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RELATÓRIO - Reunião 20/05/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 468-475)

  • dhctem
  • 20 de mai. de 2021
  • 5 min de leitura

Relatório – Reunião 20/05/2021

Para uma ontologia do ser social (p. 468-475)


TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.


Resumo de leitura: “A falsa e a autêntica ontologia de Hegel” (pp. 468/475)


LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para a ontologia do ser social [obras de Georg Lukács, volume 13]. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.


Posicionando: “A falsa e a autêntica ontologia de Hegel” é o terceiro capítulo de Para a ontologia do ser social, de Lukács. Nessas noventa páginas de sua obra (pp. 468/558 da obra, folhas 475/565 do arquivo), Lukács dá sequência à reflexão iniciada com a crítica ao neopositivismo e ao existencialismo (capítulo 1) e à ontologia de Nicolai Hartmann (capítulo 2). O capítulo sobre o pensamento de Hegel divide-se em duas partes, “A dialética de Hegel ‘em meio ao esterco das contradições” (pp. 468/515) e “A ontologia dialética de Hegel e as determinações de reflexão” (pp. 515/558).


Ponto 1: Lukács começa o capítulo contextualizando a contribuição de Hegel em meio à filosofia clássica alemã, que transita entre a “onipotência da razão” e sua realização com a Revolução Francesa e a irratio do romantismo, como negação de “toda a relevância ontológica da razão”, além daqueles que viam na contrariedade do presente uma espécie de fase transitória para o império futuro da razão. Hegel, por sua vez, tem na contradição o “princípio ontológico último”. Daí a afirmação de Lukács: “Contraditoriedade como fundamento da filosofia combinado com o presente real como realização da razão constituem portanto as sólidas fundações do pensamento de Hegel”. No entanto, Lukács acusa como aparente a “unificação filosófica de ratio com a realidade”.


Ponto 2: para iniciar sua crítica a Hegel, Lukács insere, a partir daí, a ideia de “esterco das contradições” de que fala no título, com a seguinte formulação: “Para, hoje, tornar Hegel força viva atuante do pensamento filosófico, tem-se de continuar no caminho iniciado pelos clássicos do marxismo. Deve-se considerar Hegel como o próprio Marx considerava Ricardo: «No mestre, se desenvolve violentamente o novo e significativo em meio ao ‹esterco› das contradições, dos fenômenos contraditórios.»”


Esse “esterco das contradições”, segundo Lukács, “aparece em Hegel, antes de tudo, como o reconhecimento da contraditoriedade do presente, como problema não apenas do pensamento, mas ao mesmo tempo como da realidade enquanto tal, enquanto problema ontológico primário, mas que aponta para além do presente na medida em que é apreendida como base dinâmica da realidade como um todo e como seu fundamento e, por isso, como o de todo pensamento ontológico racional acerca dela. A penetrante emergência da contraditoriedade no presente dos seus dias é, portanto, para Hegel, nada mais do que a culminação de um processo dialético que, iniciando da natureza inorgânica, impulsiona a esse cume através da vida e da sociedade” (p. 469).


Ponto 3: Lukács apresenta, na sequência, os momentos desse “esterco das contradições” (p. 470). O primeiro momento seria “a unificação de sequência dialética e historicidade real”. O segundo momento é assim definido por Lukács: “centrar-se no presente enquanto reino da razão realmente alcançado, expulsa, por um lado, todo elemento necessariamente

subjetivista da dialética (pense-se em Fourier) e sublinha seu caráter ontológico objetivo”.


Há, nesse momento, uma insolúvel contradição: “o presente apenas como ponte entre o passado e o futuro pode receber um genuíno, ontológico, ser-fundado; todavia, o presente é a realização real das possibilidades internas da dialética, então o processo tem de, precisamente em sua realizabilidade, em consequência de sua realização, ter um fim e, o que até então era o motor ontológico da realidade deve abandonar sua mobilidade dirigida ao seu enriquecimento próprio, para adiante, e se tornar mero momento de sua autorreprodução” (p. 470).


Ponto 4: Lukács reflete, então, sobre como “as diferentes concepções utópicas, quer sejam dirigidas adiante ou para trás”, apresentam soluções contraditórias para esse dilema, especialmente quando são “dirigidas para trás”, porque “As utopias dirigidas à restauração de uma condição passada devem — se o movimento retrocessivo não se baseia apenas na imaginação, em um mal-entendido das próprias intenções básicas, como a pretensa revitalização da Antiguidade no Renascimento — essencialmente ser de caráter irracionalista” (p. 470). Na sequência, Lukács descarta o que podemos chamar de “irracionalismo das utopias românticas”, porque, em suas palavras, “Se, como na maior parte dos esforços românticos, toma-se o «orgânico» como modelo, essa contradição se agrava ainda mais, pois o desenvolvimento orgânico, em um modo muitíssimo incisivo, inclui a irreversibilidade do tempo, com o que ambos os princípios ontológicos principais encontram-se reciprocamente em uma insolúvel relação antinômica”. (E aqui já se antecipa o problema da relação entre razão e natureza que será importante à frente.)


Nota: representação do romantismo no Fausto, de Goethe.


Nota: retomar “oposição entre sistema e método”, mencionada por Lukács.


Ponto 5: o “reino da razão” no Iluminismo. Lukács afirma algo que me parece central para esse capítulo: “Aqui a razão é o princípio último para o ser e o devir da natureza e da sociedade. Tarefa da filosofia é descobrir e elaborar esse princípio, com o que a sociedade corresponde às leis eternas, irrevogáveis, da natureza. Com isso a concomitância prática e real das, em si idênticas, natureza e razão torna-se na vida social dos seres humanos uma demanda futura, não uma determinação ontológica do presente. (O Iluminismo é, de fato, uma filosofia de preparação da Revolução Francesa, não sua consequência, como a de Hegel.)” (p. 471). O comentário sobre a concepção de natureza que se forma à época das grandes descobertas científicas de Galileu e Newton (séculos 16 e 17) é concluído com uma afirmação incisiva para o desenvolvimento da ontologia de Lukács: “nenhuma ontologia do ser social é diretamente derivável dessa concepção de natureza” (p. 471 – ler o parágrafo entre pp. 471 e 472).


Ponto 6: Lukács aponta diferenças entre o pensamento iluminista e o de Hegel, reforçando o corte entre pré-revolução e pós-revolução. O Iluminismo encontra na razão uma forma de revolucionar o presente em direção a um futuro que corresponda à natureza (ela mesma revelada pela razão), ao passo que Hegel vê o presente como a realização da razão. Destaque aí para as diferenças entre o conceito de natureza do Iluminismo e de Kant e, de outro lado, o de Hegel (p. 473).


Ponto 7: aqui Lukács começa a explanar as conexões entre dialética e presente em Hegel, bem como a distinção com relação ao “dever moral” em Kant: “Faz parte da grandeza de Hegel, não por último, que ele tenha enxergado esse problema ontológico por vezes com elevada clareza e intelectualmente haja tentado apreendê-lo com todas as suas consequências. Que encontre apenas soluções contraditórias e, com frequência, extremamente inconsistentes que impulsionam a insolúveis consequências antinômicas, conecta-se igualmente com que sua concepção da história da filosofia é dirigida ao presente — em estrita oposição ao passado e ao futuro. A crítica dialética do dever constitui, por assim dizer, uma refrega preliminar dessa batalha decisiva da ontologia corrente. Essa contenda sobre o significado do dever faz parte da polêmica de toda a vida de Hegel contra Kant. Para este, uma relação ontológica do ser humano com a verdadeira (transcendente) realidade surge exclusivamente do dever moral. Apenas na realização do imperativo categórico, que significa para o ser humano um dever incondicionado e abstrato, pode se elevar acima do teoricamente inexorável dado mundo dos fenômenos, pode, como homo noúmenos, colocar-se em relação com a realidade (transcendente). Para Hegel, contudo, toda moralidade apenas expressa uma parte da práxis humana que conduz a uma práxis autêntica, e o dever tem um significado real apenas na medida em que expressa a distância dos desejos humanos “ao o que, em si, é”; na eticidade isto se alcança e, com isso, o lugar central do dever é superado também no mundo da práxis. A profunda correção e igualmente profunda problemática dessa tomada de posição de Hegel podem apenas ser adequadamente tratadas na ética”.


A partir da pág. 475, começa uma reflexão sobre a questão do “fim da história” em Hegel.


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