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RELATÓRIO - Reunião 10/06/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 481-482)

Relatório – Reunião 10/06/2021

Para uma ontologia do ser social (p. 481-482)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.



Ponto 1 - p. 481-482

A dialética hegeliana vai buscar uma identidade entre real e racional, portanto, quando se fala nessa relação entre lógica e ontologia, também se refere a essa identidade (real e racional). Ou seja, Lukács explica este elemento central para Hegel, em que a racionalidade não é um atributo do pensamento que se lança para a realidade, mas sim um atributo da realidade que o pensamento descobre “quando o pensamento se aproxima do real e retira o véu, o que ele vê é a si próprio” (Hegel)


“Família e sociedade civil se fazem,a si mesmas, Estado” (p. 482) aqui Hegel está buscando uma ontologia. Nesse sentido, não são os elementos reais que vão compor essa realidade, mas essas categorias. Hegel, portanto, resolve isso no plano de elementos ideais e não no plano dos elementos reais, porque a família existe enquanto necessidade e liberdade.


Na perspectiva de Hegel “trata-se apenas de encontrar, para determinações singulares concretas, as determinações abstratas correspondentes” (p. 482).


Nota: No trecho“A mesma passagem é feita, na filosofia da natureza, da natureza inorgânica à vida.” (p. 482), Lukács faz um raciocínio semelhante ao do jovem Marx com relação às esferas do ser.


Ponto 2 - p. 483-485

Neste ponto, Lukács está mostrando como uma compreensão do mundo processual e dinâmica se expressou em uma linguagem e em uma fluidez dos conceitos. Para o marxismo é uma ideia importante porque existe uma constante fluidez da realidade, ela é fugidia, nesse sentido, a necessidade de sempre criar conceitos novos. No entanto, ter uma linguagem própria cifrada e os conceitos dizerem respeito só a uma determinada realidade, resultará no historicismo, que é uma das tendências dentro do marxismo que critica justamente a possibilidade de universalizar a partir de realidades concretas alguns conceitos essenciais e, por meios desses conceitos, conhecer outras realidades concretas e singulares. É necessário, portanto, que alguns conceitos sejam fixos, como o conceito de forças produtivas, por exemplo.


No trecho, “Que no lugar central do egoísmo racional, o qual permanece no agir econômico do ser humano o qual, de fato, se eleva a modelo dessa concepção, adentrou as paixões dos seres humanos (....) que nada de grandioso no mundo foi realizado sem paixão.” p. 485 os elementos terrenos e egoísticos são tratados no Iluminismo como unidade, como se esses elementos egoísticos e passionais já estivessem subsumidos no racional. A diferença de Hegel foi mostrar que estes elementos não estão numa unidade e que não é possível ver as distinções entre os dois.


A síntese deste entendimento está em “Apesar disso, a tentativa hegeliana de conceber e descrever o mundo do ser humano como terrenamente-autocriado é a mais grandiosa tentativa nessa direção tentada até sua ocorrência.” (p. 485). Ou seja, uma forma de reconhecer que antes o mundo do ser humano era religioso, era divino do ponto de vista filosófico. Nesse sentido, Hegel inaugura, numa perspectiva ontológica, um mundo do ser humano como terrenamente-autocriado. Hegel uniu razão e emoção que conforma ontologicamente o ser humano.


Um trecho que ajuda a compreender este entendimento de Hegel, está em “A Razão na História”:


“O espírito é essencialmente resultado da sua atividade. A sua [72] atividade é ir além da imediatidade, é a negação do imediato e o retorno a si. O espírito é livre; e tornar-se efetivamente esta sua essência, alcançar esta excelência, é a aspiração do Espírito universal na história do mundo. Saber-se e conhecer-se é a sua ação, que não se leva a cabo de uma só vez, mas por fases. Cada novo espírito de um povo é uma nova fase na conquista do Espírito universal, para a obtenção da sua consciência, da sua liberdade. A morte do espírito de um povo é transição para a vida e, certamente, não como na natureza, onde a morte de uma coisa chama à existência outra coisa igual. Mas o Espírito universal ascende desde as determinações inferiores aos princípios e conceitos superiores de si mesmo, até às manifestações mais desenvolvidas da sua ideia.” (A Razão na História, Hegel p. 68).



Ponto 3 - p. 486-487

Lukács neste ponto apoia a ontologia do ser social dele na concepção hegeliana da relação da pessoa singular com a sociedade, só que essa concepção hegeliana não consegue sair de uma concepção teleológica. Dessa forma, ao apoiar a ontologia nessa concepção, cada ato do ser humano singular leva a algo que tem algum nível de determinidade.


Cada ser individual confirma o espírito? Ou o espírito olha as ações individuais e confirma que ele está certo?

Em um determinado momento parece que isso vai se dando com uma certa consonância, no entanto, ao final, Lukács vê um problema dessa confirmação, quando se passa para objetivação: “Contudo, no curso posterior da »Filosofia da História« e, em especial, na »Filosofia do Direito«, alcança o espírito às vezes, antes, com frequência, uma figura enrijecida-fetichizada, destacada daquelas conexões dinâmicas com a atividade dos indivíduos, geneticamente sempre decisivas, e alcança uma autoconsciência em um modo existente puramente para si, em que os próprios componentes da estrutura (antes de tudo, a sociedade burguesa) aparecem completamente superados na generalidade do espírito, na qual a dialética do conceito das formas do espírito posto puramente em si próprio substitui a real dialética do histórico-social.” (p.484)


Neste trecho, Lukács está criticando Hegel justamente pelo seu aspecto idealista, ou seja, pelo fato de Hegel colocar a realidade sob a direção do espírito. Este parágrafo também é muito importante para compreensão do debate sobre o significado de extrair o núcleo racional da mística da dialética hegeliana.


Nota: O que ele está tratando acima é do espírito absoluto?


Essa é uma fase de objetivação do espírito, em que o espírito passa para as instituições, fase em que ele fica mais fetichizável.


Na hipótese disso se confirmar, a tese do Hegel é que se teria chegado a possibilidade de maior aproximação com o espírito absoluto no momento presente, ou seja, havia condições materiais suficientes para que aquele presente conduzisse ao espírito absoluto.


No espírito objetivo há um nível de institucionalização/objetivação maior, ou seja, as instituições é que valem neste processo da formação da relação com o indivíduo. Caso isso se confirme o espírito objetivo é, na verdade, hegelianamente, algo não superado e o presente de Hegel só se aprofundou como presente constante no espírito objetivo. Portanto, o que o Lukács estava vivendo é um presente constante do espírito objetivo, no espírito absoluto talvez isso se reificasse.


No trecho “Essa contraditoriedade situa-se na relação do ser humano com a sociedade. Na medida em que Hegel deseja atribuir a esta uma figura ontologicamente independente, ainda não se desvia da verdade objetiva, pois o ser social — seja o que possa ser em-si — tem de fato uma existência independente da consciência individual do ser humano singular, ante este possui um elevado grau de uma dinâmica independente, determinante e determinada (...) p. 486, há a ideia de que o racional rompe o real. Hegel olha elementos reais na história, encontra singularidades na história, mas não é isso que ele busca, o que ele busca na verdade é a genericidade, que é o caminho para uma ontologia.


Na primeira parte, Lukács elogia Hegel, ou seja, menciona que as condições para percepção dessa genericidade estão no Hegel, no entanto, o próprio Hegel não sustenta a radicalidade do seu pensamento quando fetichiza as discussões sobre as instituições.


Neste ponto, essa fetichização vai se distorcendo com relação a genericidade e elas vão virar algo muito próximo da individualidade. Uma crítica central que Lukács faz a Hegel é “Como uma filosofia da história termina com o presente (absolutiza o presente)?” Ela é uma defesa do movimento da história da razão e da realidade, da inseparabilidade entre essas duas dimensões, mas que em um determinado momento diz pra si própria que “daqui não passa”. Nesse sentido, Lukács percebe um limite de Hegel.


Justamente nessa parte em que Lukács aceita as premissas antes de conhecer os limites é que pode residir o problema do conjunto do pensamento lukacsiano. Este parágrafo é central porque nos mostra até onde o Lukács vai com Hegel e onde ele para com o Hegel e, portanto, nos impõe essa tarefa de saber se funciona ou não.


Onde paramos: p. 487 “Se agora colocamos”


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