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RELATÓRIO - Reunião 15/04/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 439-442)

Relatório – Reunião 15/04/2021

Para uma ontologia do ser social (p. 439-442)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.



Recuperação geral do que foi lido anteriormente da obra:


A leitura começou a partir da ontologia do ser social. Pulamos os prolegômenos para serem lidos depois.


Lukács foi estudar a estética. Para estudar a estética, ele entende que deveria escrever uma ética. Por isso, escreveu a ontologia do ser social. Porém, ele morreu antes de concluir tanto a ética, quanto a estética.


O Lukács fala que somente é possível falar em ontologia a partir de um determinado ponto do pensamento humano. Hartmann, Hegel e Marx, esses são os autores que ele dialoga.


Ele faz um desenvolvimento histórico sobre o porquê essa ontologia não era possível e agora passa a ser possível. O autor coloca duas oposições: uma ontologia religiosa e uma ontologia científica. Além disso, faz uma oposição entre ontologia e gnosiologia. Esse é o momento que ele identifica em Hegel. Esse é um livro bastante hegeliano. Para o autor, o Kant teria proposto uma gnosiologia e que o Hegel teria superado numa perspectiva de uma ontologia. O cerne aparece tanto em Kant, quanto no Hegel como “a coisa em si”. “A coisa em si está dada no processo de conhecimento ou não?” O Kant propõe a incognoscibilidade da coisa em si. Há uma realidade que é externa à consciência, de modo que a consciência não consegue se apropriar da realidade. O conhecimento trabalha a partir das representações da realidade. Por isso, Kant seria um pensador gnosiológico.


Hegel, por outro lado, inverte isso. Ele parte da coisa, parte do ser. Por isso, isso demandaria uma ontologia. Lukács adere a essa possibilidade e passar a analisar essa ontologia em Hegel e em Marx.


- Ponto 1- A leitura se inicia na p. 439- “Para a crítica da ontologia de Hartmann”. Trecho da p.439 (“Uma justa crítica…) até p.440 (... exigências belarminianas).


Comentários do trecho:


- Exigências belarminianas- esse termo se refere ao Cardeal Roberto Belarmino, que é um autor importante para o tratamento histórico que Lukács faz da transformação da ontologia religiosa.


- Teoria da dupla verdade de Belarmino: solução de compromisso entre duas visões de mundo distintas. Esse é um autor que afirma uma possibilidade para a igreja conviver com as inovações científicas por Galileu, Copérnico. Uma separação da verdade religiosa da verdade científica.



- Crítica imanente- Lukács é um dos autores que mais se utilizou explicitamente do conceito de crítica imanente, que é um conceito hegeliano. Hegel trabalha esse conceito como proposta de crítica a Kant. Marx se apropria desse método para fazer a crítica da economia política.[1]


Por outro lado, é preciso investigar outros pontos da crítica imanente. Em Hegel, esse conceito emerge na introdução da “Fenomenologia do Espírito”. As posições para o conhecimento e como se debatido essas posições em rumo a uma consciência. Na p. 76, Hegel fala que “a consciência fornece em si mesmo a sua própria medida”. Assim, a crítica imanente estaria buscando um padrão de medida que seria imanente, inerente ao próprio objeto. O que isso significa é um problema gigantesco. Como se diferencia uma crítica imanente de uma crítica interna? Qual seria a diferença entre uma crítica imanente e uma crítica de articular os argumentos do próprio autor, da própria prática social?

Na crítica imanente de Hegel é muito caro a suprassunção/superação. É preciso ter cuidado para se entender qual o sentido que aparece em Lukács sobre o conceito de crítica imanente.


- É importante entender os limites no pensamento de Hegel para uma leitura de Marx. A crítica imanente em Marx é diferente da crítica imanente em Hegel, ainda que ela traga de Hegel alguns pressupostos importantes que é “a coisa em si”. Quando se coloca na perspectiva da materialidade histórica, a coisa em si ganha uma outra dimensão em relação a coisa em si idealizada. Na perspectiva de materialidade, “a coisa em si” é a relação daquilo que é essencial ao modo de produção, e portanto, aquilo que identifica o modo de produção como o objeto de estudo, ou seja, o feudalismo, o escravismo colonial, o capitalismo com os seus elementos específicos. A partir disso se faz uma relação com a aparência, ou seja, com aquilo que a representação inviabiliza a perspectiva de acesso do conhecimento da violência que é produzida pelo elemento constitutivo do modo de produção.


Desse modo, ganha-se uma outra proporção, pois se está fazendo uma relação da coisa em si com a representação de uma outra maneira. Na perspectiva althusseriana, está se trabalhando a representação no sentido da ideologia. A coisa como ela é e como se esconde a coisa, isto é, como se esconde a violência ínsita ao modo de produção.


- Lukács apresenta como as primeiras tentativas de buscas ontológicas eram insuficientes e empresta a partir de Hegel uma suficiência a ontologia.


- Ao que parece, Lukács propõe uma separação radical entre sujeito cognoscente e o objeto cognoscível, pelo menos mais radical do que em Hegel. Marx localiza a aparência e a essência no nível das relações. A constituição da aparência e da essência estaria no nível das relações. O sujeito de direito seria uma marca da aparência precisamente porque esconde as relações.


- O fato da dialética ser materialista ou idealista interfere sobre o que seria “a coisa em si” em Hegel e Marx.


- A questão da ontologia, tendo em vista as preocupações do grupo, não pode ser abstraída da questão do sujeito de direito. O sujeito de direito congrega esse debate do ser e da representação do ser.


Ponto 2- Trecho se inicia na p.440 (“ Emerge assim um panorama claro”...) até a p. 441 (... “possa construir qualquer garantia para a sua corretude”).


Comentários do trecho:


- Intentio recta: caracteriza a ontologia, voltada a compreensão da realidade como ponto de partida da “coisa em si”; intentio obliqua: característica da gnosiologia o conhecimento parte sempre das representações de pensamento e não da coisa em si.


- Embora o Hartmann não tenha o nome inscrito na filosofia com o status de vários, nesse trecho fica mais evidente o porquê ele escolhe o Hartmann. Lukács entende que na perspectiva ontológica era o autor que persegue o melhor caminho que seria a descoberta da ontologia. O problema é que Hartman não levou até as últimas consequências. Não porque ele não quis, mas porque ele não conheceu Marx.


- Lukács não debate com a história da filosofia ocidental como um todo, mas faz um percurso de uma parte da filosofia a parte do eixo que ele escolheu: a ontologia.


Ponto 3- Trecho se inicia na p. 441 (“Naturalmente, Hartmann não argui…”) e vai até p.441 ( “executa ‘uma intuição de essências”).


Comentários do trecho:


- Nesse trecho está evidente a crítica ao método fenomenológico. Questão: o colocar entre parênteses é o típico procedimento da fenomenologia? Não se chegou a uma conclusão nessa questão no grupo.

Ponto 4-Trecho se inicia a p. 441 (“O limite que aqui vem à luz…”) e vai até p.442 (“... para além da sua simples existência e da sua formação, algum sentido?”)


Comentários do trecho:


- Anteriormente, no início do livro, Lukács tem um debate com Sartre, no sentido de que este não era ontológico.


- É curioso que Lukács usa Hartmann para descartar quase tudo que está sendo produzido na época dele. O Hartmann é utilizado como uma ponte entre o Marx e o que ele está buscando construir, sem depender de Heidegger, Wittgenstein, Sartre, etc. Hartmann rejeita ao mesmo tempo os dois pólos da filosofia moderna: o anti-ontologismo dos neopositivistas e a ontologia subjetivistas dos existencialistas.


- No prolegômenos, Lukács volta na questão da teleologia para afastá-la.


Ponto 5- Trecho se inicia p. 442 (“Com razão ele aponta…) e vai até p.442 (“um mundo realmente adverso-a-sentido”)


Comentários do trecho:


- Na visão do Hartmann, o que é o adverso a sentido e a sua diferença ao sem sentido?


- Se opor a uma teleologia contrariando a teleologia apontada é diferente de dizer que a ontologia não tem teleologia. O sentido contrário é diferente de dizer que a ontologia não tem sentido. O contrário ao sentido histórico, mas não uma ausência de sentido histórico.


- A ontologia de Lukács tem uma finalidade? Alguns acham que ela é destituída de sentido, outros não. De um lado, Lukács coloca a “ideação” no indivíduo. Esse é o significado de dizer que a ontologia que ele propõe é a ontologia do ser social. A soma das diversas teleologias individuais dá em algo que não é teleológico.


Por outro lado, dá sentido, baseando-se no Hartmann, é diferente da maneira como era dos autores do existencialismo. Na religião, tem um sentido pleno que é Deus e tem um sem sentido, que é a angústia humana, que leva ao sem sentido. Assim, Hartmann se insurgiria contra essa divisão entre o sem sentido e o pleno de sentido.


- Esse trecho do Hartmann há um paralelo com o sentido de razão do iluminismo, razão enquanto finalidade. Hegel coloca o espírito como tendo uma teleologia, um destino que precisa cumprir, nesse sentido, a razão é interpretada como a laicização do desígnio divino. O lugar de Deus passa a ser ocupado pela racionalidade e suas formas, principalmente do Estado, do Direito e da Lei. Por que o Lukács, ao tentar fazer uma Ética, vai para a ontologia?


Parece que ele antecipa que existe um sentido na ontologia. A ontologia tem uma teleologia. Porém, essa teleologia não pode ser uma teleologia religiosa, não pode ser uma teleologia da razão(idealista), não pode ser uma teleologia individual e pessoal, no sentido do existencialismo. Parece que Lukács ainda trabalha com muitos aspectos da razão iluminista. Numa inversão, numa virada materialista, o Lukács aponta que o ser social, as categorias do trabalho, tem um sentido a ser realizado.


- O sentido estaria atrelado à emancipação do trabalho?


- O foco da crítica é fazer a crítica às escolas tradicionais da filosofia que não olhavam as relações sociais. Por um lado, se passa numa coisa divina que é supra sensível, e a reação tende a ser um individualismo extremo, romântica, emocional. Num caso, quanto ao outro, não se está analisando as condições específicas da produção e reprodução social.


- Paramos na página 442 (“adverso-a-sentido”)


Comentários finais:


Lukács faz com Hartman o que Marx fez com o Feuerbach. Ele tem potencialidade, mas não vai até as últimas consequências. Falta a percepção de que não existe esse indivíduo, o que existe é um ser social que se revela no cotidiano.


Próxima reunião: leituras das p.442-452.

Qual a diferença entre a leitura sintomal, a crítica imanente e a crítica interna?

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