RELATÓRIO - Reunião 14/10/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács
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Relatório – Reunião 14/10/2021
Para uma ontologia do ser social
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
DEBATES sobre o trecho “ Se tomarmos, por exemplo, determinações de reflexão como forma-conteúdo ou essência–fenômeno, é claro que são entre si heterogêneas, que desvelam distintas dimensões da realidade processual, que por isso com frequência se sobrepõem uma à outra, que sua relação uma com a outra apenas pode ser adequadamente apreendida pelo pensamento nos respectivos casos singulares por princípio concretos pela análise de sua particularidade. O pensamento, todavia, necessariamente homogeneia tal como a realidade em si existente é necessariamente heterogênea. Isso resulta, para a ontologia, problemas metodológicos muito importantes que em tal generalidade podem ser apenas levantados,...” (pg. 545)
COMENTÁRIO: Precisamos entender o que o autor está trazendo nesse trecho, o que está acontecendo quando ele trata de mediações e imediações. Há uma forma multidimensional e outra mais homogeneizada de realizar essas determinações. Essência vs. Aparência. Forma vs. Conteúdo. Precisamos estabelecer o que o autor está chamando de heterogeneidade ou multidimensionalidade.
Está trabalhando com um procedimento lógico e quer mostrar em que medida ele foge da ontologia e em que medida essa perspectiva das mediações e não mediações foge da lógica e tem a ver com o debate da própria ontologia.
COMENTÁRIO: precisamos retomar o paragrafo anterior para compreensão desse trecho. Marx fala que o objeto real permanece existindo fora do cérebro. Me pareceu que Lucacks só acha que isso é possível quando se está falando do ser social inorgânico, por exemplo “pedra será pedra no cérebro e no pensamento” e haveria, nesse sentido, uma aproximação entre a coisa em si e a coisa para nós.
Ocorre que considerar a matematização das ciências como mera formalidade é um traço que já está presente em Hegel. Porém, acredita que pode ter perdido algum momento da construção do raciocínio do autor: talvez ele esteja dizendo que a forma própria de atuar do pensamento (homogeneizante) é a matematização, porém ainda assim soa esquisito, pois o Hegel não fala isso.
COMENTÁRIO: Talvez o autor esteja fazendo uma mera constatação. Esse pensamento matemático seria mais homogêneo nas determinações. Homogeneização são determinações dentro de um circuito interno e fechado o que diminuiria a intensidade da relação da coisa e da observação da coisa. Não sabe o que é para o autor homogeneização e heterogeneização, pois isso tem relação com mediação e não mediação.
COMENTÁRIO: Há, nesse ponto, crítica ao pensamento baseado na lógica, segundo Hegel. O pensamento baseado na lógica tende a subestimar o significado que está nas mediações, ou seja, na forma com as coisas de fato aparecem, na forma como a ciência tem contato de fato com as coisas. Você perderia o significado especifico daquilo que é heterogêneo, pois a tendência da lógica é homogeneizar. Essa é a limitação de se construir uma ontologia a partir da lógica. Você vai “deformar” porque a realidade não é apenas aquilo que pode ser homogeneizado, ela também é a dimensão heterogênea. Se tem um paralelo entre essência como o que é heterogêneo e aparência como o que é homogêneo, não necessariamente isso é retirado do Hegel, o autor já está apontando para uma leitura a partir de Hegel. Em ouras palavras: O autor está mais uma vez demonstrando as limitações da ontologia baseada na lógica, pois a tendência da lógica é sobressaltar os aspectos homogêneos para poder explicar. Ele vai ressaltar que com isso se perde uma dimensão essencial para a ontologia que é a heterogeneidade. Fica insinuado nesse trecho um paralelo entre essência – homogêneo e aparência-heterogêneo. O método científico busca aquilo que há de sempre igual nas coisas (o homogêneo, e que determinadas correntes filosóficas vão dizer que é a essência) , ao passo que a aparência é o que muda, é heterogênea.
COMENTÁRIO: Esse tema da heterogeneidade epistemológica entre as ciências naturais e as ciências sociais está presente em “As aventuras do Barão de Munchausen”: “Apenas no especificamente humano, no ser social, já num patamar primitivo, no trabalho, na linguagem, se separam e se unificam, imediaticidade e mediação e aparecem como determinações de reflexões ontológicas. Deparamos aqui com uma conexão categorial que parece ser característica para o ser social e apenas para ele”. Essa parece ser uma frase importante. Ali no trabalho, na linguagem, ocorre algo que diferencia o ser social e o ser natural. A ontologia idealista que identifica sujeito e objeto idêntico e sua exposição logicista na qual a categoria posterior se torna a verdade da categoria inferior. Esses elementos me parecem importantes para entender a ontologia de Lucacks e também uma crítica a Hegel.
COMENTÁRIO: O que Flávio falou sobre mediaticidade na natureza resolve a primeira parte e um pouco do que Tarso falou dá conta da segunda parte, inclusive a crítica a Hegel.
DEBATES sobre a relação forma e conteúdo (pg. 542 e ss)
COMENTÁRIO: Vamos pensar em Descartes , em tudo que vem da tradição de Descartes e que vai influenciar Kant, em tudo que é descartado para conhecer, nesse prisma, você encontra identidades, coisas que são idênticas para conhecer e com isso você desmembra tudo e descarta o que está entre eles, tudo o que significa relação se perde no caminho, pois a relação não tem importância na dimensão cartesiana e analítica. Por exemplo: em Hegel, a sociedade é definida como um conjunto de indivíduos e se busca compreender a sociedade partindo do indivíduo. Aqui o autor chama a atenção para que se considere na produção do conhecimento o que se descartava nas teorias anteriores. É preciso saber o sentido de algo, a representação de algo, a partir do momento em que que você considera a forma. Tudo o que não significava nada na perspectiva analítica, é justamente ali que forma e conteúdo vão se encontrar. Um embate entre forma e conteúdo carrega significado e difere de descartar a forma para entender o conteúdo. A frase de Marx “se a essência e a aparência das coisas coincidisse, toda ciência seria desnecessária” é uma frase complicada – embora seja utilizada em muitas epígrafes de trabalhos acadêmicos - , pois dá a impressão de que a ciência é uma busca da essência, porém isso não está presente nem no Hegel.
COMENTÁRIO: Discorda da interpretação dada a essa frase por Tarso, pois ele não está buscando a essência, mas a relação entre a essência e a aparência, essa frase seria, em alguma medida, um legado do Hegel, mas ao mesmo tempo uma busca de superação rumo a uma nova ciência.
COMENTÁRIO: No primeiro Marx a ideologia vai ser tratada como uma espécie de aparência que seria descartada e depois vai se complexificando e a ideologia vai passar a ser considerada como algo real, que também é objetiva. O trabalho da ciência, em Marx, não é sair da aparência - a camada superficial - e ir para a essência, para o profundo. E não é isso, pois em Marx a dimensão da aparência, aparentemente superficial também é importante.
DEBATES sobre “a forma enquanto par reflexivo da essência, da matéria e do conteúdo” (pg. 548)
COMENTÁRIO: O que o grupo entende da passagem da pg. 548 em que “...a forma é tratada por ele – o autor - três vezes como par reflexivo da essência, da matéria e do conteúdo” ?
COMENTÁRIO: É como se a mesma ideia de Forma tivesse contradições determinadas distintas.
COMENTÁRIO: em um primeiro momento, parece que há 3 ideias progressivas, mas depois parece que há uma bifurcação.
COMENTÁRIO: A própria essência tem a contradição determinada com a aparência.
COMENTÁRIO: Hegel despreza a forma, quando fala em forma fala no sentido negativo. talvez esteja a crítica de Hegel no sentido de que ele despreza a forma..
COMENTÁRIO: se a forma for a representação, o importante não é a representação em si, mas a relação da coisa em si com a representação, talvez esse processo seja mais importante que a forma. Isso é mais importante para Hegel que a forma.
COMENTÁRIO: esse problema de que Tarso falava aparece em Marx quando ele coloca a aparência como manifestação necessária de alguma coisa. Pelo aspecto da lógica dialética, puramente considerada, não haveria uma diferença profunda entre Hegel, Marx e Lucacks, nessa ideia de que não existe uma aparência e uma essência desconectadas de si. É inerente á elaboração das formas sociais que Marx coloca no capital.
COMENTÁRIO: tinha entendido a aparência como manifestação do conteúdo, da essência, mas não como formas distintas, separadas. Não identificou, tal como Flávio, uma distinção na abordagem desses temas
COMENTÁRIO: A frase de Marx trazida por Tarso diz justamente o contrário, que a aparência não revela a essência, ela a esconde. O conhecimento cientifico não pode se fundamentar na experiência, na aparência, na imediatidade, segundo Marx. Ele tem que se fundamentar na razão, tem que buscar as conexões que a aparência oculta e essas conexões é que são a essência. O erro de Hegel foi achar que o processo de produzir essas conexões é o mesmo processo da realidade, o que é uma forma de idealismo que identifica sujeito do conhecimento, pensamento e objeto – realidade, que é uma forma de empirismo (empirismo e idealismo são faces da mesma moeda) . O correto, segundo Marx, é identificar a separação entre o pensamento e a realidade em um determinado ponto. Lucacks diz que o pensamento não faz parte dessa totalidade ontológica, no entanto a realidade tem sua autonomia fora do cérebro, segundo o próprio Lucacks. Tem essa distinção e um caminho a ser percorrido que Marx chamou de ciência. A ciência é necessária para identificar essas conexões, mediações.
Se a aparência for a forma e a essência o conteúdo, elas são em contradição, uma nega de maneira determinada a outra, esconde a outra de maneira específica. Reflete sobre a relação entre forma jurídica e conteúdo jurídico, a partir da provocação do Prof. Marcus. Talvez tenhamos que considerar que na filosofia as palavras sejam utilizadas de outra forma, a partir de outros registros.
A forma determina os conteúdos possíveis, ela determina as fronteiras possíveis do conteúdo, dentro das quais ela pode variar. Você pode ter conteúdos normativos variáveis, mais ou menos autoritárias, mais ou menos sociais, mais ou menos, pluralistas, mais ou menos humanistas, democráticas ou religiosas, porém há determinada fronteira que é garantir determinada esfera – que é o conteúdo – de autonomia subjetiva do sujeito, que é o que movimenta as relações jurídicas. Quando Marcio Naves vai buscar a essência do Direito nessa essa autonomia subjetiva indiferenciada do sujeito de direito ele vai buscar uma essência, algo que identifica o direito burguês, essa seria a forma que determina e contém certo conteúdo que pode variar dentro dessa forma. Uma revolução que altere esse conteúdo jurídico ou as relações do direito com as demais esferas sociais pode romper com essa forma, que não é imutável, portanto. Mudando o conteúdo e o conjunto das relações sociais é possível muda-la também. Isso tem relação também com a ideia de conceito: o conceito de Estado, por exemplo, no Brasil e na Inglaterra têm algo em comum, têm a mesma estrutura, a mesma forma, mas são distintas nas suas particularidades e conteúdos e a pesquisa vai partir desse conceito abstrato formal e vai concretizando à medida que vai relacionando com as particularidades desses dois países e suas estruturas sociais. Nesse sentido, a forma acaba se identificando com um conceito, com uma categoria que, no entanto, existe na realidade.
COMENTÁRIO: Não consigo entender a forma como aparência, a partir desse paralelo que Tarso colocou. Retomando a frase célebre de Marx, “se a essência e a aparência das coisas coincidisse, toda ciência seria desnecessária”. Ir na essência das coisas não significa que estamos indo ao fundo do conteúdo para entender a realidade. Estamos assumindo que a própria forma em si assume uma especificidade. Não consegue entender a forma enquanto aparência e essência enquanto conteúdo.
COMENTÁRIO: Não me parece que em Marx a relação entre essência e aparência esteja ligada a esse tratamento que ele faz do concreto do pensamento. Acho que são coisas distintas. A aparência em Marx faz parte do concreto e o pensamento vai se apropriar desse concreto, que é composto de essência e aparência. Quando Marx diz que nas sociedades em que reina o modo de produção capitalista, a riqueza material aparece como uma imensa coleção de mercadorias. A riqueza material é a essência e a mercadoria é aparência e ambas pertencem ao concreto. O cérebro se apropria da abstração mercadoria, mas essa abstração mercadoria está dada no concreto. Nesse sentido, consegue entender forma e conteúdo como relacionadas a essência e aparência. A mercadoria seria a forma social da riqueza material em uma sociedade capitalista, assim como a forma jurídica seria a forma social da regulação social ou da normatividade em uma sociedade capitalista, mas tudo isso pertencendo ao concreto.
COMENTÁRIO: Esses pares - vamos ter sempre muita dificuldade de usar -, principalmente quando pensamos no que Marx utiliza no capital: essência vs. Aparência, concreto vs. Abstrato. Em Marx, seguindo a linha de Althusser, isso está absolutamente bem resolvido, mas Althusser tinha implicância com a parte do fetichismo da mercadoria. Althusser vai dizer que ali tem um problema muito grave, o Althusser enxerga uma distorção e sugere a inversão da leitura do livro. Sugere a leitura na frente e depois volta para não correr o risco de concluir a problemático aquilo que Thiago colocou: não é considerar a aparência como algo que esconde a essência, mas como algo que contem a essência e que é objeto e digno da ciência. Ouviu muitos professores dizerem: “Tire a camada do fetiche que você entende o que está por detrás dele”, o fetiche é apresentado como uma espécie de máscara que precisa ser retirada, sendo que no próprio capital fica claro que isso não pode ser descartado, daí a relevância de uma teoria da ideologia.
COMENTÁRIO: acha que de fato há uma correlação entre aparência e essência e forma e conteúdo.
COMENTÁRIO: Em parágrafo anterior Lucacks diz, criticando Hegel: “é certamente correto que as três relações de reflexão determinam-se mutuamente e traspassam uma à outra, mas de maneira alguma essência – forma segue-se a da forma-matéria e, desta, a da forma-conteúdo.” Validade é uma categoria que costuma parecer em ciências naturais, típico do positivismo. Essas 3 distinções que Lucaks está criticando e que estão presentes em Hegel já foram trabalhadas anteriormente no texto ?
COMENTÁRIO: Há uma dificuldade da leitura que é discernir o que é de um (Lucaks) e o que é de outro (Hegel) e situações em que Lucaks atribui a Hegel algo que na verdade pe uma invenção do próprio Lucakcs. Problema gnoseologico tem sido destacado bastante por Lucakcs em Hegel, mas esse tema da forma talvez seja a primeira vez que estejamos debatendo.
COMENTÁRIO: Esse tema é bem complexo e difícil. Lucakcs está afirmando que a discussão sobre forma- conteúdo em Hegel se dá a partir da discussão da determinação de reflexão e o que é a determinação de reflexão, é a perspectiva, presente em Hegel, em que o ser se constitui na relação com o outro, relação entre individuo e sociedade, singularidade e universalidade. Lucacks está compreendendo a dimensão de Hegel e demonstrando seu limite. Determinações da forma, da essência, do conteúdo carregam a dimensão logicista de Hegel, que foi criticada por Marx no Capital. Ele fala da mistificação dialética de Hegel. Em Hegel a dialética tem uma núcleo encoberto por uma envoltura mística. Para Marx o pensamento não é a gênese do próprio concreto. O concreto tem uma autonomia em relação ao pensamento. O pensamento capta como síntese das múltiplas determinações do real à luza da perspectiva da totalidade. Marx fala que toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente, então está distinguindo forma de manifestação e essência das coisas, mas a forma de manifestação também é parte do real concreto e a ciência necessária,. Marx não está pensando de acordo com o logicismo, o idealismo ou com a perspectiva teórico-metodológica da economia politica. Também não está pensando na divisão das ciências que foi orquestrada posterior a ele. Está pensando enquanto ciência de classe, enquanto teoria social, enquanto crítica da economia política e da teoria filosófica. Ciência para Marx é crítica.
COMENTÁRIO: Isso que Mario fala tem a ver com a colocação do conteúdo no individuo e a forma na coletividade, talvez seja isso o problema que existe em Hegel, é essa relação individual – coletividade. E dessa maneira a relação forma-conteúdo para o marxista porque fica sempre muito individualizada e nunca na perspectiva da produção.
Debates sobre Pg. 549: O “progresso da visão de Hegel”
COMENTÁRIO: A forma aparece de maneira diferente em Aristóteles em que a forma já era mostrada como suficiente. Lucakcs está preocupado com a relação processual forma e conteúdo, o que seria algo meritório de Hegel.
COMENTÁRIO: Aparece novamente contradição entre método e sistema em Hegel.
COMENTÁRIO: O esterco é a logica e o sistema.
COMENTÁRIO: a menção Aristóteles deve ser destacada, porque na perspectiva da história da filosofia é a diferença entre o empirismo de Aristóteles e o idealismo de Platão. Em Platão você descarta a forma como os olhos mostram as coisas, para ele não interessa ver, pegar do mundo não serve para a explicação.
COMENTÁRIO: Interessante a menção à “síntese estática de forças dinâmicas”
COMENTÁRIO: Isso porque sistema só pode nortear ontologicamente a ideia e não a materialidade.
DEBATES sobre “causalidade recíproca e dialética” (pg. 550)
COMENTÁRIO: Lucacks celebra que Hegel distinga causalidade recíproca de dialética. Marxismo vulgar erra muito em cima disso.
COMENTÁRIO: Ocorre que antes ele estava falando de um problema de Hegel que é reduzir as complexidades. Vinha de uma crítica e de repente surge esse ponto? Inclusive fazia menção á questão do “momento predominante”.
COMENTÁRIO: A ideia hegeliana de que o sistema seria uma síntese estática de forças dinâmicas pode corresponder aos fatos em alguns casos, porém não sempre. Como atribui esse papel predominante, vai desvalorizar a interação dialética.
COMENTÁRIO: Queria entender o que Flávio está chamando de marxismo vulgar
COMENTÁRIO: o marxismo vulgar considera aspectos separados do pensamento de Marx. Fala que é marxismo só porque fala de dialética, fala que é marxismo só porque fala de determinação econômica.
COMENTÁRIO: tem todo um campo que vivenciou experiências de transição socialista que poderia ser classificado como marxismo vulgar, a exemplo do stalinismo que Lucacks fez parte e também buscou combater. Por outro lado, certos academicismos podem ser incluídos também como marxismo vulgar.
DEBATES sobre “a teleologia do ser social e não no ser natural”, o “falso e o verdadeiro”, o “correto e o incorreto” a partir do trecho: “...recusa o conceito generalizado de carência de forma, que costumeiramente, se costuma designar por – não ser existente da forma correta. Isto, para a ontologia do ser social – e Hegel toma seu exemplo desta esfera – é perfeitamente correto; todavia, apenas porque, como a forma parte de uma posição teleológica, as necessárias alternativas do correto e do falso permanecem o fundamento. Assim, por exemplo, uma produção que se propõe artística pode ser – carente-de-forma – no sentido dado por Hegel, enquanto, digamos uma planta resultante de circunstancias desfavoráveis pode ser deformada, mas não é absolutamente, sem-forma.
COMENTÁRIO: a planta, mesmo murcha, é reconhecida como tal, ela não perde a forma. A obra artística, dentro do capitalismo, pode estar sujeita a não ser reconhecida enquanto arte. Tem mais condições de trabalhar com o falso e o verdadeiro que não teria em relação à planta.
COMENTÁRIO: isso tem a ver com a existência de teleologia no ser social e não teleologia no ser natural. Se tomamos a forma como a manifestação necessária, ela vai estar ligada com a aparência. Não existe como pensar uma forma correta ou incorreta de manifestação de um ser natural porque toda forma que ele tomar vai ser correta para Lucacks. Como pensamos em ser social, portanto, em posição teleológica, se um determinada ser, um determinado conteúdo, se apresenta com uma forma que não é a aquela socialmente determinada, essa forma de existência será falsa. Se a comunidade endente que a privada do Duchamp é artística, ela é artística, se entende que é só uma privada, é só uma privada. Forma mercadoria: se a pessoa produz algo que não é valor de uso social em uma sociedade capitalista, ela não produziu mercadoria , então é uma forma incorreta.
COMENTÁRIO: a relação entre essência e aparência está nessa dinâmica que colocamos.
COMENTÁRIO: Eu estava pensando na questão da forma como algo mais "estrutural", achei complicado entender o exemplo da produção artística nesse contexto (meio individualizante?).
COMENTÁRIO: Nos ajuda a entender a relação entre individuo e universalidade. Se a universalidade diz que Duchamp faz arte, vira arte ( consenso determinado pela pratica reiterada), se não, não via arte. Isso revela que se fosse levado a quinta-essência.
COMENTÁRIO: Se a forma é aparência, a essência seria o conteúdo. O exercício que fazemos do Direito seria adentrar no conteúdo? Porém existe uma forma histórica e social à qual o conteúdo se amolda e não o contrario. O conteúdo que vemos seria a essência.
COMENTÁRIO: não podemos correr o risco de transferir para o que Lucacks está observando no Hegel todo um amadurecimento que ocorreu no debate sobre forma e conteúdo. Não quer dizer que em Marx a relação entre forma e conteúdo está dessa mesma maneira. É importante identificar que isso é o que Lucacks está enxergando no Hegel. Há um paralelo entre aparência, forma e heterogeneidade – e até falsidade – e, de outro lado, essência, conteúdo, homogeneidade, verdade porque a lógica deformaria isso. Não é que em Hegel se desconsidera a aparência, porém os procedimentos da lógica colocariam em primeiro plano a dimensão da homogeneidade e, portanto, de uma essência das coisas.
COMENTÁRIO: Forma e conteúdo perfazem a totalidade.Eu penso que essa questão colocada por Deise é muito importante o conteúdo como totalidade.
COMENTÁRIO: Acho que entendo o nó que Deise está tentando desatar. Temos uma tendência a tratar conteúdo como se fosse, nessa oposição forma-conteúdo dentro do direito, como diz a lei, por exemplo. É contra intuitivo falar que o conteúdo é a essência. A normatividade assume uma forma jurídica. Se formos fazer a relação forma e conteúdo, o conteúdo não é o que dizem as normas, mas é a normatividade, é a própria regulação social, faz sentido colocar isso como o que seria essencial contra uma aparência, que seria a forma. No modo de produção capitalista, a riqueza material parece como um conjunto de mercadorias. Se não houvesse um nível de permanência no fato de que o ser humano produz a sua vida material, não seria possível sequer falar em materialismo histórico. A normatividade, a regulação social, está presente em diversas formas. Como não existe direito antes do capitalismo, em Roma havia regulação social, mas não havia direito, que é uma forma especifica de regulação capitalista. Se tomarmos como conteúdo a normatividade desatamos esse nó.
COMENTÁRIO: Hoje, gente, tivemos um salto enorme para as nossas investigações com debate forma-conteúdo nos moldes dados pelo texto. Vejam a importância das colocações da Deise, da maior amplitude das nossas dúvidas.
COMENTÁRIO Verdade, acho que é por aí o nó, Flávio!. Retomar o que de fato é o conteúdo nas nossas investigações.
COMENTÁRIO: Arredondando bastante: (1) aparência-forma-heterogeneidade-falsidade x (2) essência-conteúdo-homogeneidade-verdade... segundo Lucákcs, a prevalência da lógica em Hegel distorce o conhecimento em direção ao segundo eixo; em Marx, no entanto, a totalidade é o entrelaçamento entre esses dois eixos.
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