RELATÓRIO - Reunião 18/11/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 556-559)
Relatório – Reunião 18/11/2021
Para uma ontologia do ser social (p. 556-559)
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
Apresentação - p. 556-559
Finalizamos hoje o Caítulo “III. A falsa e a autêntica ontologia de Hegel”, seção 2 sobre “A ontologia dialética de Hegel e as determinações de reflexão”
Minha apresentação será bem curta, porque na página 559 começa o próximo capítulo “IV. Os princípios ontológicos fundamentais de Marx”. Como é nosso último encontro, entendi que não faria sentido começar Marx hoje. E que seria começar do começo no ano que vem... a depender do que for definido de próximos passos do grupo na reunião de planejamento do ano que vem.
Essas últimas páginas são um certo esforço de síntese de fechamento do Capítulo mesmo, como o Luis Henrique apontou na apresentação dele no encontro passado.
3 partes da lógica e doutrina hegeliana: do ser, da essência e da idéia.
Lukács sustenta que é removendo os esquemas logicistas do Hegel que é possível alcançar a verdadeira diferenciação da essência unitária das determinações de reflexão.
Que a dialética não pode ser aplicada a todas as formas de ser, adequando o conhecimento a realidade. E que isso é uma prioridade ontológica.
Opositores da dialética operam exclusivamente com as formas da contraditoriedade mais desenvolvidas e negligenciam as formas de transição.
Diante disso ele – Lukács – propõe uma unificação das determinações de reflexão revela a possibilidade de diferenciar os diversos modos de manifestação de uma dialética assim apreendida para os diferentes níveis do ser, as suas correspondentes qualidades ontológicas.
Com isso ele sustenta que sujeito e objeto são igualmente determinações de reflexão, que apenas se tornam reais no nível do ser social.
O que era uma intuição em Hegel, mas que esse autor deduziu de uma história universal e cósmica, por meio da ontologia do ser social pode se tornar conhecimento.
Então ele diz que esclarecer o caráter e a esfera de operação das determinações de reflexão pode também trazer consigo uma iluminação ao conceito da superação das contradições.
Para explicar isso, ele distingue a superação na esfera da realidade (de sua qualidade concreta) e no seu mero conhecimento (no campo interectual, de caráter teórico geral), mesmo que em ambos os casos seja falado de ontológicas relações de ser.
Mas, se as determinações de reflexão determinam uma dimensão concreta no interior de um complexo de ser – e aí ele propõe, para explicar, pensar na relação forma-conteúdo, sua superação só pode ser gnosiológica, porque não seria possível superar a objetividade realmente dada, porque dela emerge uma ou novas objetividades. Ela se renova sempre, numa relação forma-conteúdo. Aqui entendi que ele relaciona com a natureza, mas depois ele vai desenvolver isso. Vejamos.
Mas que podem forma e conteúdo estar em relação de determinação de reflexão seja se equilibando relativamente através da dinâmcia das contradições, seja por meio da superação total ou parcial de um complexo por outro. E isso acontece na realidade, modifica a realidade.
A radicalidade dessa modificação depende do quanto foi destruído e do quanto foi preservado nesse processo de superação real. E isso é ontológico, concerne ao ser social.
No ser social, a consciência social (falsa ou verdadeira) adentra a superação real. Um conhecimento verdadeiro dos complexos que impulsionam a superação ou a impdem, pode se tornar um real componente ontológico no processo de superaçao.
Quando o conhecimento ocasiona intervenção ativa na dialética, o processo tem lugar na esfera do ser social, no metabolismo da sociedade com a natureza.
E é essa diferença ontologicamente muito importante que não aparece na estrutura do sistema de hegel.
Relatoria - Debates
Lukács justifica sua ontologia e explica a superação. Se o ser superado é outro ser ele ontologicamente é outra coisa. (COMENTÁRIO)
Em contraposição ao “esquema logicista” de Hegel de ir direto ao processo final acabado, o autor aponta que o deve se dar importância à determinação reflexiva não é o resultado, mas o processo de transição em si, da realização da determinação. (COMENTÁRIO)
Dúvida: Lukács está falando de uma forma abstrata de dialética, mas parece que se trata de um pretexto para falar de Revolução Russa, da transição ao socialismo no leste europeu. Será que ele está falando disso? Isso aparece na página 556. Parece que ele talvez esteja colocando a superação do capitalismo como forma inferior e o socialismo forma superior. O stalinismo defendia que tinha realizado o que tinha que ser realizado. Parece que Lukács quer apontar e problematizar isso. Se isso estiver correto, aqui, sua crítica apontaria o problema de “colocar o carro a frente dos bois” e que as formas superiores do comunismo ainda não estão colocadas na transição que ocorria naquele momento. O stalinismo forçaria no conhecimento uma resolução que na verdade ainda não aconteceu. (COMENTÁRIO)
A redução da formulação a “formas inferiores” e “formas superiores” não é uma boa fórmula. O mais correto seria abordar o nível e diversidade de determinações e suas complexidades. (COMENTÁRIO)
Se Hegel supera a concepção representacional, a questão trazida é se ele faz isso ontologicamente. Lukacs diz que é decisivo para a ontologia do ser social a transformação da intuição de Hegel em conhecimento, o que signigica desejar que o Hegel tenha tido essa intuição. Mas não acredito que a operação para superar a concepção representacional em Hegel seja ontológica. Caso contrário, ele não seria idealista. O que Hegel propõe é a unificação sujeito e objeto em uma chave subjetiva, a razão que comanda o processo e não a realidade. (COMENTÁRIO)
Costuma-se distinguir Hegel e Kant com as perspectivas de “não representação” e “representação”, mas existe um elemento de representação em Hegel não desprezível (COMENTÁRIO)
Sobre a representação, duas perguntas: 1) Quando dizemos que Hegel se opõe ou mesmo rompe com a representação em Kant, não se trataria justamente de que, como em Kant a coisa em si é inacessível pelo sujeito cognoscente, ele não pode, então, acessa-la diretamente e a representa? Por sua vez, Hegel diz que é possível acessar e é porque se acessa que existe a unidade sujeito e objeto? Sua dialética é a constatação da possibilidade da unidade entre sujeito e objeto. Ele não precisa ser representado porque é acessível. 2) Em que medida podemos tratar a idéia de otologia como materialidade e de gnosiologia como idealismo? Porque parece cada vez mais que, em Lukács, esses conceitos que não estavam colocados como sinônimo, vão se aproximando. (COMENTÁRIO)
Não acredito que esses conceitos possam ser tratados como sinômimo. Não em Hegel e nem em Marx. Talvez se trate de uma simplificação de lukács. Marx propõe a possibilidade de as abstrações fazerem parte da materialidade. Fica difícil fazer essa assimilação. No Hegel isso fica muito claro porque exclusivamente a coisa não existe em sua autonomia, ela está sempre em unidade com o conceito. Se fosse possível encontrar uma ontologia no Hegel, como quer lukács, a própria ontologia seria idealista (se é que isso é possível). Essa perspectiva retoma o problema de confundir o processo de reprodução do concreto no pensamento com a genese do próprio concreto. (COMENTÁRIO)
O sujeito muda e objeto muda. O sujeito sempre pensa o objeto, mas lhe empresta algo que é seu. O sujeito empresta ao objeto e está inserido na renovação do processo. (COMENTÁRIO)
Poderíamos dizer que, em Hegel, a representação é superável e em Kant não o é. Lukács fala da correta representação ou correto espelhamento do ideal no real. O que parece é que lukács não está diminuindo o papel da abstração, mas que existe um tipo de abstração que, na medida em que é erroneamente feita a partir do real, vai sendo trabalhada a despeito dos equívocos: esse tipo de conhecimento passa a se reportar meramente a ideias equivocadas. Nesse sentido parece com o que Marx chama de idealismo. (COMENTÁRIO)
Temos aqui Lukács dizendo qual é sua ontologia (mais do que falando da de Hegel). O modelo de representação está presente em Kant e em Hegel, mas o que está sendo representado por eles é totalmente diferente. O que cada um chama de realidade é diferente. (COMENTÁRIO)
Por mais que exista uma superação de forma e conteúdo isso vai gerar uma nova relação forma e conteúdo. (COMENTÁRIO)
Na autocrítica de História e Consciência de Classes (momento em que Lukács está escrevendo a Ontologia), ele diz que seu erro foi entender que a superação da reificação (objetivação capitalista – mais complexa) significaria superar toda forma de objetivação. Mas a objetivação é parte do processo dialético de mediação do ser com a natureza. E que seu “ultra-esquerdismo” de juventude o fazia entender que basta saber/conhecer a conexão dialética da realidade para levar a cabo a superação, mas que faltou compreender o ser na realidade como parte dessa dialética e capaz de incidir nela. Não apenas a superação no conhecimento. (COMENTÁRIO)
Num primeiro momento a crítica da alineação, algo de seu vai para o produto, ou seja, vai do subjetivo para o objetivo, e, no capitalismo, isso significa uma oposição que se contrapõe ao “homem”. Existiriam duas maneiras de objetivação: uma é a que estranaha o trabalhador de seu produto (alienação e estranhamento), a outra é a objetivação espontânea da relação do sujeito com o mundo. Mas ela pode ser “sequestrada” pelo capitalismo (COMENTÁRIO)
Existitia uma dialética e uma objetivação inerente ao metabolismo do ser com a natureza, e Lukács aponta no prefácio de História e Consciência de Classe que ele não teria diferenciado as formas de objetivação, e essa seria uma necessidade ontológica perante a dialética “esquemática” de Hegel (COMENTÁRIO).
Lukács acaba recaindo na perspectiva da consciência de classe. Veja-se o trecho “Na medida em que o conhecimento ocasiona uma intervenção ativa na sua dialética, o processo tem lugar na esfera do ser social, no metabolismo da sociedade com a natureza, com o que, todavia, o apreender correto da dialética da natureza constitui o pressuposto inevitável”. Com o conhecimento das interações da dialética do ser social a classe seria capaz de intervir na realidade (COMENTÁRIO)
O trecho a seguir expressa muito bem essa perspectiva: “Um conhecimento verdadeiro dos complexos que impulsionam a superação ou dela afastam também pode, sob determinadas circunstâncias, tornar-se um real componente ontológico no processo de superação. Obviamente, o conhecimento de processos naturais pode igualmente conduzir a reais superações de complexos, da ciência da estrutura dos átomos até o criar de seres vivos, se estende uma tal série de reais superações.”. Tenho uma correta compreensão da dialética você pode intervir nela para levar à superação. Existe uma dialética (tal qual a de Hegel) e faltaria o sujeito (real) compreendê-la e comandá-la. (COMENTÁRIO)
Lukács empresta algo de representação. Se a consciência é o que representa, ela é a ontologia. Tal perspectiva implica em um certo determinismo. (COMENTÁRIO)
Parece que a correta representação do espelhamento do real e o ideal é o ontológico. E uma incorreta representação desse tipo seria o gnosiológico. Com isso, caímos no problema de entender que se se questiona a separação radical de sujeito e objeto e a partir a relidade é que se obtém uma correta representação, incorremos num relativismo. Essa colocação é desastrada porque ela justamente se mantém num subjetivismo, na primazia do sujeito sobre o objeto, não colocando que o conhecimento é uma construção social. E sociedade é entendida como um amálgama específico de sujeito e objeto, cultura e natureza, etc. Colocar o problema dessa forma (ou é relativismo do sujeito cognoscente ou objetivismo do objeto - da natureza colocada perante o homem), é não escapar de uma estreiteza do pensamento burguês, que não consegue pensar o mundo como sendo relações para além do sujeito, permanecendo preso na individualidade metodológica. Se entendermos que é na relação de classe que os conhecimentos vão sendo criados em disputa constante, não faz sentido a ideia de verdade como representação. Como lukacs não vê isso, ele coloca as coisas dessa forma. (COMENTÁRIO)
No prefácio de História e Consciência de Classe, Lukács faz uma retraração. Quem determina a realidade é o sujeito, ou seja, a “história com sujeito” é a centralidade da história. E aí não há nenhuma ontologia. (COMENTÁRIO)
É hegeliano (COMENTÁRIO)
Como fica a ciência, o entendimento da ciência para Lukács a partir de Hegel e a gnosiologia. Porque nesses parágrafos finais parece que, em resumo, a maneira como ele trata essa questão do complexo do ser social e das determinações de reflexão fazendo esse balanço, valida a gnosiologia como um elemento ou momento que pode fundamentar e interagir com a dialética, como um acesso do ser social. Vejam-se as frases: “Naturalmente, o estudo concreto das novas relaçõesforma-conteúdo permanece uma importante questão científica” e “Um conhecimento verdadeiro dos complexos que impulsionam a superação ou dela afastam também pode, sob determinadas circunstâncias, tornar-se um real componente ontológico no processo de superação”. Como fica a ciência aí? A nova relação forma-conteúdo seria uma questão científica? Mas porque não ontológica? Luckács retoma a ideia representacional gnosiológica como fundação do conhecimento científico e que, de alguma maneira, isso pode sob determinadas circunstâncias... que reais circunstâncias? Do nível da relação mais ou menos complexa? Das determinações transitórias? As determinações de reflexão parecem se resumir à abstração transhistórica do trabalho. A sensação que ficamos nos encontros anteriores e essa dúvida sobre o tom que o Lukács empresta do Hegel validam a ideia de que Lukács defende que a exposição de Hegel é loigicizante, mas o que está por trás dela é o que ele se apropria. (COMENTÁRIO)
COMENTÁRIO – Quando Lukács fala que existem pelo menos 2 tipos de representação certa e errada (ontologica ou gnosiologica) ele ainda está num escopo iluminista, pois não aborda o conhecimento como algo sempre atualizado por disputa de classe.
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