Reunião 31/08/2022 - Para uma ontologia do ser social, Georg Lukács (p. 203 a 249)
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Notas sobre o texto – Reunião 30/08/2022
Para uma ontologia do ser social (p. 203 a 249)
TEXTO: LUKÁCS, Georg. Prolegômenos e Para uma ontologia do ser social: obras de Georg Lukács. volume 13. Tradução Sérgio Lessa. Revisão Mariana Andrade. Maceió: Coletivo Veredas, 2018.
P. 203 A 227 – PROBLEMAS DA PRIORIDADE ONTOLÓGICA
1) Lembrando que estamos na parte II do Tomo II, que trata dos complexos de problemas mais importantes para a análise a partir da perspectiva da ontologia.
2) Depois de falar do trabalho como um destes “complexos de problemas mais importantes”, o autor começa a falar da
reprodução, havendo, neste item, passado pelos problemas gerais da reprodução e falado do complexo de complexos.
3) Neste momento irá discorrer sobre os problemas de prioridade ontológico e depois a respeito da reprodução do ser humano na sociedade.
4) Vejamos os problemas de prioridade ontológico:
5) Primeiro, fala da dificuldade de se pensar o complexo de complexos na totalidade.
6) Depois, discorre a respeito da passagem ontológica como um dos momentos mais importantes para entender o processo ontológico.
7) Fala que, uma vez realizada a passagem na perspectiva biológica, no caso do ser social isso ainda é mais complexo, dizendo do papel do trabalho neste processo. A passagem ontológica a partir do trabalho seria um dos elementos de prioridade ontológica.
8) Discorre sobre a segunda natureza, sugerindo o papel do trabalho nesta segunda natureza também como um problema relativo a esta prioridade ontológica.
9) Destaca que quanto mais, no processo, há superação da questão da natureza, mais difícil fica de se colocar, quando já nos encontramos na investigação do ser social, a prioridade ontológica da esfera econômica. Neste caso, é muito comum a utilização de um materialismo vulgar (por exemplo, o ser humano é o que come). Há uma redução da questão ontológica na perspectiva materialista-econômica em investigações circunscritas a tais ilações materialista vulgares. Isto somente piora quando se colocam investigações de natureza psicológica (portanto, ligadas à vontade individual) para a explicação ontológica a partir da explicação econômica e materialista vulgar.
10) Menciona a contradição violência-economia. A questão da guerra. Salário, divisão social do trabalho e exército. A
questão do fetiche da técnica. Técnica, divisão social do trabalho e capitalismo (trata-se de um ponto de inflexão na
transformação ontológica boa para explicar o início da investigação feito neste item. Há uma explicação, a partir das
técnicas nos modos de produção, para, considerada a centralidade do trabalho, mostrar a passagem ontológica como
dado fundamental para os problemas de natureza ontológica).
DEBATE ATÉ A P. 213
11) Depois passa a situar a questão do problema da prioridade ontológica da teleologia (p. 215).
12) Reprodução – a questão da maior complexidade da divisão social do trabalho como prioridade ontológica na
perspectiva teleológica.
13) Violência mesmo no estado de direito consumado (p. 217).
14) Desenvolvimento e formas de mais-trabalho – a questão da não-apropriação do mais-trabalho no socialismo.
15) Unidade do processo histórico enquanto continuidade ontológica (p. 220, primeiro parágrafo).
16) Independência relativa dos complexos singulares. A questão de seu papel nos processos históricos específicos e a continuidade ontológica (um pouco do debate do desigual e combinado).
17) Interessante que, para explicar a sua questão da prioridade ontológica dos complexos, utiliza-se muito do método, com o recurso a exemplos da história (é o momento de maior percepção do método na obra, no meu sentir).
18) A síntese: “O fenômeno originário da economia, o trabalho, já é – ontologicamente considerado – uma
interseção das inter-relações entre as legalidades da natureza e aquelas da sociedade” (p. 224).
19) “É sem mais evidente que esse caráter ontológico não vale apenas para a esfera econômica em sentido estrito, mas para todos os complexos dos quais se compõe a totalidade da sociedade; quanto mais são mediadas as relações” (p.225).
P. 227 A 249 – A REPRODUÇÃO DO SER HUMANO NA SOCIEDADE
1) Centro da investigação: “o ser humano como simples objeto da legalidade econômica (após o modelo da física) falsifica o estado de fato tal como a suposição de quais determinações essenciais do seu ser-humano poderiam, por último, ter raízes ontológicas independentes da existência da sociedade, de tal sorte que, em dados casos, se teria de investigar a inter-relação entre duas entidades ontológicas independentes (individualidade e sociedade)” (p. 228).
2) Isso é, a ontologia do ser humano na singularidade e a ontologia na perspectiva da sociedade.
3) Problema desconhecido da filosofia antiga.
4) Esta dualidade do homem e do cidadão seria um problema típico do capitalismo a partir da revolução francesa.
5) Trata-se da questão da emancipação política pensada por Marx em “A questão judaica” – A questão da separação estado e sociedade civil e do indivíduo neste processo.
6) O homem egoísta dos direitos humanos como exemplo da questão ontológica decorrente da dicotômica relação entre o indivíduo e o cidadão.
7) “Na »Ideologia Alemã«, Marx mostra acerca disto um interessante exemplo de como este dualismo, que ancora com
razão todo o egoísta na esfera de ser do bourgeois e expulsa todo juízo de valor à região das nuvens da cidadania, tem efeito sobre o comportamento do burguês médio” (p. 231).
8) A dicotomia Kantiana de que individualmente não se atinge o imperativo categórico, embora se deseje que todos o
observem.
9) Ontologicamente, haveria o “átomo humano” que, por sua vez, seria pensado a partir de um ente que junta estes “átomos”, o estado. O homem individualmente considerado e o homem socialmente considerado como um dilema de natureza ontológica.
10) O problema ontológico de nossos atos concretos no interior de uma sociedade também concreta. A vontade dirigida para um fim como elemento componente desta dupla (e única) natureza ontológica. Aqui estaria o componente teleológico da nossa ontologia (individual e socialmente). O ser humano como resultado de sua práxis (algo que já aparecia em HCC para a prática revolucionária aqui é deslocado para o plano ontológico). Este efeito causal dirigido a uma finalidade, a partir do trabalho, independe dos seres humanos, que são postos diante de dadas determinações históricas independentemente de sua escolha. No entanto, nem o processo de trabalho e nem seus produtos podem ser realizar sem que a escolha de certas possibilidades provoque o alijamento de outras, a sua negação. Há uma espécie de compromisso com a continuidade teológica do trabalho, que se prolonga no tempo em vista das diferentes
opções com base na sua teleologia. Há alterações de caráter qualitativo no decorrer do processo no tempo, mas sem alterar o dado ontológico que é o trabalho e sua dimensão teleológica (VER PARTE GRIFADA NA P. 236).
11) A inovação marxista é a descoberta da precedência da práxis na vida humana como a sua base ontológica (p. 237). Aqui está a se falar da precedência do trabalho como fundamento da práxis.
12) Em síntese: “A consciência que executa a posição teleológica é a de um real ser social que, enquanto tal, do mesmo modo e ao mesmo tempo necessário e inseparável, deve ser um ser vivo em sentido biológico; uma consciência cujos conteúdos, cuja capacidade de corretamente apreender objetos e suas conexões, de generalizar suas experiências e aplicá-las na práxis, está necessariamente ligada inseparavelmente com o ser humano sociobiológico do qual é a consciência”. (p. 238).
A consciência pela práxis do trabalho se concretiza no tempo e espaço, sendo individual e ao mesmo tempo social. VER CITAÇÃO DESTACADA DA P. 239 (NO INÍCIO DA PÁGINA EM CONTINUAÇÃO AO PARÁGRAFO INICIADO NA PÁGINA ANTERIOR).
13) A posição teleológica somente pode ser executada pelo sujeito humano “de modo necessário à continuidade da consciência, que assim emerge está centrada no eu de cada ser humano”, o que significa uma “virada qualitativa da relação da vida e da consciência” (p. 239, grifada)
14) O papel da consciência na relação todo e parte para fins de gênero vem destacada na seguinte parte (o momento de diferenciação com os demais seres): “A necessidade acima indicada de que a consciência humana, na práxis social, através dela, forme em si não apenas uma continuidade mais elevada, conscientemente retida, mas também que a centre incessantemente no portador material, psicofísico desta consciência, tem ontologicamente por consequência que o ser-em-si do singular no exemplar do gênero se desenvolve em direção a um ser-para-si, que o ser humano, tendencialmente, se transforme em uma individualidade” (p. 240, grifada) – A saga continua da consciência a partir da práxis, pelo trabalho, tem, após, o seu percurso descortinado.
Observação: Hegel com um esmalte de materialidade na práxis pelo trabalho como algo que distingue, ontologicamente, o ser humano dos demais seres orgânicos. O ser orgânico como uma continuidade descontínua do ser social.
15) Fala sobre a educação e da religião neste processo ontogenético dos seres humanos.
16) CONCLUSÃO DO ITEM - Discorre a respeito de cada exemplar único de ser humano na perspectiva ontológica, situando a sua posição também na perspectiva social. Um exemplar e todos os exemplares dos seres sociais é um debate constante deste item que versa exatamente sobre “a reprodução do ser humano na sociedade”. Isto é, cada ser humano é um exemplar e ao mesmo tempo está no seio de uma sociedade cheia de exemplares únicos e esta relação é a chave, a partir da ontologia do ser social, para entender a reprodução do ser humano na sociedade. O fato que faz com que todos os exemplares não sejam apenas únicos, mas passem a constar de um todo é a união, indissolúvel no tempo e espaço, alcançada por uma unidade na práxis, no percurso da História, do trabalho conscientemente dirigida para um determinado fim, que representaria, em última análise, a própria saga da consciência humana. Cada ser humano percorre individualmente este processo e, ao fazê-lo, promove a possibilidade da reprodução do ser social no bojo de uma sociedade. ISSO É, ENFIM, O QUE SE DEVE ENTENDER POR ONTOLOGIA DO SER SOCIAL. Tudo isso pode ser sintetizado na seguinte frase: “o singular torna-se através da consciência de sua práxis membro (não mais simples exemplar) do gênero que, contudo, no início é posto imediatamente e como plenamente idêntico com a
comunidade existente no momento” (final da p. 245).
17) Termina o item com a seguinte frase: “Apesar de todas as desigualdades e contradições, o desenvolvimento social
paralelamente conduz, em medida histórico-mundial, ao surgimento do para si de individualidades existentes nos seres humanos singulares e à constituição de uma humanidade que é, ela própria, consciente enquanto gênero humano em sua práxis” (p. 249).
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