RELATÓRIO - Reunião 24/06/2021 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 492-500)
Relatório – Reunião 24/06/2021
Para uma ontologia do ser social (p. 492-500)
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
Logo no começo “com isso chegamos” ele já traz que está chegando na exposição de um dos pontos mais importantes que ele vê como contraditoriedade na ontologia hegeliana, que é o lugar ocupado pela natureza em todo o método de análise da lógica e da ontologia hegeliana
E isso, logicamente, tem relação com a visão de religião dos pensadores da época, partindo de um período intermediário do desenvolvimento do panteísmo, que, a partir do Renascimento tende a destruir a ideia de origem do ser e atividade humana explicadas pela transcendência religiosa, ou seja, desaparece da ontologia o Deus transcendente. Mas, ainda assim, a concepção de mundo ainda fica muito presa a uma semireligiosidade, que se traduz no “deus sive natura”.
Essa nova visão, uma visão de transição desse novo panteísmo, implica numa nova relação do homem com a natureza, e essa é “a grande tentativa do humanismo de descobrir uma morada humana em um cosmos estranho aos seres humanos, de se reconciliar com essa qualidade humanamente estranha no mundo natural.”
O Hegel, no entanto, nunca acreditou ser panteísta, e o próprio Lukács considera que a forma com que ele coloca a natureza ontologicamente alienada do sujeito é incompatível com o panteísmo e implica que a filosofia da natureza de Hegel se aproxima mais de um materialismo epicuriano.
Hegel descreve que a essência de seu sistema é de que a verdade não está numa substância, mas no sujeito, e é aí que estaria a possibilidade da ultrapassagem da alienação com relação à natureza. Mas como essa possibilidade passa pela consciência-de-si, a natureza ainda ficaria inexoravelmente alienada, indicando um espiritualismo em Hegel.
Dessa natureza alienada do sujeito que funcionaria unicamente a partir de categorias lógicas, brota também uma ontologia fundada principalmente na lógica, mas em uma nova lógica, a dialética, ao mesmo tempo que essa nova lógica dialética incorpora relações ontológicas inadmissíveis (para Lukács).
E aí ele avança pra dizer que a grande questão sobre o lugar que a natureza ocupa na ontologia não tem só a ver com a representação do espaço tempo, mas se o aqui e o agora pertencem essencialmente à existência. A lógica formal pode negar o aqui e o agora, desviando-se do ontologicamente real, mas a realidade não admite a existência sem o aqui e o agora. E o Hegel não chega nessa conclusão, porque pra ele o espaço e o tempo só complementam a lógica, gerando mais uma contradição da ontologia hegeliana.
Ou seja, surgem antinomias na lógica ontológica de Hegel, porque ele desfigura sua ontologia ao tentar encaixa-la nas formas lógicas existentes.
E a primeira antinomia importante é a do papel da negação na realização da dinâmica de movimento da dialética. Para Hegel, a negação e a negação da negação são o movimento fundamental da dialética, e, pra ele, isso também seria aplicado à ontologia.
O problema disso, segundo Lukács, é que a negação apenas é capaz de expressar a diferenciação de um modo extremamente incompleto e indeterminado. A planta, ao germinar, nega a semente, mas a simples negação da semente não determina a planta, posto que existe a possibilidade de não germinar, ou a própria morte.
E, no caso da ontologia, no caso do ser social, isso é ainda pior.
Nesse caso, a subsunção de tais fenômenos sob o termo lógico “negação” apenas confundiria, ao invés de esclarecer as conexões. Para Lukács, é inadmissível trabalhar apenas com a categoria da negação.
A lógica hegeliana, com a generalização da negação, obscureceria a especificidade do ser social, impossibilitando uma ontologia completa. Para Lukács, toda atividade humano-social emerge necessariamente de alternativas, e pressupõe uma escolha, uma decisão entre elas, algo que, na lógica ontológica de Hegel, fica obscuro demais.
Debates em reunião:
Trecho que Lukács identifica algo positivo no Hegel, em não ser panteísta, tirando do centro a natureza
Lukács está recuperando o percurso da história da ciência e filosofia a partir da ontologia, quando ela se aproxima da natureza ou quando se aproxima da religião.
Dificuldade na ontologia de Hegel, que por mais que se pretenda objetiva, ainda coloca o pensamento como central na realidade, a consciência ainda determina a realidade.
Hegel precisa criar uma lógica para essa ontologia.
Hegel foi tão longe com a objetividade que a própria objetividade é a consciência alienada, aparece um espiritualismo.
A ontologia de Hegel é carregada de categorias lógicas: "por outo lado, que ele, na medida em que sua nova ontologia expressa-se nessa nova lógica, tanto sobrecarrega as categorias lógicas com conteúdo ontológico, em suas relações são incorporadas de modo inadmissível relações ontológicas, quanto, ao mesmo tempo, em muitos casos deforma os novos, mais importantes, conhecimentos ontológicos pelo seu constrangimento a formas lógicas."
A lógica vira uma formalidade na explicação dos conceitos na história. Marx dá o passo seguinte ao explicar os conceitos dentro do movimento da história.
A aproximação da ontologia com a gnosiologia
A negação como termo lógico para explicar os processos reais é insuficiente.
A lógica gnosiológica criada por Hegel para explicar a ontologia facilita? acesso o ser e o conhecimento do ser devem ser considerados conjuntamente?
O conhecer e o ser caminham juntos. É importante o conhecimento e a negação. Mas tentar explicar demais, colocar o rigor lógico acima da ontologia, cria uma formalidade positivista, dá errado.
Onde paramos: página 500 "Isso não acontece por acaso..."
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