismo vulgar, a mimese como imitação fotográfica; diferentemente de Hegel, que propõe uma interação entre conceito e realidade que não seja nem imitação fotográfica nem separação estanque, mas uma unidade dialética de contrários.


Na antiguidade, a mimese era o ponto de divergência entre o idealismo e o empirismo. Enquanto Platão defendia a origem do ideal no próprio ideal, e não da observação do real, Aristóteles construía todo seu pensamento no contrário, identificando o ideal a partir da observação do real.


Crítica ao mecanicismo que nos remete a Descartes.



- Ponto 4 - “Quando Hartmann é confrontado...” (p. 452) até “...ontologicamente ao lado do ser real.” (p. 453)


Comentários do trecho:


Ao produzir essa artificialidade se criaria a ontologia de um ser ideal, enquanto realidade de um idealismo.

Inserção da química e da física, com problemas herdados da matemática.


Se pensamos a oposição entre Platão/Aristóteles em termos ontológicos, a discussão se aproxima da questão do idealismo ideal.


Questão levantada: qual seria o lugar da ontologia em um sistema filosófico geral, ou o que separa epistemologia de ontologia em Lukács?


Lukács tentaria trazer uma distinção entre ontologia e gnosiologia, ainda sem assentar com precisão o que entende por essa ontologia. Isso estaria se construindo a partir da rejeição a tudo até então produzido na história da filosofia, sobre essa relação entre ontologia e gnosiologia. Assim, ele recusa o ontológico tanto da idealização do idealismo, quanto do materialismo vulgar.


À medida que coloca as separações entre categorias como ser orgânico, inorgânico e social, acaba apontando por exclusão onde pretende chegar com sua ontologia.


Sentimos uma dificuldade grande de tratar da ontologia sem fazer uma discussão epistemológica. Ele tenta expurgar a gnosiologia (compreensão científica do ser), o que acaba nos aproximando mais ainda da epistemologia.


O trabalho das categorias a partir de uma visão positivista/burguesa, viciada em separá-las, apesar da tentativa de fugir disso, acaba formando um pensamento “tenso”. O atrito viria em grande parte desses pressupostos hegelianos, da ciência burguesa que ele tenta expurgar, mas aos quais acaba voltando.


A relação de oposição entre gnosiologia e ontologia parece ser feita na perspectiva de como fundamentar uma epistemologia, ou seja, qual é a forma correta de se capturar o método de apreensão da realidade. Busca, nesse sentido, afastar a gnosiologia para chegar a uma ontologia. Mas acaba construindo uma separação um tanto estanque, que o deixa até mesmo aquém de Hegel (no qual não enxergamos essa separação entre gnosiologia e ontologia).


Parece que em Lukács entramos no próprio processo de estudo, de formação das ideias. Como se nem ele soubesse exatamente o que está buscando, mas nos expõe seu processo.



- Ponto 5 - “Naturalmente, a matemática e a geometria...” (p. 453) até “...formatação do ser real pelo ideal.” (p. 454)


Comentários do trecho:


Dúvida sobre se haveria aqui uma admissão do ser ideal ao lado do ser real. Nesse caso, para essa totalidade, existiria um ser real e um ser ideal, e um ontologia que se serve desses dois seres.

Surgiram dúvidas sobre o “ontologicamente quantitativo”, e como a matemática entraria nessa questão.



- Ponto 6 - “Da filosofia oficial da atualidade...” (p. 454) até “...como forma objetivada da mimese.” (p. 454)


Como aplicar a questão da imitação para a arte. Exemplo da geometria: o real tem profundidade, e a arte terá profundidade. Princípio básico da mimese em geral, de que o objeto e o representado se unem por algumas similaridades.

“Meio homogêneo” vs “realidade heterogênea”: a estética tem suas correntes e movimentos, mas isso permitiria manter a homogeneidade do meio? Se olhamos para a literatura, nela temos a representação do real, mas certos aspectos da realidade acabam representados de forma intensificada.


Reflexões de Lukács sobre a literatura mudaram muito ao longo do tempo. Mas podemos perceber que sempre que a filosofia insiste na categorizar da literatura, mas acaba gerando distorções e deixando certas pontas soltas. Debates que sempre se tornam pouco empobrecedores em relação à arte.


Relação com o debate soviético, sobre o que as artes deveriam ser. Elas devem representar a sociedade existente de uma forma crítica, ou a arte deve representar a sociedade que vamos construir? Momento em que havia claras intenções de controle sobre a arte.



- Ponto 7 - “É claro que o meio homogêneo...” (p. 455) até “...constatações corretas, o mito do ser ideal.” (p. 456)


Pode-se notar certas dificuldades na composição desse ser ideal que faz parte da realidade.


Provocação de como pensar essa separação entre matemática e arte, por exemplo no caso da música.


Dúvida sobre noção de “legalidade”, que poderia se referir à lei de funcionamento de algo.



- Ponto 8 - “Assim estão em Hartmann...” (p. 456) até “...não contém nenhuma determinação determinada.” (p. 458)


Pontos destacados do trecho: diferenciação entre “existência do ser” e “ser assim”, enquanto dois aspectos ontológicos distintos. Sem compreender essa distinção, Hartmann teria chegado a um problema da determinação: todo ser ao mesmo tempo como o não outro, e o problema da determinação e da negação. O fato de um ser, ao mesmo tempo não ser outro, não pode ser uma mera negação, pois isso seria vazio, e não uma determinação.


Contradição entre ser e nada: em Hegel o primeiro ser seria contraditório ao nada (ausente de determinações), e depois vai se determinando. Aqui parece que há um afastamento entre o ser e o nada.


Exemplo: a constatação científica assertiva de que a terra gira em torno do sol é a negação de uma teoria anterior. Mas a simples constatação de que o sol não se movimenta em torno da terra dá margem a infinitas teorias.

Simplesmente negar não é suficiente para determinar a identidade de algo. Uma negação indeterminada é um passo (em que Hartmann pararia), mas que não determina.


Ou seja, Lukács critica Hartmann a partir da ideia de contradição determinada de Hegel. A contradição só é relevante, para este, quando essa contradição é determinada, e assim coloca dois opostos em unidade.


A afirmação de Hartmann, de que “Puro não ser é absolutamente nada”, é completamente equivocado na perspectiva da dialética hegeliana, para a qual “o puro ser é absolutamente nada”, pois o ser, sem nenhuma determinação, não pode estar em uma relação de contradição determinada, exceto com o nada.


“Por outro lado — e em estreita conexão com isso — é claro que a negação não pode ocupar nenhum lugar em uma ontologia real.” (p. 457) Foram levantadas questões sobre o papel da contradição na realidade para Marx. Essa frase aparece como uma crítica à perspectiva hegeliana, mas crítica em que sentido?


“É seu mérito ter observado na existência e no ser-assim duas distintas, contudo ontologicamente por último insuperáveis, determinações do ser” (p. 457). “Ser-assim” e possível relação com “ser-ai” de Hegel, no exemplo da planta e da semente. Quando Lukács fala de existência e ser-assim como duas distintas determinações do ser: existência seria a planta (que se manifestaria enquanto semente, broto, fruto, planta, etc.). Relação com a discussão da possibilidade e necessidade, recuperada da filosofia antiga (ato e potência). Uma semente seria um broto em potência, que permite certas possibilidades dadas dentro de uma realidade.


Sensação de fundo de que Hartmann excluiria a negação, por não diferenciar a negação determinada da negação indeterminada.


“Deve novamente ser enfatizado que a negação, enquanto desempenha no conhecimento um papel importante, não tem absolutamente nada a ver com o sendo-em-si; para todo existente singular resulta certamente que o ser de cada é, em relação com o outro, um ser-outro — isso todavia, ontologicamente, nada tem a ver com a negação.” (p. 458) Pode-se pensar, assim, que a ontologia real seria o sendo-em-si.


Termo “Aufhebung” e negação no sentido hegeliano, que seria a noção de superação por incorporação, que envolve uma dimensão histórica, de superação de formas pretéritas, considerando que o novo que surge não é o velho, mas carrega o velho (pressupõe esses aspectos anteriores). Concepção esta que teria sido ignorada por Hartmann.

Discussão sobre Lukács e o idealismo, e o texto “Meu caminho para Marx”. Seria mais um caminho tortuoso de fundamentação de uma filosofia materialista, do que um assentamento no idealismo. Percurso justificado no combate ao neokantismo que Lukács vivenciou no seu processo filosófico.


Foi levantada a dúvida sobre para onde o caminho que vem sendo traçado por Lukács nessas páginas pode nos levar. Ele negou diversos filósofos, tentando potencializar sua ontologia, mas quais dessas seriam a negação do real que conserva algo do que vem antes? Por exemplo a questão dos resquícios dos modos de produção anterior que seriam carregados para modos de produção mais recentes; muita conservação/incorporação pode nos trazer problemas na perspectiva da forma.


Preocupação de nos atentarmos sobre como essas questões vão se desenvolver no texto.


Último ponto: se pensarmos a diferença entre existência e ser-assim, a possibilidade da existência de ser-ai só é ontologicamente real no ser-assim. Hartmann, por outro lado, daria uma realidade a essa existência.



Paramos na página 458 (no parágrafo começado em "O problema da possibilidade...").


Próxima reunião: leituras das pp. 458-468.



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