RELATÓRIO - Reunião 23/06/2022 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 46-86)
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Relatório – Reunião 23/06/2022
Para uma ontologia do ser social (p. 46-86)
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
O trabalho como modelo da práxis social
Resumo: Neste capítulo, Lukács se propõe esmiuçar a ontologia do ser social pela leitura do trabalho como modelo da práxis social. Aqui, o autor traz, a todo tempo, os equívocos metodológicos da teoria idealista, materialista vulgar no que se refere à análise da gênese do dever, tomando como referência o que a teoria materialista compreende como práxis. Para isso, a construção do texto foi feita de modo em que contradições fundamentais (muitas vezes, sob a forma de perguntas, p.ex na pág. 61) são apresentadas a fim de demonstrarem as divergências metodológicas entre as teorias supramencionadas. Assim, Lukács retoma, o tempo todo, ao decorrer da sua análise o argumento central do texto acrescentando-lhe determinações na medida que tenta “reconstruir” o método materialista. Nesse sentido, o autor traz tanto divergências com as teorias idealistas, como aos que chama de “materialismo vulgar”. Em consideração a esta última, Lukács apresenta, no texto, as suas divergências teóricas com o Hegel, bem como suas proximidades, colocando como “materialismo vulgar” tanto os equívocos hegelianos como os equívocos de leituras que descartam toda a contribuição de Hegel na leitura do dever. O dever, neste capítulo, aparece como princípio orientador da práxis. Lukács faz essa leitura do dever pelo desdobramento da sua leitura da teoria do valor e da divisão social do trabalho. Diante disso, numa leitura pela ontologia social, há que se considerar que o valor detém uma relevância ontológica que se diferencia da sua gênese ontológica, uma vez que o ser do ser social se preserva enquanto substância no processo de reprodução que é complexo e síntese de atos teleológicos que, de fato, são inseparáveis da aceitação ou rejeição de um valor. Este seria o fundamento para concepção marxiana de que: que os seres humanos fazem sua própria história, todavia não podem fazê-la sob circunstâncias de sua própria escolha.
Apresentação estruturada do texto:
Pág. 45: (...) ainda mais importante é agora apontar o que nesse sentido diferencia o trabalho das formas desenvolvidas da práxis social
O trabalho, nesse sentido originário e mais restrito, contém um processo entre atividade humana e natureza: seus atos são dirigidos à transformação de objetos naturais em valores de uso.
Contradição 1: simultânea identidade e não-identidade de diferentes patamares do trabalho, mesmo com mediações amplas, múltiplas e complicadas.
Pág 45: O fato de que apenas — em conexão com o respectivo ato de trabalho concreto — um reflexo coisalmente correto das relações causais que vêm em consideração para a finalidade do trabalho pode efetuar sua transformação incondicionalmente necessária em posta, não atua meramente na direção de uma permanente revisão e aperfeiçoamento do ato do reflexo, mas também no da sua generalização
Pág 47: o trabalho, no sentido até agora tratado, constitui a base real imediata, a finalidade final de uma cadeia de mediação, eventualmente muito extensa, de posições teleológicas, em parte porque esse primeiro olhar já mostra igualmente essas conexões que o trabalho primordial tem de desenvolver necessariamente tais formas mais complicadas a partir de si mesmo, a partir da dialética peculiar de sua compleição. E essa dupla conexão indica uma simultânea identidade e não-identidade de diferentes patamares do trabalho, mesmo com mediações amplas, múltiplas e complicadas.
Pág. 50: Nessa dupla relação de dependencialidade e ser-posto-por-si-próprio se reflete igualmente um importante problema, o de que o refletir humano, a consciência e a autoconsciência da humanidade no curso da história, repetidamente se colocam renovadamente e são forçadas a responder: o problema da teoria e da práxis. Para se encontrar o correto ponto de partida desse complexo de problemas, temos de retornar ao problema que já, com muita frequência, repetidamente tocamos: ao de teleologia e causalidade.
Pág. 47: As posições teleológicas que aqui realmente ocorrem possuem, portanto, do ponto de vista do trabalho imediato, um caráter secundário; devem ser precedidas por uma posição teleológica que determine o caráter, o papel, a função etc. das posições singulares, de agora em diante concretas e reais, dirigidas a um objeto natural. O objeto desta posição de finalidade secundária não é mais algo, portanto, puramente natural, mas a consciência de um grupo humano; a posição de finalidade não mais intenciona imediatamente a transformação de objetos naturais, mas a realização de uma posição teleológica, a qual, contudo, já está dirigida aos objetos naturais; os meios igualmente são não mais efeitos imediatos sobre os objetos naturais, mas querem alcançar tais efeitos por outros seres humanos.
Pág. 47: Já vimos que a posição teleológica conscientemente executada causa um distanciamento no reflexo da realidade, que com esse distanciamento surge pela primeira vez a relação-sujeito-objeto no sentido rigoroso da palavra.
Metáfora do ovo e da galinha para mostrar que se trata, também, de uma questão conceitual e da linguagem: pág. 48 - Pois palavra e conceito, linguagem e pensamento conceitual constituem elementos articulados do complexo: o ser social, e eles podem ser apreendidos em sua verdadeira essência apenas em conexão com sua análise ontológica, por meio do conhecimento de suas reais funções que exercem no interior desse complexo
A partir dessa metáfora, conclui que: pág. 48 - Assim é o trabalho para com os outros momentos do complexo: o ser social. Uma dedução genética da linguagem ou do pensamento conceitual é, sem dúvida, possível, pois a execução do processo de trabalho coloca demandas ao sujeito executor que apenas podem ser atendidas através da simultânea renovação das, então disponíveis, capacidades psicofísicas e das possibilidades na linguagem e no pensamento conceitual, enquanto estas não podem ser ontologicamente compreendidas sem as precedentes demandas do trabalho, nem, ainda menos, como condições causadoras do processo de trabalho. É evidente pela própria natureza que, uma vez que as necessidades do trabalho chamaram à vida a linguagem e o pensamento conceitual, seu desenvolvimento tem de ser uma ininterrupta, indissolúvel, interação, e o estado de fato de que o trabalho ainda prossiga constituindo o momento predominante, de modo algum supera a permanência de tais interações, ao contrário, as reforça e intensifica. Disto segue-se necessariamente que, no interior de um tal complexo, deve prosseguir uma ininterrupta influência da linguagem e do pensamento conceitual sobre o trabalho, e vice-versa
Pág. 49: No ser social isso é nitidamente visível nas formas do reflexo da realidade. O fato de que apenas — em conexão com o respectivo ato de trabalho concreto — um reflexo coisalmente correto das relações causais que vêm em consideração para a finalidade do trabalho pode efetuar sua transformação incondicionalmente necessária em posta, não atua meramente na direção de uma permanente revisão e aperfeiçoamento do ato do reflexo, mas também no da sua generalização.
Pág. 50: A persistente ligação de tais conceitos com representações (Vorstellungen) mágicas e míticas, que se estende muito amplamente na época histórica, mostra como, na consciência dos seres humanos, o necessário agir finalístico, suas correta preparação intelectual e execução intelectual, podem se mesclar com falsas representações (Vorstellungen) sobre o não-existente enquanto fundamento verdadeiro, último, produzindo ininterruptamente e sempre formas superiores de práxis. Isso mostra que a consciência acerca das tarefas, acerca do mundo, acerca do próprio sujeito, nasce da reprodução da própria existência (e, com ela, da do ser do gênero) como seu instrumento indispensável; torna-se cada vez mais ampla, cada vez mais independente, contudo permanece, sempre igualmente em um modo inexorável, mesmo se amplamente mediada, por último um instrumento dessa reprodução do próprio ser humano
Demonstra isso em Marx citando Primeira Tese contra Feuerbach e, demonstra à critica de Marx ao limite do idealismo hegeliano (pp. 51-52). Desse modo, sintetiza: Com isto a posição de Marx, tanto contra o velho materialismo quanto contra o idealismo, está claramente delineada: a solução do problema da teoria e da práxis requer o recorrer à práxis em seu modo fenomênico, real e material, em que suas determinações ontológicas fundamentais vêm à luz nítida e inequivocamente detectáveis. Nela, o ontologicamente decisivo é a relação de teleologia e causalidade. Para o desenvolvimento do pensamento humano, da imagem humana de mundo na qual o pioneirismo da colocação da questão em que o trabalho é posto no ponto central deste argumento, não se limita apenas a que, com isto, expulsa criticamente do decurso do ser em sua totalidade toda introjeção de teleologia, que o trabalho (a práxis social) é entendido como o único complexo ontológico no qual a posição teleológica alcança a um real papel autenticamente alterador da realidade; determina ainda, a partir dessa base, mas a generalizando e, com tal generalização, indo para além da mera constatação de um estado de fato ontologicamente fundamental, a única filosoficamente correta relação entre teleologia e causalidade
Pág 52- Teleologia e causalidade não são, como foi descrito até agora em toda análise gnosiológica ou lógica, princípios mutuamente excludentes no decurso dos processos, na existência e no ser-assim das coisas, mas são, de fato, princípios mutuamente heterogêneos que, por toda a sua contraditoriedade, apenas conexos, em inseparável coexistência dinâmica, resultam na base ontológica de determinados complexos móveis, os quais, de fato, são ontologicamente possíveis apenas na esfera do ser social, e cuja operatividade nesta esfera resulta, ao mesmo tempo, na característica principal desse patamar ontológico
Pág. 55 - A estreita ligação de teoria e práxis tem por consequência necessária que a última, em suas formas de manifestação socialmente concretas, torna-se amplamente influenciada pelas representações (Vorstellungen) ontológicas dos seres humanos sobre a natureza.
Resumidamente: Pág. 53 - A coexistência ontológica de teleologia e causalidade no comportamento do trabalhador (prático) do ser humano, e apenas aqui, tem por consequência ontológica que, por sua essência social, teoria e práxis têm ser momentos de um e mesmo complexo ontológico social, portanto apenas pode-se concebê-los corretamente a partir dessa interrelação
Pág. 54: Mesmo uma eventual indiferença dos seres humanos para com uma influência dessa maneira intencionada tem apenas a designação em comum com a antes mencionada indiferença do material natural. Para a natureza, a indiferença é uma metáfora que deve indicar sua permanente heterogeneidade, invariável, completamente neutra, ante as posições humanas de finalidade, enquanto a indiferença dos seres humanos ante tais intenções é um tipo de comportamento concreto, modificável sob circunstâncias, social e individualmente concretamente causada
Pág. 56 O objeto (Objekt) só pode se tornar um objeto da consciência se esta tenta apreendê-lo mesmo onde nenhum interesse biológico imediato enlace o organismo portador dos movimentos ao objeto (Gegenstand). Por outro lado, o sujeito apenas se torna sujeito porque executa uma tal mudança em sua atitude para com os objetos (Gegenständen) do mundo exterior.
Pág. 58: Imediatamente, isto significa que a formulação matemática dos resultados de experimentos tem de ser completada e aperfeiçoada pela sua interpretação física, química ou biológica etc. Isso, contudo, traspassa — independente da vontade do participante — necessariamente em uma intepretação ontológica. Pois toda fórmula matemática é, nesse sentido, ambígua; a visão de Einstein da teoria da relatividade especial e a assim denominada transformação de Lorentz são, puramente matematicamente equivalentes entre si — a discussão acerca de sua correção pressupõe uma discussão sobre a totalidade da imagem física de mundo, portanto que traspassa sem dúvida no ontológico
Problema da ciência tradicional: Pág. 58- Os teologicamente fixos dogmas ontológicos da religião se esfrangalham, volatizam-se cada vez mais e, em seu lugar, adentra uma necessidade religiosa que parte da essência do capitalismo atual, na maior parte das vezes subjetivamente fundada na consciência. O método manipulatório nas ciências contribui muito para este fundamento, porquanto corrói o sentido crítico para com o ser real e, assim, deixa aberto o caminho para uma pura necessidade religiosa que permanece subjetiva, e além disso, na medida em que determinadas teorias das ciências modernas influenciadas pelo neopositivismo, p. ex., sobre espaço e tempo, cosmos etc. facilitam uma reconciliação intelectual com as desbotadas categorias ontológicas da religião. É característico que — embora os principais cientistas da natureza costumem tomar aqui a posição de uma refinada neutralidade científicopositivista — haja eruditos renomados e de mérito que tentam diretamente reconciliar tais interpretações das mais novas ciências da natureza com as modernas necessidades religiosas.
Pág. 60 - Resposta da critica ontológica:
É por isso que a crítica ontológica tornada necessária deve incondicionalmente ser, portanto, uma crítica concreta, fundada na respectiva totalidade social e orientada para a totalidade social.
As consequências espirituais do desenvolvimento desigual na sociedade são tão intensas e multifacéticas que todo esquema na abordagem desse complexo de problemas teve apenas de produzir maiores afastamentos do ser. Portanto a crítica ontológica deve se orientar ao todo diferenciado da sociedade — concretamente diferenciado segundo as classes — e às inter-relações dos tipos de comportamento que dele emergem. Apenas assim pode ser corretamente aplicada a importante função da práxis como critério da teoria, decisivo para todo desenvolvimento espiritual, para toda práxis social
Contradição II: Pág. 61: quais mudanças ontológicas esse salto do ser humano para fora da esfera do ser biológico produziu no social, no modo de comportamento do sujeito.
Pág. 61 (...) na determinabilidade causal normal, biológica; portanto, tanto nos seres humanos quanto nos animais emerge um curso causal no qual de modo inevitável sempre o passado determina o presente. Também a adaptação dos seres vivos a um entorno alterado procede com necessidade causal, na medida em que o organismo reage a uma tal alteração, mantendo-se ou se destruindo, a partir das propriedades produzidas pelo seu passado
Pág. 61 (...) O pôr finalidade inverte, como vimos, essa relação: a finalidade é (na consciência) anterior que sua realização e, no processo que conduz a esta, cada passo, cada movimento é dirigido pela posição de finalidade (pelo futuro).
Pág. 61 Visto do sujeito, este agir determinado pelo futuro posto é justamente um agir guiado pelo dever da finalidade
Pág. 61 (...) o próprio processo de trabalho não significa mais do que trazer à vida esse tipo de relação causal concreta para a realização da finalidade.
Pág. 61 (...) O reflexo correto da realidade é, naturalmente, inexoravelmente o pressuposto de um dever que funciona corretamente; esse reflexo correto apenas pode ser efetivo se ele realmente promove a realização do devido
Pág. 63: A incapacidade do pensamento idealista de apreender mesmo as mais simples e claras relações ontológicas se baseia metodologicamente, por último, em que se satisfaz em analisar gnosiológica ou logicamente os mais elevados, espiritualizados, sutis modos de manifestação de categorias, com o que o complexo de problemas que aponta o caminho de sua gênese real não meramente é negligenciado, mas completamente ignorado; apenas vêm em consideração, do ponto de vista do metabolismo da sociedade com a natureza, as formas mais afastadas de práxis social e, com isso, não apenas não se toma conhecimento das com frequência enredadas mediações que as atam às suas formas originárias como, ao contrário, de fato constroem-se oposições entre as formas originárias e as desenvolvidas. Assim praticamente desaparece, na predominante maioria dos tratamentos idealistas dessas questões, a especificidade do ser social; torna-se uma construída esfera do dever (do valor) artificiosamente desenraizada, a qual é contrastada com um -— suposto — meramente natural ser dos seres humanos, ainda que este, ontologicamente objetivamente, seja sempre tão igualmente social quanto aquela
Crítica ao materialismo vulgar: Pág. 63 - Que o materialismo vulgar reaja a isto com um simples ignorar do papel do dever no ser social e tente conceber toda essa esfera segundo o modelo da pura necessidade natural, muito contribui à confusão desse complexo de problemas ao produzir em ambos os polos — por certo, opostos conteudística e metodologicamente, mas factualmente em conexão -— a fetichização dos fenômenos
Crítica ao Kant: Pág. 63 - o dever estaria desgarrado — subjetiva tal como objetivamente —, das alternativas concretas dos seres humanos; ao contrário, estas aparecem, à luz de tais absolutizações da ratio moral, meramente como corporificações adequadas ou inadequadas de mandamentos absolutos que permaneceriam transcendentes frente aos seres humanos.
Pág. 65: Hegel inicialmente é suficiente para criticar kant, mas tem limites claros: Ainda que critique a estreiteza e limitabilidade da doutrina kantiana do dever, não foi capaz de positivamente ir para além dessa estreiteza e limitabilidade. É tão correto apontar a problemática interna da pura moral kantiana quanto é falso a contraposição complementadora da eticidade enquanto socialidade plena, onde o caráter de dever da práxis na moralidade é superada através da eticidade
Onde Hegel trata desse complexo de questões imparcialmente, independentemente de uma polêmica contra Kant na »Enciclopédia«, chega, embora também aqui carregue alguns preconceitos idealistas, muito mais perto a uma autêntica constatação ontológica. Na seção sobre o espírito subjetivo, pela investigação do sentimento prático como um dos patamares de sua evolução, determina o dever como se segue: »O sentimento prático contém o dever-ser sua autodeterminação enquanto existente em si, referida a uma singularidade existente, que só existiria como válida em conformidade com ela«. Hegel aqui reconhece, de todo corretamente, que o dever é uma categoria elementar, inicial e originária da existência humana. Contudo, ele aqui não considera, o que, pela sua visão fundamentalmente correta do caráter teleológico do trabalho é surpreendente, sua relação para com este. Ao invés, seguem-se comentários depreciativos, autenticamente idealistas, sobre a relação desse dever com o agradável e o desagradável, nos quais não se omite de descartar a estes como sentimentos »subjetivos e superficiais«. Isso não o impede de antever que esse dever tem um significado determinado para toda a esfera da existência humana. Assim diz ele: »O mal não é outra coisa que a não conformidade do ser ao deverser« e ainda acrescenta complementarmente: »Esse dever-ser tem muitas significações e, por terem os fins contingentes também a forma do deverser, elas são infinitamente múltiplas«b . Essa ampliação do conceito de dever ganha um valor ainda que Hegel limite sua validade expressamente ao humano (ao ser social) e negue a existência de qualquer dever na natureza. Por conflitantes que possam mesmo ser tais comentários, mostram um enorme passo para além do idealismo subjetivo de sua época e, mesmo, posterior. Logo poderemos ver que Hegel pode se referir a esses problemas, ocasionalmente, de um ponto de vista ainda mais livre.
Resposta da Ontologia: Pág. 66-67: Se queremos conceber corretamente a inquestionável gênese do dever a partir da essência teleológica do trabalho, temos de, cremos, uma vez mais rememorar o que já explicamos sobre o trabalho como modelo para toda práxis social, a saber, que entre o modelo e suas variantes posteriores, muito complicadas, existe uma relação de identidade com a identidade e a não-identidade. A essência ontológica do dever no trabalho dirige-se de fato ao sujeito que trabalha e determina não apenas seu comportamento no trabalho, mas também para consigo próprio como sujeito do processo de trabalho. Este é, todavia, como insistentemente sublinhamos justamente nessas considerações, um processo entre ser humano e natureza, a base ontológica do metabolismo entre ser humano e natureza. Essa qualidade da finalidade, do objeto, dos meios determina também a essência do comportamento subjetivo. E, de fato, que, mesmo visto a partir do sujeito, um trabalho apenas pode ser exitoso com base na mais intensa objetividade, que, por isso, a subjetividade, nesse processo, tem de desempenhar um papel produtivo auxiliar. Naturalmente, as qualidades do sujeito (poder de observação, destreza, diligência, perseverança etc.) influenciam o decurso do processo de trabalho, extensiva bem como intensivamente, em medida decisiva. Todavia, todas as capacidades do ser humano que chegam à mobilização são sempre, essencialmente, dirigidas ao exterior, ao domínio fático, ao remoldar material dos objetos naturais pelo trabalho. Enquanto, o que é inevitável, o dever apela a determinados aspectos da interioridade do sujeito, suas demandas são postas de tal maneira que as transformações no interior do ser humano fornecem um veículo para o melhor domínio do metabolismo com a natureza. O autodomínio do ser humano que, de modo necessário, emerge por primeiro como efeito do dever no trabalho, o crescente domínio de sua visão sobre as próprias inclinações biológicas espontâneas etc., torna-se regulada e dirigida através da objetividade desse processo, este é fundado, todavia, por sua essência, na existência natural dos objetos, dos meios etc. do trabalho. Se se quer corretamente conceber o aspecto do dever que, no trabalho, tem um efeito sobre o sujeito, modificando-o, deve-se partir dessa objetividade como reguladora. Ela tem por consequência que, de fato, para o trabalho, em modo primário, o comportamentodaquele que trabalha decide a questão; o que tem lugar, enquanto isso, no próprio sujeito, não tem de exercer uma influência incondicional. Claro, já vimos, que o dever no trabalho promove e requer qualidades dos seres humanos, as quais, mais tarde, serão decisivas para as formas mais desenvolvidas da práxis; basta ser recordado o domínio dos afetos. Essas transformações do sujeito não são aqui dirigidas à sua totalidade enquanto pessoa, ao menos não imediatamente; elas podem funcionar no próprio trabalho excelentemente sem ter um efeito sobre o restante da vida do sujeito. Elas contêm importantes possibilidades nesse sentido, contudo, apenas possibilidades
Pág. 68: O reconhecimento dessa simultaneidade de identidade e não-identidade não é, contudo, suficiente para a plena compreensão da situação. Seria tão errado tentar, a partir do dever no processo de trabalho, deduzir suas formas mais complicadas, por exemplo, logicamente, quanto é falso o dualismo da contraposição na filosofia idealista. O dever no processo de trabalho contém, como vimos, já como tal, possibilidades de diferentes espécies, objetivas bem como subjetivas. Quais delas, e como, se tornam realidades sociais depende do respectivo desenvolvimento concreto da sociedade e, como igualmente sabemos, esse desenvolvimento deixa-se conceber adequadamente, em suas determinações concretas, apenas post festum
Com o problema do dever como categoria do ser social está inseparavelmente vinculado o do valor. Pois, tal como o dever como fator determinante da práxis no processo de trabalho apenas pode desempenhar esse papel especificamente determinante porque o obtido dessa maneira é pleno-de-valor para o ser humano, assim seria impossível o valor se tornar realidade em tal processo se não é capaz de pôr, nos seres humanos que trabalham, o dever de sua realização como princípio orientador da práxis.
A despeito dessa íntima conexidade que opera, à primeira vista, quase como uma identidade, o valor requer um tratamento à parte. Ambas as categorias pertencem tão intimamente uma à outra porque ambas são momentos de um mesmo complexo comum. E, já que o valor é influente prevalentemente na posição de finalidade e princípio de apreciação do produto realizado, enquanto o dever concerne mais o regulador do próprio processo, muito em ambos, enquanto categorias do ser social, tem de ser buscado diferentemente, o que naturalmente não supera sua conexidade, antes, ao contrário, a concretiza. Se partimos de que o valor caracteriza o produto final do respectivo trabalho como plenode-valor ou desprovido-de-valor, então emerge imediatamente a questão: é essa característica uma objetiva ou, meramente, uma subjetiva? É o valor uma propriedade objetiva de uma coisa cujo aspecto de valor o sujeito meramente reconhece — correta ou incorretamente — ou o valor surge justamente como resultado de tais atos valorativos?
VALOR DE USO E VALOR DE TROCA:
Pág 68-69: Torna-se valor de uso na medida em que é útil para a vida do ser humano.
(...) como Marx mostra, são possíveis casos-limites em que o valor de uso é existente sem ser produto do trabalho. »É esse o caso«, diz Marx, »quando sua utilidade para o homem não é mediada pelo trabalho. Assim o ar, o sole virgem, os gramados naturais, as matas não cultivadas etc.«b
(...) E, podemos enxergar no valor de uso uma forma de objetividade objetivamente social. Sua socialidade é fundada no trabalho: a esmagadora maioria dos valores de uso emerge, através do trabalho, pela transformação dos objetos, das circunstâncias, da operatividade etc. dos objetos naturais, e esse processo se desdobra como afastamento da barreira natural, com o desenvolvimento do trabalho, com a sua sempre maior socialidade, tanto em extensão quanto em profundidade. (Hoje mesmo o ar, pelo surgimento de hotéis, sanatórios etc., tem um valor de troca.)
Características do valor de uso:
Pág. 69: é, enquanto objetivação do metabolismo da sociedade com a natureza, uma característica de todas as formações sociais, de todos os sistemas econômicos, que ele — considerado em sua generalidade — não está submetido a nenhuma transformação histórica;
Sua utilidade é objetiva. Ou seja: Pág. 70 De todo à parte de que no desenvolvimento da socialidade do trabalho sempre aumenta o número daqueles valores de uso que apenas mediados servem à imediata satisfação de necessidade — não se esqueça nunca de que, quando, por exemplo, um capitalista compra uma máquina, quer adquirir seu valor de uso —, a utilidade que faz de um objeto um valor de uso mesmo no início do trabalho é constatável com extensa acuracidade. Que essa utilidade tem um caráter teleológico, utilidade para um propósito concreto determinado, não supera essa objetividade.
Como surge?
Pág. 71: O valor de uso surge, portanto, não como simples resultante de atos subjetivos, avaliativos; antes estes fazem meramente consciente a utilidade objetiva do valor de uso; sua correção ou erroneidade prova-se na qualidade objetiva do valor de uso, não o inverso.
Pág. 72: Como teorias idealistas tratam o valor de uso: o que importa é negar a unitariedade última do valor como fator real do ser social, apesar de suas qualitativas, altamente importantes, transformações de estrutura no curso do desenvolvimento da sociedade. (faz esse movimento analisando desde as concepções de Agostinho sobre bem e mal às concepções subjetivas que ancoram as generalizações iluministas, como a concepção Hobbesiana de bem e mal).
Pág. 72: Só o método materialista é capaz de lidar com o valor de uso de modo correto, uma vez que: Pois apenas nele é possível esclarecer que, na gênese ontológica de uma nova espécie de ser, suas categorias decisivas já estão contidas — e é por isso que seu surgimento significa um salto no desenvolvimento —, que elas, contudo, inicialmente apenas são existentes em si e que o desdobramento do em-si ao para-si deve ser sempre um processo histórico longo, desigual e pleno de contradição.
O Iluminismo errou quando — com frequência, sofisticamente, com frequência, dito favoravelmente, com suor em seu rosto — se esforçou por derivar, por exemplo, as virtudes mais elevadas da mera utilidade. Isso é impossível, de modo direto. Isso não significa, todavia, que o princípio dialético da conservação não desempenharia nisso nenhum papel. Hegel, que, como vimos, com frequência caiu vítima de preconceitos idealistas, já na »Fenomenologia do Espírito« fez a tentativa de tornar as contradições objetivamente existentes do Iluminismo na questão da utilidade, como valor fundamental, na base da teoria da contradição consciente da própria dialética.
Pág 73 Devemos, portanto, na gênese ontológica do valor, partir de que no trabalho enquanto produção de valores de uso (bens) a alternativa de útil ou inútil para a satisfação de necessidade é posta, enquanto problema da utilidade, como elemento ativo do ser social.
P. 74 Tomemos em sua forma a mais geral o que Marx denomina a »metamorfose das mercadorias«, a simples compra e venda das mercadorias. Para que, com isso, se torne em geral possível o intercâmbio de mercadorias a partir da base do valor de troca e do dinheiro, deve ser existente na sociedade uma divisão do trabalho.
Contudo, diz Marx: »A divisão social do trabalho torna tão unilateral seu trabalho [o do proprietário das mercadorias, G.L.] quanto multilaterais suas necessidades«. Essa consequência elementar e contraditória da divisão do trabalho cria uma situação em que os atos conexos de compra e venda, na prática se dissociam, tornam-se reciprocamente independentes, casuais um frente ao outro, »ninguém precisa comprar imediatamente apenas por ter vendido«, diz Marx. Vê-se, portanto: »Que os processos, que se confrontam autonomamente, formem uma unidade interna significa por outro lado que a sua unidade interna se expressa em oposições externas«. E Marx aponta nesta passagem que, nesta forma, está contida »a possibilidade, mas apenas a possibilidade, de crises.«a . (Sua realidade requer, certamente, condições que não podem ainda existir ao nível da circulação simples de mercadorias.)
Já a menção a esses poucos, todavia importantes, momentos, mostra o quanto o processo econômico real, que se torna sempre mais social, é mais complicado do que o trabalho simples, a produção imediata de valores de uso. Isto, todavia, de modo algum exclui a objetividade dos valores que aqui surgem. Mesmo a economia a mais complicada é uma resultante das posições teleológicas singulares, de suas realizações, ambas na forma de alternativas. Naturalmente, o movimento como um todo daquelas cadeias causais que elas engendram resulta, através de suas interações imediatas e mediadas, em um movimento social cujas determinações últimas se sintetizam em uma totalidade processual. Esta, contudo, para os sujeitos econômicos singulares que põem e decidem alternativamente, de um certo patamar não é mais tão imediatamente apreensível que suas decisões possam orientar-se ao valor com plena segurança, como era o caso trabalho simples, criador de valores de uso. Os seres humanos, na maior parte dos casos, nem sequer podem seguir corretamente as consequências de suas próprias decisões. Como poderiam, portanto, suas posições de valor constituir o valor econômico? O próprio valor, todavia, está ali objetivamente e justamente sua objetividade determina — mesmo se, objetivamente, não com certeza adequada, subjetivamente, não com conscienciosidade adequada — também as teleologia singulares, a partir das posições orientadas a partir do valor
P. 75 a divisão do trabalho, mediada e posta em andamento pelo valor de troca, produz o princípio do domínio do tempo pelo seu melhor aproveitamento interno.
Contudo, economia de tempo significa, ao mesmo tempo, uma relação de valor. Já o trabalho simples, apenas dirigido ao valor de uso, era um subjugar da natureza pelo ser humano, para o ser humano, tanto na conversão daquela segundo suas necessidades, quanto no alcançar do domínio sobre seus próprios instintos e afetos meramente naturais e, desse modo medeia a formação inicial das capacidades especificamente humanas. O objetivo ser-dirigido da lei econômica à poupança de tempo impõe imediatamente a correspondente ótima divisão do trabalho na sociedade, conduz, portanto, ao surgir correspondente a cada ser social de níveis ascendentes de sempre mais pura socialidade. Este movimento é, portanto, objetivamente, independentemente de como o apreendem os seus participantes, um passo para a realização de categorias sociais, a partir de seus ser-em-si inicial, em um para-si sempre mais ricamente determinado, sempre mais efetivo. A corporificação deste ser-para-si da socialidade desdobrada, que alcançou a si, é, contudo, o próprio ser humano.
Faz uma defesa de Hegel referente as criticas de marx
P. 78 Formação do valor de troca: Surge com isso um duplo movimento contraditório: por um lado, o caráter de utilidade do valor experimenta uma intensificação para o (ins) universal, para (ins) o domínio da vida humana como um todo, e isto simultaneamente com um tornar-se-sempre-mais-abstrato da utilidade, na medida em que o sempre mediado, elevado à generalidade, em si contraditório, valor de troca assume o papel dirigente das trocas sociais dos seres humanos entre si. Com isto, contudo, não pode ser esquecido que o tornar-se válido do valor de troca sempre pressupõe seu basear-se no valor de uso. O novo, portanto, é um desdobramento contraditório, dialético das determinações originárias já existentes na gênese, jamais sua simples negação abstrata. Por outro lado, esse próprio desenvolvimento que conduziu à criação de formações realmente sociais como o capitalismo e o socialismo em si mesmo é altamente contraditório em um modo significativo e frutífero: a socialidade desdobrada da produção cria um sistema econômico imanente, posto sobre si mesmo, fechado em si, no qual uma práxis real apenas é possível com base no ser-dirigido à posição de finalidade e investigações dos meios imanentemente econômicos. O surgimento do termo homo economicus não é, de modo algum, um acaso nem simples equívoco; expressa plástica e adequadamente o comportamento imediatamente necessário do ser humano em um mundo da produção tornada social. Contudo, apenas o comportamento imediato.
Valor de Troca: Pág. 79 - Vimos que o valor se conecta inseparavelmente com o caráter de alternativa da práxis social. A natureza não conhece nenhum valor, apenas conexões causais e, através delas, transformações, alteridades das coisas, complexos etc. O papel efetivo do valor na realidade é limitado, por isso, ao ser social
É claro, por um lado, que determinados tipos e regulamentações da práxis social que, no curso da história se desenvolveram para sua independência, que suas essências são meras formas de mediação e originalmente emergiram, mesmo enquanto tais, para melhor regular a reprodução social; pense-se na esfera do Direito no sentido mais amplo da palavra.
Vimos, contudo, que essa função mediadora, mesmo para preencher otimamente sua tarefa, deve preservar uma independência para com a economia, uma condição heterogeneamente estruturada ante esta.a Aqui novamente torna-se visível que tanto a fetichização idealista, que deseja fazer da esfera do Direito algo posto inteiramente em si mesmo, quanto o materialismo vulgar, que deseja deduzir mecanicamente este complexo da estrutura econômica, têm de passar ao largo dos verdadeiros problemas. É precisamente a dependência objetivamente social da esfera do Direito para com a economia, combinada com a sua heterogeneidade produzida ante ela que, em sua simultaneidade dialética, determina a peculiaridade e a objetividade social do valor
Não há nenhum problema humano que não seja, por último, desencadeado e profundamente determinado pela práxis real da vida social.
Pág. 82: A legalidade imanente da economia produz não apenas esses antagonismos entre a essência objetiva de seu processo e suas respectivas formas fenomênicas na vida humana, mas ainda faz dos antagonismos um dos fundamentos ontológicos do próprio desenvolvimento como um todo, à medida que, por exemplo, que o comunismo primitivo é substituído pela sociedade de classes com necessidade econômica e, com isso, o pertencimento de classe e envolvimento na luta de classe determinam profundamente as decisões de vida de cada membro da sociedade
CONCLUSAO
Pág 83: O ser do ser social se preserva enquanto substância no processo de reprodução; este é, contudo, complexo e síntese de atos teleológicos que, de fato, são inseparáveis da aceitação ou rejeição de um valor. Assim, em toda posição prática é intencionado — positivo ou negativamente -— um valor, o que poderia levantar a aparência de que os valores enquanto tais seriam apenas sínteses sociais de tais atos. Nisto, apenas é correto que seria impossível aos valores obter uma relevância ontológica na sociedade se não tivessem de se tornar objetos de tais posições. Essa condição da realização do valor não é, contudo, simplesmente idêntica à gênese ontológica do valor. A autêntica fonte desta gênese é, antes, a incessante mudança estrutural do próprio ser social da qual brotam imediatamente as posições que realizam valor. É, como vimos, uma verdade fundamental da concepção marxiana, Os próprios seres humanos respondem — mais ou menos conscientes, mais ou menos corretamente — àquelas alternativas concretas que as respectivas possibilidades do desenvolvimento social se lhes põem. Nisto já está, contudo, implicitamente contido o valor. Que, por exemplo, odomínio do ser humano sobre seus afetos como resultado do trabalho é um valor, não está sujeito a qualquer dúvida, contudo já está contido no próprio trabalho e pode tornar-se socialmente operante sem obter incondicional e imediatamente uma forma consciente e sem trazer à valorosidade seu caráter de valor no ser humano que trabalha. É um momento do ser social e é, por isso, realmente existente e operante mesmo quando não é, ou apenas é incompletamente, consciente
2. É característico para o estado de fato ontológico aqui em apreço que essa indispensável realização na práxis humana para a realidade última dos valores permaneça inseparavelmente ligada ao próprio valor. É o valor que imprime em sua realização suas determinações, não o inverso.
3. O componente orgânico é o valor em sua objetividade histórica.
3.1 A objetividade dos valores se baseia, portanto, em que eles são componentes moventes e movidos do desenvolvimento social como um todo (aqui responde as criticas que o compara com Weber).
4. Há valores sociais que necessitam de um aparato institucional, que certamente pode adotar formas altamente diversificadas, para afirmar-se socialmente (Direito, Estado, religião etc.) e há casos nos quais as objetivações do reflexo da realidade se tornam portadoras de valores, se tornam desencadeadoras de posições de valor etc. As diferenças, as estruturas heterogêneas que provocam as diretas opositividades, seria aqui impossível mesmo que apenas indicar, pois elas se expressam adequadamente nas inter-relações e nas interações sociais concretas de todos os valores entre si e, portanto, são compreensíveis apenas em uma exposição realmente sintética dirigida à totalidade da práxis social e, com isso, ao ser social.
Comentários:
COMENTÁRIO: Foi neste capitulo que entendeu Lucaks, uma vez que este capítulo é a síntese do que o autor entende por ética.
Parte de um trabalho muito “originário” como aquele que já contem todas as contradições. Há sensação de que o que pretende é criar uma base teórica para explicar o comportamento subjetivo humano, com fundamento na teoria do valor, mas projetando essa relação do valor nessa relação originária. Tentar projetar a categoria do valor de uso na relação originária do trabalho é inverter a própria proposta; apenas tenta uma teoria ética com base no valor;
COMENTÁRIO: tenta provar que há um valor de uso sem a oposição com o valor de troca. Naturaliza formas sociais como transhistóricas. Torna ainda mais essencial a subjetividade humana.
COMENTÁRIO: Dúvida sobre a metáfora da abelha usada pelo Lucaks p justificar o valor de uso como transhistórico.
COMENTÁRIO: acredita que Lukacs usou errado, pois marx diferencia utilidade de valor de uso (leitura de trecho do volume 1 do capital, cap. 5) – relação de utilidade, que tem a ver com as necessidades que a complexificações das relações passa da biológica para social. Produção para troca é só no capitalismo. Lucaks tenta resgatar em todos os tipos de trabalho, o valor de uso. Isso é um equivoco, uma vez que naturaliza formas sociais capitalistas
COMENTÁRIO: Acredita que o Lucaks fala que em dado momento surge o valor de troca e, como projeto de ética, pode ser possível recuperar o valor de uso sem o valor de troca.
COMENTÁRIO: A interpretação do valor de uso do Lucaks não é descartável, a interpretação do valor de uso como ahistórico, no sentido de utilidade, tem um sentido e não é completamente descabida. Acredita como é uma interpretação possível.
COMENTÁRIO: Não vê muita diferença entre utilidade e valor de uso. Só é possível pensar o valor de uso a partir da utilidade, no entanto, a utilidade é mediada pelo trabalho. É relacional ao conceito de utilidade. O valor de uso é a constituição do conteúdo riqueza material qualquer que seja a forma social. O desenvolvimento do ser social é possível na produção do trabalho que produz o conteúdo do material da riqueza social e, tal conteúdo se altera – logo, o valor de uso também se altera. Apesar de existir em todas as formas sociais. Não seria possível falar em valor de troca sem valor de uso. Há um processo relacional entre valor de uso e valor de troca.
COMENTÁRIO: Fica pensando se o Marx não trata assim por estar analisando a partir do modo de produção capitalista.
COMENTÁRIO: Utilidade vs valor de uso – terminologia muito especifica que o Marx dialoga para a época. Isso ele está ligado ao fato que o Marx pretende responder ao utilitarismo. Expressão linguística do debate de Marx. E, concorda com o Mário.
COMENTÁRIO: Valor pode ser pensado como a propriedade social de trocar as coisas por dinheiro. Sem compreensão do valor é impossível alcançar o conceito de mais valia.
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